Deus mostrou intelectualmente seu propósito eterno em sua palavra, a fim de lembrar os eleitos que sua salvação não é uma idéia nova. Nossa salvação foi premeditada por Deus. Por conseguinte, Deus colocou diante de nós não somente o que ele propôs eternamente, mas o que ele faz de fato no tempo. O propósito de Deus não é o mesmo que sua execução da coisa proposta. Por exemplo, o propósito de Deus de criar não é o mesmo que a criação em si. Além disso, seu propósito de salvar certas pessoas não é o mesmo que a própria salvação. Nossa criação e salvação não coexistem com o propósito de Deus, mas seu propósito coexiste com elas. Tem-se feito a seguinte pergunta: Por que Deus esperou tanto para criar? Deus não esperou! Espera implica tempo, e não existe tempo na eternidade.
Entre as referências às coisas que são desde a eternidade está a salvação dos eleitos:
(1) A glória do Filho estava com o Pai – “E agora, Pai, glorifica-me junto a ti, com a glória que eu tinha contigo antes que o mundo existisse” (João 17:5).
(2) O amor do Pai pelo Filho – “Pai, quero que os que me deste estejam comigo onde eu estou e vejam a minha glória, a glória que me deste porque me amaste antes da criação do mundo” (João 17:24).
(3) O propósito de Deus de salvar homens pecadores pela graça antes do mundo começar – “Que nos salvou e nos chamou com uma santa vocação, não em virtude das nossas obras, mas por causa da sua própria determinação e graça. Esta graça nos foi dada em Cristo Jesus desde os tempos eternos” (2Tm. 1:9).
(4) A sabedoria que concebeu o plano de salvar homens pecadores foi ordenada antes do mundo começar – “Ao contrário, falamos da sabedoria de Deus, do mistério que estava oculto, o qual Deus preordenou, antes do princípio das eras, para a nossa glória” (1Co. 2:7).
(5) A promessa de vida eterna foi feita por Deus antes do mundo começar – “Fé e conhecimento que se fundamentam na esperança da vida eterna, a qual o Deus que não mente prometeu antes dos tempos eternos” (Tito 1:2).
(6) O Cordeiro foi morto no propósito de Deus antes da fundação do mundo – “Conhecido antes da criação do mundo, revelado nestes últimos tempos em favor de vocês” (1Pe. 1:20). “Todos os habitantes da terra adorarão a besta, a saber, todos aqueles que não tiveram seus nomes escritos no livro da vida do Cordeiro que foi morto desde a criação do mundo” (Ap. 13:8).
(7) A eleição de alguns para a salvação foi feita antes da fundação do mundo – “Porque Deus nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis em sua presença” (Ef. 1:4).
Deus tem apenas um propósito, mas este tem muitas partes. A eternidade do propósito de Deus significa que todas suas partes possuem apenas uma intenção: se Deus “resolveu alguma coisa, quem o pode dissuadir? O que ele deseja, isso fará” (Jó 23:13, AR).
O homem tem sucessão de pensamentos, mas Deus nunca tem um novo pensamento. O que ele pensa, ele é. Nada pode ser adicionado à mente de Deus. Contudo, existe sucessão na execução do propósito de Deus. Embora a sucessão esteja relacionada ao tempo e não à eternidade, isso não destrói a idéia da ordem do propósito de Deus. Não existe nenhuma sucessão no pensamento de Deus na eternidade, pois Deus é de uma só mente. Essa verdade não está além do entendimento do cristão com sua mente finita em certo grau.
Uma pessoa com uma mente criativa visualiza algo como um todo antes do desenvolvimento de suas partes. A capacidade de formar uma idéia de uma coisa como um todo antes dela ser executada, na ordem na qual sua intenção requer, não está além do alcance de uma mente finita. Deus o Pai, Deus o Filho, e Deus o Espírito Santo são eternos. Mas existe uma ordem natural na Deidade. Assim como existe ordem natural na Deidade, existe no plano de salvação de Deus.
A primeira referência onde a palavra prothesis é usada com relação ao plano de Deus para seus escolhidos está em Romanos 8:28 – “Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito”. Somos os filhos do propósito Divino. A segurança pertence a nós – “sabemos”. A palavra grega para “sabemos” aqui não é ginosko . É a palavra mais forte, a saber, oida . Isso pode ser ilustrado com a declaração do Senhor a Filipe e aos outros discípulos: “Se vocês realmente me conhecessem, conheceriam também o meu Pai. Já agora vocês o conhecem e o têm visto” (João 14:7). A palavra grega para “conhecessem” usada na primeira parte do versículo é um pretérito mais-que-perfeito de ginosko – “Se vocês tivessem definitivamente chegado a me conhecer”. Nosso Senhor está repreendendo-os, pois não o tinham escutado como deveriam; portanto, eles não sabiam tanto sobre ele como deveriam já saber. A segunda palavra grega traduzida como “conheceriam” é o pretérito mais que perfeito de oida – “teriam percebido”. Tivessem sido eles mais atentos a Cristo, teriam percepção dele e do seu Pai também. A última palavra grega traduzida como “conhecem” vem de ginosko . Os discípulos não tinham chegado realmente a conhecer Cristo como deveriam. Eles o amavam, mas naquele momento estavam começando conhecer o Pai. Em Romanos 8:28 ficamos sabendo que fomos chamados de acordo com o propósito de Deus. “Sabemos que Deus age em todas as coisas ara o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito. Pois aqueles que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, também chamou; aos que chamou, também justificou; aos que justificou, também glorificou” (Rm. 8:28-30). O propósito de Deus não é em razão do amor que está em nós, mas o amor está em nós em razão do propósito de Deus.
Existem outras referências onde a palavra prothesis é usada em relação ao plano de Deus para os seus escolhidos: “Todavia, antes que os gêmeos nascessem ou fizessem qualquer coisa boa ou má a fim de que o propósito de Deus conforme a eleição permanecesse, não por obras, mas por aquele que chama…” (Rm. 9:11-12). “Nele fomos também escolhidos, tendo sido predestinados conforme o plano daquele que faz todas as coisas segundo o propósito da sua vontade” (Ef. 1:11). “De acordo com o seu eterno plano que ele realizou em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Ef. 3:11). “Que nos salvou e nos chamou com uma santa vocação, não em virtude das nossas obras, mas por causa da sua própria determinação e graça. Esta graça nos foi dada em Cristo Jesus desde os tempos eternos” (2Tm. 1:9).
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