II. Agora, em segundo lugar, devemos medir a grandeza da redenção pela SEVERIDADE DA JUSTIÇA DIVINA. "Deus é amor", sempre amando; mas, minha próxima proposição não contradirá de modo algum esta afirmação. Deus é severamente justo, inflexivelmente rigoroso em Seus relacionamentos com a humanidade. O Deus da Bíblia não é o Deus da imaginação de alguns homens, que tem tão em pouco o pecado, que o passa por alto sem demandar qualquer castigo por ele. Ele não é o Deus dos homens que imaginam que nossas transgressões são coisas tão pequenas, meros pecadilhos, que o Deus do Céu finge que não os vê, e tolera-os até morrerem esquecidos. Não; Jeová, o Deus de Israel, proclamou concernente a Si mesmo, "O Senhor teu Deus é Deus zeloso". É sua própria declaração: "que de maneira alguma terá por inocente o culpado". "A alma que pecar, esta morrerá". Aprendei, amigos meus, a considerar a Deus tão severo em Sua justiça como se nEle não houvesse amor, e tão amoroso como se nEle não houvesse severidade. Seu amor não diminui Sua justiça, nem Sua justiça, no mínimo grau, faz guerra ao Seu amor. As duas coisas estão docemente unidas na expiação de Cristo. Porém, notai que nunca poderemos compreender a plenitude da expiação, até que tenhamos primeiro captado a verdade escriturística da imensa justiça de Deus. Nunca houve uma má palavra dita, nem um mau pensamento concebido ou uma má ação cometida que Deus não tenha punido um ou outro. Ele quer uma satisfação de vocês, ou senão de Cristo. Se não tens expiação por meio de Cristo, você deverá pagar para sempre a divida que não pode pagar nunca, na miséria eterna; porque tão certo como Deus é Deus, Ele perderá antes a Sua Deidade do que deixar um só pecado sem castigo, ou uma partícula de rebelião sem vingança. Podeis dizer que este caráter de Deus é frio, austero e severo. Não posso impedir que faleis assim; não obstante, o que disse é verdade. Tal é o Deus da Bíblia; e embora repitamos como certo que Ele é amor, não é menos verdade que, além de amor, Ele é repleto de justiça, porque todo o bem se encontra em Deus, e estes elevados à perfeição, de forma que o amor alcança a sua consumada amabilidade e a justiça se torna severamente inflexível nEle. Não há aberração nem distorção em Seu caráter; nenhum de Seus atributos predomina demais a ponto de lançar uma sombra sobre o outro. O amor tem seu pleno domínio, e a justiça não está mais limitada do que Seu amor. Oh! então, amados, pensai, pois, quão grande deve ter sido a substituição de Cristo, quando satisfez a Deus por todos os pecados de Seu povo. Porque o pecado do homem exige de Deus castigo eterno, e Deus preparou um Inferno para lançar nele todos os que morram impenitentes. Oh! meus irmãos, podeis pensar sobre qual deve ter sido a grandeza da expiação que foi feita em lugar de todos os eleitos, contemplando esta eterna aflição que Deus deveria lançar sobre nós, se Ele não a tivesse derramado sobre Cristo. Olhai! Olhai! Olhai com solene olhar através das trevas que nos separam do mundo dos espíritos, e vede aquela casa da miséria que os homens chamam Inferno! Não podeis suportar o espetáculo. Lembre-se que naquele lugar há espíritos pagando para sempre a dívida à justiça divina; mas embora alguns deles tenham estado durante os últimos quatro mil anos abrasando-se nas chamas, eles não estão mais pertos da libertação do que quando começaram; e quando dez mil vezes dez mil anos tiverem passado, continuarão sem ter feito satisfação a Deus por sua culpa, como não a tem feito até agora. E agora, podeis captar o pensamento da grandeza da mediação de vosso Salvador quando Ele pagou a vossa dívida, e a pagou de uma vez por todas; de forma que agora não há um só centavo de dívida do povo de Cristo ao seu Deus, exceto a dívida de amor. Para a justiça, o crente não deve nada; embora ele devesse originalmente tanto que nem toda a eternidade seria suficiente para o pagamento de sua dívida, todavia, num momento Cristo a pagou toda, de forma que aquele que crê está inteiramente justificado de toda culpa, e livre de todo castigo, através do que Jesus fez. Considerai, pois, quão grande foi a Sua expiação por tudo quanto Ele fez.
Eu devo fazer uma pausa aqui, e expressar outra sentença. Há vezes em que dEus o Espírito Santo mostra aos homens a severidade da justiça em suas próprias consciências. Há um homem aqui hoje que tem sido ferido no coração com uma sensação de pecado. Ele uma vez foi um homem livre, um libertino, não sujeito a ninguém; mas agora, a flecha do Senhor se cravou firmemente em seu coração, e ele encontra-se numa escravidão mais dura do que a do Egito. Eu o vejo hoje; ele me diz que a sua culpa o persegue por toda a parte. O escravo negro, guiado pela estrela polar, pode escapar das crueldades de seu senhor e alcançar outra terra onde ele possa ser livre; mas este homem percebe que se ele vaguear o mundo inteiro, não poderá escapar de sua culpa. Aquele que está preso por muitas cadeias, ainda pode encontrar uma lima que possa desatá-lo e lhe por em liberdade; mas este homem vos dirá que já tentou orações, lágrimas e boas obras, mas não pôde escapar das algemas de seu pulso; ele ainda se sente um pecador perdido, e a emancipação, faça o que fizer, parece ser impossível para ele. O cativo na masmorra é às vezes livre em pensamento, embora não em corpo; seu espírito salta as paredes da masmorra, livre como uma águia, que não é escrava do homem. Mas este homem é um escravo de seus pensamentos; ele não pode ter uma idéia brilhante ou feliz. Sua alma está abatida dentro dele; as cadeias penetraram o seu espírito, e ele está gravemente aflito. O cativo às vezes esquece de sua escravidão no sono, mas este homem não pode dormir; pela noite sonha com o inferno, e durante o dia parece senti-lo; ele carrega uma fornalha de fogo dentro de seu coração, e faça o que fizer, na pode apagá-la. Ele foi confirmado, foi batizado, toma os sacramentos, assiste à igreja ou freqüenta uma capela, observa todas as instruções e obedece todos os preceitos, mas o fogo continua a queimar. Ele dá seu dinheiro ao pobre, e está pronto a dar seu corpo para ser queimado; dá de comer ao faminto, visita o enfermo, veste ao nu, mas o fogo continua a queimar, e faça o que fizer, não o pode apagar.
Oh, vós, filhos da aflição e da fatiga, isto que sentis é a justiça de Deus em plena busca de vocês, e feliz sois vós por sentirem isto, porque agora vos prego este glorioso Evangelho do bendito Deus. Vós sois os homens por quem Jesus Cristo morreu; por vós Ele satisfez a severa justiça; e agora tudo o que devem fazer para obter a paz de consciência, é dizer a vosso adversário que vos persegue: “Olhai ali! Cristo morreu por mim; minhas boas obras não te deteriam, minhas lágrimas não te apaziguariam: porém, olhai ali! Ali a cruz erguida; ali pendurado o Deus sangrando! Ouvi o grito de Sua morte! Vede-O morrer! Não estás satisfeito agora?” E quanto tiver feito isto, tereis a paz de Deus que excede todo entendimento, a qual guardará teu coração e mente por Jesus Cristo teu Senhor; e assim, conhecereis a grandeza de Sua expiação.