Uma das
melhores maneiras de compartilhar o evangelho com os homens e as mulheres de
hoje é apresentá-lo em termos de liberdade. Existem pelo menos três argumentos
que podem ser usados nessa abordagem.
Primeiro, a liberdade é um assunto extremamente atraente. A revolta mundial contra a autoridade, iniciada na década de sessenta, é vista como sinônimo de uma busca mundial por liberdade. Muita gente é obcecada com a liberdade e passa a vida inteira a persegui-la. Para alguns, é uma questão de libertação nacional, emancipação de um jugo colonial ou neocolonial. Para outros, trata-se de direitos civis, e assim protestam contra discriminação racial, religiosa ou étnica e exigem a proteção de opiniões das minorias. E ainda há outros cuja preocupação é a busca por liberdade económica, libertação da fome, da pobreza e do desemprego. Ao mesmo tempo, todos nós nos preocupamos com a nossa liberdade pessoal. Até aqueles que lutam mais ardentemente pelos outros tipos de liberdade aqui mencionadas (nacional, civil e económica) geralmente sabem que eles mesmos não são livres. Eles nem sempre conseguem dar um nome às tiranias que os oprimem. Todavia, sentem-se frustrados, não-realizados e sem liberdade.
Numa entrevista com o consagradíssimo novelista John Fowles, publicada sob o título "Uma Espécie de Exílio em Lyme Regis", Daniel Halpern perguntou-lhe: "Existe algum retrato específico do mundo que você gostaria de desenvolver em sua obra? Alguma coisa que continua sendo importante para você?" "Sim", respondeu John Fowles. "Liberdade. Como alcançar a liberdade. Isto me obceca. Todos os meus livros falam sobre isso." [1]
Segundo, liberdade é uma tremenda palavra cristã. Jesus Cristo é retratado no Novo Testamento como o supremo libertador do mundo. "O Espírito do Senhor está sobre mim", declarou ele, aplicando a si mesmo uma profecia do Antigo Testamento, "pelo que me ungiu para evangelizar nos pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor."[2] Quer Jesus estivesse se referindo aos pobres, cativos, cegos e oprimidos no sentido material ou espiritual, quer nos dois sentidos (esta questão continua se constituindo em veemente debate), as boas novas por ele proclamadas foram certamente de "liberdade" ou "libertação". Mais tarde, em seu ministério público, ele acrescentou a promessa: "Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres".[3] E daí o apóstolo Paulo tornou-se o defensor da liberdade cristã e escreveu: "Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais de novo a jugo de escravidão".[4] Para aqueles que consideram "salvação" um jargão religioso e desprovido de sentido, ou mesmo algo embaraçoso, "liberdade" é um excelente substituto. Ser salvo por Jesus Cristo é ser libertado.
Terceiro, liberdade é uma palavra muito mal interpretada. Mesmo aqueles que falam mais alto e há mais tempo acerca da liberdade nem sempre param antes para definir de que é que estão falando. Um bom exemplo é o do orador marxista que, plantado numa esquina, discursava com eloquência sobre a liberdade que todos haveríamos de desfrutar depois da revolução.
"Quando nós conseguirmos a liberdade", exclamava ele, "todos vocês poderão fumar cigarros como aquele ali", disse, apontando para um opulento cidadão que ia passando.
"Eu prefiro meu cigarro de palha", gritou um gozador.
"Quando formos libertados", continuou o marxista, ignorando a interrupção e esquentando mais o assunto, "todos vocês poderão andar num carro daqueles", e apontou para um suntuoso Mercedes que ia passando.
"Eu prefiro minha bicicleta", gritou o perturbador. E assim o diálogo continuou, até que o marxista, não suportando mais as gozações, voltou-se para o homem e disse: "Quando formos livres, você só fará aquilo que lhe mandarem!"
[1] London Magazine, março de 1971
[2] Jo 4.18-19, citando Is 61.1-2
[3] Jo 8.36