O Novo Testamento ensina a prática
do dízimo?
Uma
primeira constatação é que não há, no Novo Testamento, nenhum parâmetro mínimo
estipulado para a contribuição.
O
apóstolo Paulo organizou uma grande coleta para os necessitados da Judéia. As
duas epístolas aos Coríntios trazem referência a esta coleta:
Quanto à coleta para os santos, fazei vós também como ordenei às igrejas da Galácia. No primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de parte, em casa, conforme a sua prosperidade, e vá juntando, para que se não façam coletas quando eu for.
1 Co 16.1-2
Nos
capítulos 8 e 9 de 2 Coríntios, Paulo desenvolve seu ensino acerca das
contribuições. Estes textos se referem à alegria da contribuição, à
generosidade, à liberalidade, à presteza em ofertar:
E isto afirmo, aquele que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia com fartura com abundância também ceifará. (9.6)
... porque, no meio de muita prova de tribulação, manifestaram abundância de alegria, e a profunda pobreza deles superabundou em grande riqueza da sua generosidade. (8.2)
Pedindo-nos, com muitos rogos, a graça de participarem da assistência aos santos. (8.4)
... assim, como revelastes prontidão no querer, assim a leveis a termo, segundo as vossas posses. (8.11)porque bem reconheço a vossa presteza, da qual me glorio... (9.2)
Não
vemos nenhuma referência a uma contribuição mínima que é obrigatória – o dízimo
– e a partir daí, ofertas voluntárias. Ao contrário, o ensino de Paulo, é que
se a contribuição não for voluntária, não deve ser dada:
Não vos falo na forma de mandamento, mas para provar, pela diligência de outros, a sinceridade do vosso amor; (8.8)
Porque, se há boa vontade, será aceita conforme o que o homem tem e não segundo o que ele não tem. (8.12)
Cada um contribua segundo tiver proposto no coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá com alegria. (9.7)
Ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres (...) se não tiver amor, nada disso me aproveitará. (1 Co 13.3).
Ofertas voluntárias são o método de contribuição do Novo Testamento:
E sabeis também vós, ó filipenses, que, no início do evangelho, quando parti da Macedônia, nenhuma igreja se associou comigo no tocante a dar e receber, senão unicamente vós outros; porque até para Tessalônica mandastes não somente uma vez, mas duas, o bastante para as minhas necessidades. Não que eu procure o donativo, mas o que realmente me interessa é o fruto que aumente o vosso crédito. Recebi tudo e tenho abundância; estou suprido, desde que Epafrodito me passou às mãos o que me veio de vossa parte como aroma suave, como sacrifício aceitável e aprazível a Deus. (Fp 4.15-18)
Paulo
usa a figura dos sacrifícios vetero-testamentários com relação às ofertas: as ofertas dos filipenses foram,
diante de Deus, “como aroma suave, como sacrifício aceitável e aprazível a
Deus”.
Mas aquele que está sendo instruído
na palavra faça participante de todas as cousas boas aquele que o instrui (Gl 6.6).
Paulo, aqui, faz referência à obrigação
de dar sustento àqueles que se afadigam no ensino da Palavra. Ensino repetido
em 2 Tessalonicenses 5.12:
Agora, vos rogamos, irmãos, que acateis com apreço os que trabalham entre vós e os que vos presidem no Senhor e vos admoestam; e que os tenhais com amor em máxima consideração, por causa do trabalho que realizam.
E
mais detalhado em 1 Coríntios 9:
Não temos nós o direito de comer e beber? (v 4)
Ou somente eu e Barnabé não temos direito de deixar de trabalhar? (v 6 - Paulo refere-se ao trabalho secular).
Se nós vos semeamos as cousas espirituais, será muito recolhermos de vós bens materiais? (v 11)
Não sabeis vós que os que prestam serviços sagrados do próprio templo se alimentam? E que serve ao altar do altar tira o seu sustento? (v 13). A referência aqui é a Dt 18.1, que permite aos levitas comer partes dos sacrifícios oferecidos no Templo.
De
fato, existe o direito bíblico (do qual Paulo abriu mão, pelo menos com relação
aos coríntios – 1 Co 9.15 – e aos
tessalonicenses – 1 Ts 2.7,9; 2 Ts 3.8-9) de os
pregadores-pastores-mestres serem sustentados pelas suas congregações:
Assim ordenou também o Senhor aos que pregam o evangelho que vivam do evangelho. (v 14)...
Porém
não há referência a dízimos.
Algumas
outras citações, entre muitas:
... compartilhai as necessidades dos santos. (Rm 12.13)
... façamos o bem a todos, mas principalmente aos da família da fé. (Gl 6.10)
Aquele que furtava não furte mais; antes, trabalhe, fazendo com as próprias mãos o que é bom, para que tenha com que acudir ao necessitado. (Ef 4.28)
Exorta aos ricos do presente século ... que ... sejam ... generosos em dar e prontos a repartir (1 Tm 6.17,18).
Note-se
o ensino consistente e positivo do Novo Testamento a respeito da generosidade,
da liberalidade, da prontidão em repartir. A contrapartida negativa temos nas
muitas advertências a respeito da avareza:
O que foi semeado entre os espinhos é o que ouve a palavra, porém os cuidados do mundo e a fascinação das riquezas sufocam a palavra, e fica infrutífera (Mt 13.22).
Tende cuidado e guardai-vos de toda e qualquer avareza; porque a vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui. (Lc 12.15)
Sabei, pois, isto: nenhum ... avarento, que é idólatra, tem herança no reino de Cristo e de Deus. (Ef 5.5)
Porque nada temos trazido para o mundo, nem cousa alguma podemos levar dele. Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes. Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição.Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores. 1 Tm 6.7-10
Seja a vossa vida sem avareza. (Hb 13.5)