Extraído de: Olhar Reformado
por Marcelos Lemos
Existe um erro muito comum em debates teológicos entre Arminianos e Calvinistas. Refiro-me a teimosia de ambos os lados usarem a famosa Parábola do Filho Pródigo como texto prova de sua doutrina. Talvez você já tenha ouvindo alguém exaltar o fato de que o Pai estava de braços abertos esperando pelo filho pecador, e também por ele continuar sendo chamado de “filho”, mesmo depois de ter desperdiçado toda a sua herança. Provavelmente, você ouviu isso de alguém que tentava ‘provar’ a Perseverança dos Santos.
Igualmente possível, que você tenha escutado alguém resaltar um outro detalhe, igualmente significativo, que encontramos no texto. Refiro-me ao pai ter dito, sobre o filho pródigo, “meu filho estava morto, e reviveu”. Frisando isto, alguns pretender provar que é possível a alma regenerada voltar a perder-se por toda a Eternidade.
As duas interpretações para a parábola do Filho Pródigo estão erradas, como pretendemos demonstrar no texto de hoje.
ANALISANDO O CONTEXTO...
As duas interpretações para a parábola do Filho Pródigo estão erradas, como pretendemos demonstrar no texto de hoje.
ANALISANDO O CONTEXTO...
Lendo todo o capítulo 15 de Lucas, deveríamos perceber que o texto fala de uma ocasião na qual Jesus foi confrontado pelos Escribas e Fariseus, devido a sua ‘associação’ com publicanos epecadores. Nunca é demais relembrarmos que os chefes religiosos de Israel, se gabavam de não se associarem com esse tipo de gente. Eles eram os “santos”, e não se comunicavam com a “escória” do mundo;
Ora, chegavam-se a ele todos os publicanos e pecadores para o ouvir. E os fariseus e os escribas murmuravam, dizendo: Este recebe pecadores, e come com eles – Lucas 15.1-2.
Jesus escandalizou os chefes da Religião Judaica. Se ele realmente desejava ser considerado um homem de Deus, um mestre em Israel, então, pensavam eles, deveria ser um homem separado dos ‘pecadores’. Porém, Jesus não se importa para o preconceito hipocrita de tais lideres religiosos, e abertamente se declara favoravel a todos os pecadores que vinham até Ele. Na verdade, Jesus entendia que estes pecadores que vinha até Ele, lhe haviam sido dados pelo Pai;
Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o trouxer... – João 6.44.
Manifestei o teu nome aos homens que do mundo me deste. Eles eram teus, e tu os destes a mim... – João 17.6.
Mas, os chefes religiosos daqueles dias, por se acharem os verdadeiros guardadores da lei, e legítimos herdeiros das promessas feitas a Abraão, pensavam que os demais homens estavam privados da Graça e do favor de Deus. Assim, quando viam Jesus estendendo as mãos aos pecadores, e ainda lhes prometendo o Reino dos Céus, reino este que pertenciam (conforme entendiam) exclusivamente a eles, eles se sentiam ofendidos, e tinha Jesus como um falso profeta, um lobo em pele de cordeiro.
A PARABOLA DE LUCAS XV
A PARABOLA DE LUCAS XV
A narrativa de Lucas 15 é bem detalhista, e nos permite ver que foi justamente aqui, ao diagnostica o que ia no coração daqueles homens, que Jesus começou a lhes contar uma parábola, dividia em três atos: a ovelha perdida, a dracma perdida, e o filho perdido. Normalmente os pregadores interpretam esta passagem como contendo três parábolas, mas, o texto diz “esta parabola”, de modo que entendemos se tratar de apenas uma parabola, dividida por Cristo em três atos, três momentos distintos, porém, intrinsecamente ligados.
A primeira cena da parábola, nos mostra um pastor que perde uma de suas cem ovelhas, e, deixando todas as outras no aprisco, sai a procura daquela que se perdeu. Quando a encontra, ele retorna para junto das demais, trazendo-a curada e a salvo.
A segunda cena, que é introduzida com uma pergunta retórica, nos revela uma mulher que tendo dez modeas, perdendo uma, dedica todo seus esfoço a fim de encontrá-la. Quando finalmente a encontra, de tão feliz, reune todas as suas amigas para comemorar ter encontrado a insignificante moedinha...
Na terceira cena da parábola, Jesus relata o drama de um pai de familia, que vê seu filho mais novo sair de casa, levando toda sua herança, a fim de gastá-la como bem entendesse. Tendo saído o filho, os falsos amigos se aproximam, devoram tudo o que o jovem tem, e o deixa na miséria, medingando o pão de cada dia, a ponto dele desejar alimentar-se da ração que era jogada aos porcos!
Mas, então, no climax da narrativa, lemos:
A segunda cena, que é introduzida com uma pergunta retórica, nos revela uma mulher que tendo dez modeas, perdendo uma, dedica todo seus esfoço a fim de encontrá-la. Quando finalmente a encontra, de tão feliz, reune todas as suas amigas para comemorar ter encontrado a insignificante moedinha...
Na terceira cena da parábola, Jesus relata o drama de um pai de familia, que vê seu filho mais novo sair de casa, levando toda sua herança, a fim de gastá-la como bem entendesse. Tendo saído o filho, os falsos amigos se aproximam, devoram tudo o que o jovem tem, e o deixa na miséria, medingando o pão de cada dia, a ponto dele desejar alimentar-se da ração que era jogada aos porcos!
Mas, então, no climax da narrativa, lemos:
Caindo, porém, em si, disse: Quantos empregados de meu pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço de fome! Levantar-me-ei, irei ter com meu pai e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus empregados. Levantou-se, pois, e foi para seu pai. Estando ele ainda longe, seu pai o viu, encheu-se de compaixão e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou. Disse-lhe o filho: Pai, pequei conta o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. Mas o pai disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa, e vesti-lha, e ponde-lhe um anel no dedo e alparcas nos pés; trazei também o bezerro, cevado e matai-o; comamos, e regozijemo-nos, porque este meu filho estava morto, e reviveu; tinha-se perdido, e foi achado. E começaram a regozijar-se – Lucas 15. 17-24.
O ELO DE LIGAÇÃO EM LUCAS XV
O leitor atento irá notar que existe um ponto em comum em todas as três cenas que compoeem esta interessante parábola. Em todas as cenas, a enfase recaí sobre a comemoração que aquele que perdeu algo de valor faz, ao reencontrar o que se havia perdido. Primeiro, lemos do pastor que perdeu uma de suas ovelhas, e sai a sua procura, e a tendo encontrado, reunse-se aos amigos, para uma comemoração (vv. 5,6); o mesmo faz a mulher que encontrou a moedinha que perdera (vv. 15); e finalmente, a mesma atitude se repete no coração do pai que reencontra o filho perdido (vv. 22-24)
Mas, há um detalhe que aparece nas duas primeiras cenas, mas se omite na última. E Jesus habilmente cria este contraste, para confrontar aqueles lideres religiosos com o pecado escondido em seus corações. Observemos que nas duas primerias cenas, todas as vezes que Jesus fala da festa realizada por aquele que encontra o que se perdera, ele acrescenta uma descrição da alegria de Deus por um pecador que se arrepende;
Mas, há um detalhe que aparece nas duas primeiras cenas, mas se omite na última. E Jesus habilmente cria este contraste, para confrontar aqueles lideres religiosos com o pecado escondido em seus corações. Observemos que nas duas primerias cenas, todas as vezes que Jesus fala da festa realizada por aquele que encontra o que se perdera, ele acrescenta uma descrição da alegria de Deus por um pecador que se arrepende;
Assim que Cristo termina de nos falar sobre o pastor que comemora o reencontro da sua ovelha, ele diz: “Digo-vos que assim haverá maior alegria no céu por um pecador que se arrepende, do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento” (v. 7). E logo que termina de nos falar sobre a alegria da mulher que reencontrou sua moedinha, ele comenta: “Assim, digo-vos, há alegria na presença dos anjos de Deus por um só pecador que se arrepende” (v. 10).
Porém, este comentário não se repete quando Jesus termina de falar sobre o Filho Perdido. Muito pelo contrário. Na verdade, Cristo introduz um segundo irmão na história, e compreendermos quem este irmão representa é de grande importancia para uma correta interpretação de toda a parábola de Lucas 15.
O FILHO MAIS VELHO...
Ora, o seu filho mais velho estava no campo; e quando voltava, ao aproximar-se de casa, ouviu a música e as danças; e chegando um dos servos, perguntou-lhe que era aquilo.
Respondeu-lhe este: Chegou teu irmão; e teu pai matou o bezerro cevado, porque o recebeu são e salvo.
Respondeu-lhe este: Chegou teu irmão; e teu pai matou o bezerro cevado, porque o recebeu são e salvo.
Mas ele se indignou e não queria entrar. Saiu então o pai e instava com ele. Ele, porém, respondeu ao pai: Eis que há tantos anos te sirvo, e nunca transgredi um mandamento teu; contudo nunca me deste um cabrito para eu me regozijar com os meus amigos; vindo, porém, este teu filho, que desperdiçou os teus bens com as meretrizes, mataste-lhe o bezerro cevado. – Lucas 15. 25-30.
O filho mais velho, simplesmente não conseguia engolir toda aquela festa, dedicada uma pessoa que, diferentemente dele, havia jogado tudo o que pai lhe dera, a perder. Aquele jovem não merecia, segundo ele pensava, uma comemoração. Nada disso! Tudo o que merecia era ser rejeitado pelo pai, abandonado na rua da amargura, para que aprendesse a valorizar aquilo que havia jogado fora.
Se alguém merece toda essa comemoração, este alguém sou eu. Era isso que reinava no coração do filho mais velho. Ele estava dominado pelo amor próprio, e pelo sentimento de auto-justificação. Então, ele simplesmente não consegue se alegrar juntamente com o pai; ele é incapaz de participar da felicidade do pai; ele não pode ver a situação pela ótica do pai!
Então, o pai lhe diz: “Replicou-lhe o pai: Filho, tu sempre estás comigo, e tudo o que é meu é teu; era justo, porém, regozijarmo-nos e alegramo-nos, porque este teu irmão estava morto, e reviveu; tinha-se perdido, e foi achado” (vv. 31-32).
Se alguém merece toda essa comemoração, este alguém sou eu. Era isso que reinava no coração do filho mais velho. Ele estava dominado pelo amor próprio, e pelo sentimento de auto-justificação. Então, ele simplesmente não consegue se alegrar juntamente com o pai; ele é incapaz de participar da felicidade do pai; ele não pode ver a situação pela ótica do pai!
Então, o pai lhe diz: “Replicou-lhe o pai: Filho, tu sempre estás comigo, e tudo o que é meu é teu; era justo, porém, regozijarmo-nos e alegramo-nos, porque este teu irmão estava morto, e reviveu; tinha-se perdido, e foi achado” (vv. 31-32).
O ENSINO DA PARÁBOLA...
Que quis Jesus ensinar com esta grandiosa, e detalhista, parábola? Nos lembrando do contexto, teremos diante dos olhos o fato de que ele contou-lhes, “esta parábola”, logo após terem os Escribas e Fariseus lhe criticado por se associar com publicanos e pecadores. De modo que, inescapavelmente, podemos interpretar este filho mais velho, como sendo uma figura dos chefes religiosos de Israel.
Estes judeus tinham a si mesmos em alta estima perante Deus, julgando-se melhores e mais merecedores das beneses do Senhor; ainda mais quando comparavam a si mesmos com publicanos e pecadores! Por diversas vezes, em seu ministério, o Senhor Jesus lhes confrontou diretamente por causa deste pecado, que lhes era tão peculiar;
Estes judeus tinham a si mesmos em alta estima perante Deus, julgando-se melhores e mais merecedores das beneses do Senhor; ainda mais quando comparavam a si mesmos com publicanos e pecadores! Por diversas vezes, em seu ministério, o Senhor Jesus lhes confrontou diretamente por causa deste pecado, que lhes era tão peculiar;
“Propôs também esta parábola a uns que confiavam em si mesmos, crendo que eram justos, e desprezavam os outros: Dois homens subiram ao templo para orar; um fariseu, e o outro publicano. O fariseu, de pé, assim orava consigo mesmo: Ó Deus, graças te dou que não sou como os demais homens, roubadores, injustos, adúlteros, nem ainda com este publicano. Jejuo duas vezes na semana, e dou o dízimo de tudo quanto ganho. Mas o publicano, estando em pé de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, sê propício a mim, o pecador! Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque todo o que a si mesmo se exaltar será humilhado; mas o que a si mesmo se humilhar será exaltado” – Lucas 18. 9-14.
É impossível, portanto, valer-se do ensino desta parábola para defender ou questionar a Perseverança dos Santos. Aqueles que se agarram a algum detalhe da narrativa, a fim de defenderem a Salvação Eterna, erram. E erram de igual modo, aqueles que agarrando-se a outros detalhes, defendem a perda da salvação.
O objetivo da parábola é confrontar o modo como os líderes da Religião Judaica enxergavam a si mesmos, quando comparados aos demais homens. Quem eram os demais homens? Eram os publicanos e pecadores. Eram homens e mulheres que, pela primeira vez, estavam tendo contato com a mensagem do Evangelho. De modo algum, a parabola nos fala de cristãos renascidos que se desviaram, e estão, novamente, retornando ao Lar do Pai. Tal interpretação não passa nem perto do telos de Lucas 15!
O Filho Pródigo, ao contrário do que pensa a maioria, não é um cristão desviado, mas um retrato de toda a humanidade caída, por causa do pecado de Adão. Ele não é um cristão que morreu, e voltou a viver: mas um pecador que encontra Cristo! Afirmar algo diferente disso, é destruir todo o contexto no qual o próprio Cristo insere as três cenas!
Paz e bem!
O objetivo da parábola é confrontar o modo como os líderes da Religião Judaica enxergavam a si mesmos, quando comparados aos demais homens. Quem eram os demais homens? Eram os publicanos e pecadores. Eram homens e mulheres que, pela primeira vez, estavam tendo contato com a mensagem do Evangelho. De modo algum, a parabola nos fala de cristãos renascidos que se desviaram, e estão, novamente, retornando ao Lar do Pai. Tal interpretação não passa nem perto do telos de Lucas 15!
O Filho Pródigo, ao contrário do que pensa a maioria, não é um cristão desviado, mas um retrato de toda a humanidade caída, por causa do pecado de Adão. Ele não é um cristão que morreu, e voltou a viver: mas um pecador que encontra Cristo! Afirmar algo diferente disso, é destruir todo o contexto no qual o próprio Cristo insere as três cenas!
Paz e bem!
Extraído de: Olhar Reformado