2. Tempo - a seqüencialização do ser
2.1 Ser do tempo
O que é o tempo? Seriam presente, passado e futuro divisões do tempo? Ou apenas ilusão psicológica?
Respostas a esta pergunta surgem de pensadores com Platão e Aristóteles. Porém Agostinho discorda destas teorias. Para ele o tempo não é a imagem móvel da eternidade, como afirmava Platão, nem a medida do movimento, como afirmava Aristóteles. Ao falar sobre este tema, declara que o tempo não é movimento dos corpos:
“Se alguém me disser que o tempo é o movimento do corpo, mandar-me-eis estar de acordo? Não mandareis. Ouço dizer que os corpos só se podem mover no tempo. Vós mesmos o afirmais. Mas não ouço dizer que o tempo é esse movimento dos corpos. Não o dizeis...Portanto, o tempo não é o movimento dos corpos.”
O tempo não é o movimento dos corpos, mas este se dá no tempo. A medida do tempo só pode ser compreendida como uma tematização da percepção do corpo que se movimentará. Minha percepção não pode entender o começo e o fim de uma extensão do tempo, mas só um pedaço dele. A extensão do tempo está relacionada à percepção do tempo que passa e do passar do corpo em movimento. Se determinarmos de onde e para onde há o movimento, então podemos dizer em quanto tempo o corpo se movimentou de um lugar para outro. O movimento de um corpo é diferente daquilo com que nós o medimos. O movimento não é o tempo, mas o tempo é aquilo com que nós medimos quão longo o movimento é, quando ele dura. Medimos a duração do tempo com uma medida que é tirada do próprio tempo.
Que o tempo não é movimento, pode ser demonstrado pelo fato de que também medimos o repouso de um corpo em sua duração.
O tempo não pode ser apenas uma sucessão de instantes separados, mas um contínuo, e como tal, indivisível. Para ser estudado não pode ser dividido em antes e depois, mas considerar sua síntese de continuidade. A característica do presente, de passar e de vir a ser, o distingue da eternidade. O tempo é um nunc transiens, isto é, um agora que passa. A eternidade é um presente que não passa, um nunc stans, um agora permanente.
" Na eternidade, ao contrário, nada passa, tudo é presente, ao passo que o tempo nunca é todo presente"...
Em sua Concepção o mundo é criação de Deus , tendo sido criado não antes e nem depois do tempo, mas com o tempo. Somos forçados a admitir que o tempo possui as mesmas limitações do mundo . Sendo o tempo o modo de ser característico da natureza finita - pois a duração de uma natureza finita, não pode ser toda simultaneamente, tendo por isso necessidade de fases sucessivas e contínuas para realizar-se completamente - segue-se que o mundo teve origem com o tempo e não na eternidade, devido à limitação imposta pela finitude do homem.
Em suas observações sobre o tempo, Agostinho declara que o tempo não existe fora de nós. Não existem fora de nós, nem passado e nem futuro. Deve-se concluir disso que passado e futuro não existem de modo algum? Se o passado não existisse a história não existiria; se não existisse o futuro, seria impossível qualquer previsão.
2.1.1 O Ser do passado e do futuro
Se tempo é a duração de um ser finito que não pode ser simultaneamente, e se este tempo é sentido pelo espírito do homem como um tempo passado, um tempo futuro e um tempo presente, permanece ainda a pergunta: haveria três tempos ou um só? Passado e futuro pertencem ao ser ou ao não ser? Pertencem-se ao não ser, o que faríamos com a história e com as previsões?
É necessário, por isso, dar do passado e do futuro uma explicação que salvaguarde a sua existência. Fora da mente não existe nem futuro e nem passado, e deve-se concluir, portanto que o futuro e o passado existem na mente, como o presente. Sendo assim, passado e presente não existem de fato.
A compreensão natural do tempo garante que passado e futuro são. Tal visão é respaldada a partir da interioridade que num primeiro momento nos dá a entender que o tempo existe em três dimensões. Porém, uma investigação filosófica sobre isso mostra que passado e futuro não são.
“...Se nada sobreviesse, não haveria tempo futuro, e se agora nada houvesse, não existiria o tempo presente. De que modos existem aqueles dois tempos - o passado e o futuro - se o passado ainda não existe e o futuro ainda não veio? Quanto ao presente, se fosse sempre presente e não passasse para o pretérito, já não seria tempo, mas eternidade.”
A existência do futuro e do passado só existe na mente do ser que vive o presente, pois o passado já não é, pois se fosse, não seria passado, mas presente. O futuro ainda não é, pois se fosse seria presente e não futuro. Passado e futuro não são.