Extraído de: Monergismo.com
A menos que vocês provem para mim pela Escritura e pela razão que eu
estou enganado, eu não posso e não me retratarei. Minha consciência é cativa à
Palavra de Deus. Ir contra a minha consciência não é nem correto nem seguro.
Aqui permaneço eu. Não há nada mais que eu possa fazer. Que Deus me ajude.
Amém.
Martinho Lutero
Introdução
O
movimento Reformado representou um retorno às Escrituras Sagradas. Como
conseqüência, o acúmulo de tradições acrescentadas à fé apostólica foi varrido
da igreja.
Somos
filhos da Reforma e temos a obrigação de julgar nossas próprias práticas à luz
da Bíblia, comparando Escritura com Escritura. A máxima igreja reformada sempre se reformando deve ser sempre lembrada e
praticada. Deveríamos hesitar em abolir ensinos que não se respaldam na
Revelação? Não há erro quando alguém obriga a si próprio a não comer carne, ou
guardar determinados dias, ou se abster de algo, ou colocar sobre si qualquer
outra obrigação sobre a qual não há mandamento bíblico (Rm 14.2-6). Porém, o erro passa a existir quando pretendemos impor a
outra pessoa exigências que a Bíblia
não impôs. Pretendo demonstrar a seguir que o dízimo, conforme tradicionalmente
ensinado e praticado nas igrejas evangélicas, enquadra-se nesta definição.
Um histórico da prática do dízimo
A
igreja pós-apostólica viveu a tensão entre a prática do dízimo e a afirmação
paulina de que Cristo nos libertou da lei (Gl
5.1). Nos séculos 5 e 6, encontramos a prática do dízimo bem estabelecida
nas áreas antigas da cristandade do ocidente. No século 8 os soberanos
carolíngeos tornaram o dízimo eclesiástico parte da lei secular. Já no século
12, os monges que antes tinham sido proibidos de receber dízimos, sendo
obrigados a pagá-los, obtiveram certa medida de liberdade ao obterem permissão para
receber dízimos e, ao mesmo tempo, tendo isenção do pagamento deles.
Controvérsias sobre dízimos sempre surgiram quando pessoas procuravam evitar o
pagamento, ao passo que outras tentavam apropriar para si as rendas dos
dízimos. Os dízimos medievais eram divididos em prediais, cobrados sobre os frutos da terra; pessoais, cobrados dos
salários da mão-de-obra; e mistos,
cobrados da produção dos animais. Esses dízimos eram subdivididos, ainda, em grandes, derivados de trigo, feno e
lenha, pagáveis ao reitor ou sacerdote responsável pela paróquia; e pequenos, dentre todos os demais dízimos
prediais, mais os dízimos mistos e pessoais, pagáveis ao vigário. Na
Inglaterra, especialmente por volta dos séculos 16 e 17, a questão dos dízimos
foi uma fonte de conflito intenso, visto que a Igreja Estatal dependia dos
dízimos para sua sobrevivência.
Implicações
sociais, políticas e econômicas eram consideráveis nas tentativas do arcebispo
Laud de aumentar o pagamento dos dízimos, antes de 1640. Os puritanos ingleses e outros queriam a
abolição dos dízimos, substituindo-os por contribuições
voluntárias para sustentar os clérigos. Mas a questão dos dízimos despertou
paixões ferozes e amarguras, notáveis dentre todas as questões associadas com a
guerra civil inglesa. Depois da guerra, o dízimo obrigatório sobreviveu na
Inglaterra até o século 20.
O texto clássico
Roubará o homem a Deus? Todavia, vós
me roubais e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas. Com
maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, vós, a nação toda. Trazei
todos os dízimos à casa do Tesouro, para que haja mantimento na minha casa; e
provai-me nisto, diz o SENHOR dos exércitos, se eu não vos abrir as janelas do
céu e não derramar sobre vós bênção sem medida. Ml 3.8-10
Este
é o texto clássico usado para ensinar aos membros da igreja a prática do
dízimo, isto é, a entrega à igreja de 10% do salário bruto mensal. É
concordância generalizada entre os evangélicos que o dízimo não é dado, mas sim
“devolvido” a Deus. Não poucos testemunhos confirmam que dar o dízimo acarreta
bênção e o contrário traz maldição:
“Temos um colega que recebeu uma carta de uma senhora que foi membro de sua Igreja e ele chorou amargamente ao ler aquela carta, porque aquela senhora dizia o seguinte: Pastor, eu lhe agradeço por tudo quanto o senhor me fez durante o tempo em que fui membro da sua Igreja. Mas eu fui obrigada a me mudar dessa localidade e fui freqüentar outra Igreja. O senhor nunca me falou a respeito do dízimo. O outro pastor me ensinou a ser dizimista, e Deus me abriu as janelas dos céus e me tem dado tantas e tão grandes bênçãos que eu lamento ter perdido doze anos na sua Igreja recebendo maldição, quando Deus tinha uma bênção sem medida para mim, se eu fosse fiel. Um pastor que recebe uma carta assim só pode chorar.
Testemunhos
dessa natureza prendem a atenção dos ouvintes e são usados para confirmar a
veracidade do ensino a respeito do dízimo. É difícil discordar de algo que
produz resultados como este:
“Certo dia, quando recolhíamos os dízimos eu li este versículo. Estava presente um engenheiro que, tendo sido muito rico, perdera tudo em poucas semanas, e quando eu li este versículo ele compreendeu que isto tinha acontecido na sua vida, e, naquela hora, prometeu a Deus que ia ser fiel na entrega dos dízimos. O que Deus fez e está fazendo na vida daquele homem é simplesmente espantoso. Um ano depois este engenheiro era presbítero da minha Igreja e podia dizer: Hoje eu sou muito mais rico do que era quando Deus assoprou minha riqueza porque Ele já me devolveu em dobro o que assoprou. Este homem tem sido uma bênção na Igreja e no seu trabalho.
Doutrina,
por mais atrativa que seja, não pode ter sua autoridade respaldada pela
experiência. O texto sagrado deve ser o único
pilar sobre o qual se assenta o ensino.
Qualquer
outro alicerce deve ser considerado supérfluo e indesejável. Sabemos também que
a doutrina não pode ser baseada num único texto. É necessário que haja uma
concordância com outras partes do Livro Santo. Examinemos se o dízimo, tal como
é ensinado acima, confirma-se à luz das Escrituras.