Por Julio Feriato/Fotos: Lucas Lima (UOL)
Data: 06/05/2011
Local: Credicard Hall - São Paulo/SP
Quando foi anunciado que HELLOWEEN e STRATOVARIUS fariam uma turnê juntos pelo Brasil, uma grande expectativa foi gerada, afinal de contas, essas bandas são consideradas as maiores representantes do metal melódico mundial. De um lado, está o Stratovarius, que tenta recuperar seu prestígio com Elysium, seu mais recente trabalho, que foi uma tentativa de tentar voltar à sonoridade que os consagrou no passado. Do outro, temos o Helloween, criadores do que hoje rotulamos como power metal melódico, com seu 7 Sinners, disco lançado ano passado que surpreendeu por ser mais pesado e agressivo do que seus antecessores.
Às 22h em ponto, o Stratovarius sobe ao palco ao som dos primeiros acordes de "Infernal Maze", faixa do novo álbum, que engana por inicialmente ser meio "viajandona", mas é apenas um prelúdio ao poderio power metal bem ao estilo do grupo. A plateia se empolgou e os ovacionou o tempo todo, principalmente quando a banda anunciou "Eagleheart" como próxima música. Mas a empolgação do público não durou muito. Tocaram mais uma música do novo trabalho, e a reação não foi a mesma. Infelizmente, a banda só conseguia levantar a plateia quando tocava alguma música da fase Timo Tolkki. Um grande exemplo foi "The Kiss of Judas", hit do álbum Visions, cantada em uníssomo; assim como "Paradise" e "Hunting High and Low". Mesmo assim, a banda estava morna, sem sal. O público percebeu isso, e por consequência, também esfriou.
O guitarrista Matias Kupiainen, que teve a árdua tarefa de substituir Timo Tolkki, parecia apagado. O cara não tem presença alguma a deu a impressão de que é apenas um músico contratado em vez de membro efetivo. Em compensação, o vocalista Timo Kotipelto é um ótimo frontman, dono de imensa simpatia e voz única.
Fecharam o set com a bela "Black Diamond", que é uma das melhores canções de power metal já escritas!
Infelizmente, apesar de alguns momentos mais calóricos, essa foi uma apresentação que não convenceu. Estariam acanhados por ser uma banda de abertura e não a principal como acontecia antigamente? Nunca iremos saber.
Não demorou muito para que o Helloween começasse sua apresentação, e iniciaram de forma curiosa. A intro que emendou "For Those About the Rock", clássico do AC/DC, com a famosa introdução "Happy Happy Helloween", do LP Walls of Jericho, deu a entender que eles iriam abrir com "Ride the Sky". Mas "Are You Metal?", do novo CD, foi a canção que deu início ao espetáculo. De cara, já deu para perceber no quanto eles estão entrosados e afinados (sinceramente, eu não esperava outra coisa). "Are You Metal?" é uma das músicas mais pesadas já composta pela banda, e foi o primeiro single de 7 Sinners, que deu uma prévia de que este seria um trabalho bem diferente do fiasco Unarmed - Best Of - 25th, um álbum de regravações duvidosas que foi intensamente criticado de forma negativa por fãs e imprensa.
"Eagle Fly Free", da fase Keepers, veio em seguida, dando a entender que seria uma noite especial e recheada de clássicos. E realmente foi assim.
"Steel Tormentor" foi a música lembrada do excelente The Time of the Oath (melhor disco da fase Andi Deris, na opinião deste que vos escreve), e em seguida, deram prioridade ao novo CD. Tocaram a fraca "Where the Sinners Go", que esfriou a plateia por ser meio paradona (no lugar dela poderiam ter tocado "Who is Mr. Madman?"!), mas logo se redimiram com "World of Fantasy", excelente composição que também faz parte do novo álbum, e "You Stupid Mankind", onde Andi Deris ironizou dizendo que é uma música "bem do mal", composta por Shasha.
Dali em diante, foi a vez de priorizarem os clássicos que todos estavam ávidos em vê-los tocar. "I´m Alive", da fase Keepers of the Seven Keys, foi responsável por quase derrubar o lugar, e "Forever and One (Neverland)" executada em versão acústica, com Andi e Sasha nos violões, serviu para acalmar o agito de outrora. Particularmente não gosto dessa faixa, mas é incrivel como ela sempre é cantada em uníssomo por todos. "A Handful of Pain" serviu de prelúdio para o grande momento da noite: um medley de "Keeper of the Seven Keys, The King for a 1000 Years e Halloween". "Eu sempre leio na Internet fãs questionando do porquê nunca tocarmos essas músicas", diz Andi Deris, "mas elas são muito longas!" Nem preciso dizer que foi lindo, e a plateia aprovou.
"I Want Out" foi a última antes do bis final, que seria mais do que especial. Mas não posso deixar de elogiar o vocalista Andi Deris. Eu tinha bronca do Helloween ao vivo justamente por causa dele; mas sua voz melhorou drásticamente, ele está cantando como nunca, e não fez feio nem nas músicas mais difíceis como as da fase Michael Kiske. Aliás, muita gente ainda sonha em ver Kiske de volta ao grupo, mas Andi conquistou seu lugar de tal maneira que, atualmente não consigo mais imaginar o Helloween sem ele. O cara é uma das figuras mais carismáticas do metal mundial, e também é uma simpatia; brinca com todos o tempo todo, e até arriscava algumas palavras em português. Em determinado momento, fez menção de quando participou da gravação no DVD do Shaman, ex-banda do amigo André Matos (ele fez questão de dizer isso) que havia sido no mesmo local. O talento de Kiske é inegável, mas se for levar em consideração ao que lemos em suas recentes entrevistas, é melhor ele ficar quietinho lá na Alemanha mesmo.
Outro integrante que se destaca é o guitarrista Sascha Gerstner. Sempre sorridente, andava de um lado para o outro e agitava bastante, bem diferente do seu companheiro Michael Weikath, um dos membros originais do grupo. O único ponto negativo em Sasha foi sua roupa, que mais parecia o uniforme das Paquitas.
O esperado bis não decepcionou. Detonaram "Ride the Sky" (nessa hora quase fiquei sem voz, pois essa foi a primeira música do Helloween que escutei em minha vida), continuaram com "Future World" e fecharam com "Dr. Stein", momento em que os vencedores do concurso que premiou os fantasiados de Dr. Stein subiram ao palco para cantar juntos. E para minha surpresa, não é que a Paula [Baldassarri, apresentadora do programa Heavy Nation] estava lá também?! A safada nem me falou nada!
Antes de finalizar, não posso deixar de registrar uma critica a duas coisas. O primeira é sobre o Credicard Hall. A casa tem uma ótima infraestrutura e blá, blá blá, mas peca no sentido mais importante: o palco é baixo demais. Quem fica lá atras praticamente não consegue assistir o show de uma maneira decente, e é obrigado a ficar olhando para o telão a cada 5 segundos. Convenhamos, pagar mais de 100 reais para assistir a banda pelo telão não é legal!
A segunda é sobre uma birra que com toda certeza do mundo não é só minha: por que os locais de eventos como esse sempre tem acontecer lá onde a ponte quebra? Aliás, por que as famosas casas de espetáculos de São Paulo são sempre em lugares completamente fora de mão e difícil acesso? E ainda, por que nenhuma delas foi construida no centro da cidade, lugar muito mais acessível à pessoas como eu, que não possui carro e não tem coragem de desembolsar 50 reais (ou mais) para pagar um taxi? Para esses "excluidos", restou ir a pé até a estação de trem Santo Amaro, e aguardar o horário de abertura da mesma para poder voltar pra casa, e garanto, não fomos poucos. O espetáculo terminou lá por 1 e tantas da madruga, então imagine o tempo em que vários metalheads ficaram na porta da estação... Para passar o tempo, escrevi o esboço desta matéria que você esta lendo.
Um pequeno contratempo que não tirou de maneira alguma o brilho da noite, que ficará na memória dos fãs como uma das melhores passagens do Helloween pela capital paulista.
Estação de trem Santo Amaro
Setlist:
01. Are You Metal?
02. Eagle Fly Free
03. Steel Tormentor
04. Where the Sinners Go
05. World of Fantasy
06. You Stupid Mankind
07. I’m Alive
08. Forever and One (Neverland)
09. A Handful of Pain
10. Keeper of the Seven Keys / The King for a 1000 Years / Halloween
11. I Want Out
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12. Ride the Sky
13. Future World
14. Dr. Stein