2.1.2 O Ser do presente
O presente é salvo, pois para que ele seja tempo tem que passar sempre para o passado. Ele não é sempre passado, mas essencialmente sempre pendente para o passado. A razão de sua existência é de que ele não mais será, mas deixará de ser no instante em que se torna presente. O presente só pode ser mostrado como tempo porque tende para o não ser. O tempo em suas três dimensões é marcado pelo não ser. O que existe então? Só o momento presente? O passado e o futuro são não ser. Se pudéssemos conceber um espaço de tempo que não fosse suscetível de ser subdividido em mais partes, por mais pequeninas que fossem , só a esse tempo poderíamos chamar de presente. Mas este voa tão rapidamente que não tem nenhuma duração. Se durasse, seria dividido em passado e futuro.
Logo o tempo presente não tem nenhum espaço.
2.1.3 As dimensões do Tempo
Mas nem tudo está perdido, pois afirmar o não ser do passado e do futuro põe em risco a própria existência do tempo. O tempo é um ser de razão com fundamento na realidade. As fases fenomenológicas do tempo são: o Passado, o Presente e o Futuro. O passado é o tempo que não é mais; o futuro é o tempo que ainda não é; o presente é o tempo que é agora, mas que não será sempre. Desse modo o ser do tempo é poupado. A possibilidade do passado e do futuro deve-se à natureza daquelas coisas cujo presente é tal que não pode ser sempre presente. O seu presente passa. Se não passasse não haveria passado, se passando não se tornasse algo novo não haveria futuro. É esta a característica do presente, de passar e de vir a ser, que o distingue da eternidade.
Agostinho estuda o problema do tempo sob aspecto psicológico: como nós o aprendemos. Por isso, para ele o tempo não existe fora de nós, nem no passado e nem no futuro. Deve-se concluir disso que o passado e o futuro não existem de modo algum? Fora da mente não existe nem futuro nem passado. Deve-se concluir que o futuro e o passado existem na mente, como presente.
"Existem, pois, na minha mente esses três tempos que não vejo em outra parte: lembrança presente das coisas passadas, visão presente das coisas presentes e esperança presente das coisas futuras".
O ser do presente é um continuado deixar de ser, um tender continuamente a não - ser. O tempo existe no espírito do homem. O presente do passado, a memória, o presente do presente, a intuição, o presente do futuro, a espera. São os tempos do espírito humano.
Se o tempo presente corre para o passado, ele pode ser percebido e sentido. Mas quando estiver no passado não poderá mais ser sentido. Por isso, devemos afirmar que só o presente existe, mas a compreensão natural quer dar lugar ao passado e futuro.
O tempo é um ser na alma do homem, pois o passado é a lembrança presente das coisas passadas, e o futuro é a expectativa de ser presente na alma do homem. Na alma humana o passado e o futuro têm seu lugar. Vejamos:
2.1.4 A medida do tempo
O tempo, por ser na alma, apenas nela, na qual ele deixa uma impressão enquanto passa, pode ser medido.
" Em ti, ó meu espírito, meço os tempos ! Não queiras atormentar-me, pois assim é. Não te perturbes com os tumultos das tuas emoções. Em ti, repito, meço os tempos. Meço a impressão que as coisas gravam em ti à sua passagem, impressão que permanece, ainda depois de elas terem passado. Meço-o a ela enquanto é presente, e não àquelas são ser produzida. É a essa impressão ou percepção que eu meço, quando meço os tempos. Portanto, ou esta impressão é os tempos ou eu não meço os tempos".
Deus criou tudo no mundo desde o começo, ou seja, deu ao mundo, no início, todas as virtualidades que viriam desenvolvendo e atuando na história do universo. Essas virtualidades no momento da criação são as rationes seminales.
Sendo assim, para Agostinho o tempo é psicológico, uma percepção de sucessão contínua no campo da consciência com aspecto de localização e de anterioridade. É a impressão do antes e do depois que as coisas gravam no espírito, o sentimento de presença das imagens que se sucedem, sucederam ou hão de suceder, referidas a uma anterioridade.