quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Era possível Jesus pecar?

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Extraído de: Voltemos ao Evangelho

Como vimos, o Deus Filho ao encarnar assumiu a natureza humana, sendo assim, em uma só pessoa, plenamente homem e plenamente Deus. Sabemos também que Jesus foi em tudo tentado, mas sem pecado (cf. Hb 4:15). O que nos leva a pergunta: Era possível a pessoa de Jesus Cristo, o Filho de Deus, pecar?

Considerações iniciais

Wayne Grudem faz algumas considerações iniciais importantes :
Para responder a essa pergunta, precisamos distinguir, por um lado, o que as Escrituras afirmam claramente, e por outro, o que é mais uma inferência de nossa parte. (1) As Escrituras afirmam claramente que Jesus Cristo jamais pecou de fato [...] Não deve haver nenhuma dúvida a esse respeito em nossa mente . (2) Elas também afirmam que Jesus foi tentado e que as tentações foram reais (Lc 4.2). Se cremos na Bíblia, precisamos insistir que Cristo foi “tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado” (Hb 1.15). Se nossa especulação sobre essa questão de Cristo poder ou não ter pecado leva-nos a dizer que ele não foi verdadeiramente tentado, então chegamos a uma conclusão errada, a uma conclusão que contradiz afirmações claras das Escrituras.
GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática, 1ª ed. São Paulo: Edições Vida Nova, 1999. p. 442-443.

Outra consideração importante  especificarmos o que queremos dizer com “possível”. No vídeo abaixo, John Piper discute o assunto:

Por John Piper © 2012 Desiring God Foundation.

É uma pessoa que peca

Ronald Hanko nos lembra que não é uma natureza que peca, mas uma pessoa:
Alguns têm dito que as tentações de Cristo poderiam ser reais somente se fosse possível para ele pecar em sua natureza humana. Que ele não pecou é devido apenas ao fato dele ser Deus também. Em face de tal ensino, devemos enfatizar a verdade que não era possível que ele pecasse. Devemos lembrar que não é uma natureza que peca, mas uma pessoa, e Cristo é uma pessoa somente, o Filho de Deus. Como uma pessoa divina, ele não poderia pecar. Dizer que era possível que ele pecasse em sua natureza humana é dizer que Deus poderia pecar, pois pessoalmente, mesmo em nossa natureza humana, ele é o Filho eterno de Deus. Essa, cremos, é uma das verdades ensinadas em 2 Coríntios 5:21, que diz que ele não conheceu pecado, e em Hebreus 7:26, que diz que ele era “santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores”.
HANKO, Ronald. A Natureza Humana Sem Pecado de Cristo. Disponível em . Acesso em: 17 de set. de 2007. (grifos meus)

Assim sendo, afirmar que a pessoa de Jesus Cristo poderia pecar implica dizer que Deus poderia pecar. Wayne Grudem argumenta da seguinte forma:
Nesse ponto, portanto, vamos além das afirmações claras da Bíblia e tentamos apresentar uma solução para o problema de Cristo poder ou não cometer pecado? Mas é importante reconhecer que a seguinte solução é por natureza mais um jeito de combinar vários ensinos bíblicos, não sendo diretamente sustentada por declarações explícitas das Escrituras. Tendo isso em mente, é adequado dizer: (1) Se a natureza humana tivesse existido por si só, independentemente de sua natureza divina, teria sido a mesma natureza humana que Deus deu a Adão e a Eva. Estaria isenta de pecado, mas mesmo assim seria capaz de pecar. Por conseguinte, se a natureza humana de Jesus tivesse existido por si, haveria a possibilidade abstrata ou teórica de Jesus ter pecado, assim como a natureza humana de Adão e Eva era capaz de pecar. (2) Mas a natureza humana jamais existiu à parte da união com sua natureza divina. Desde o momento de sua concepção, ele existiu como verdadeiro Deus e também verdadeiro homem. Tanto sua natureza humana como sua natureza divina existiram unidas em uma pessoa. (3) Embora Jesus tivesse experimentado algumas coisas (tais como fome, sede ou fraqueza) só em sua natureza humana e não em sua natureza divina [...], um ato pecaminoso seria um ato moral que, aparentemente, teria envolvido toda a pessoa de Cristo. Assim, se tivesse pecado, isso teria envolvido sua natureza divina bem como a humana. (4) Mas se Jesus como pessoa tivesse pecado, implicando tanto a natureza humana como a divina no pecado, então o próprio Deus teria pecado e teria deixado de ser Deus. Mas é claro que isso é impossível por causa da santidade infinita da natureza de Deus. (5) Assim, se perguntarmos se de fato era possível Jesus pecar, parece que precisamos concluir que isso não era possível. A união de sua natureza humana e divina em uma pessoa o impediria de pecar.
GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática, 1ª ed. São Paulo: Edições Vida Nova, 1999. p. 443-444.

Isso não torna as tentações irreais?

Alguns, então, poderão pergunta: mas será que uma pessoa que não cai em tentação é, de fato, tentada? ou uma pessoa que não pode pecar é totalmente humana? Sobre isso, Franklin Ferreira e Alan Mayatt respondem:
Podemos argumentar que a pessoa que resiste à tentação conhece todo o poder da tentação. A impecabilidade de Cristo “aponta para uma tentação muito mais intensa, não menos intensa”. Alguém que cede à tentação não sente todo o seu poder, pois cede enquanto a tentação ainda não chegou à sua força total, não chegou ao seu extremo. Somente o homem que não cede a uma tentação, “no que diz respeito àquela tentação em particular, é impecável, [e] conhece aquela tentação em toda sua extensão”.
Mas uma pessoa que não peca é realmente humana? Como Erickson destaca, “se dissermos não, estamos sustentando que o pecado faz parte da essência da natureza humana”. Indo um pouco além, “tal concepção deve ser considerada uma heresia por qualquer pessoa que creia que a humanidade foi criada por Deus, já que Deus seria então a causa do pecado, o criador de uma natureza essencialmente má”. Como abordado no capítulo 11, segundo as Escrituras, o pecado não faz parte da essência da natureza humana. Erickson destaca que a pergunta correta é: somos tão humanos quanto Jesus? “Pois o tipo de natureza humana que cada um de nós possui não é a natureza humana pura. A verdadeira humanidade criada por Deus foi, no nosso caso, corrompida e danificada. No fim, só houve três seres humanos puros: Adão e Eva, antes da queda — e Jesus”.143 Após a queda, os seres humanos não passam de versões corrompidas da humanidade. Como Ericskson conclui: “Jesus não é apenas tão humano quanto nós; ele é mais humano. Nossa humanidade não é um padrão pelo qual possamos medir a dele. Sua humanidade, verdadeira e não adulterada, é o padrão pelo qual nós seremos medidos”.
FER­REIRA, Franklin. MYATT Alan. Teolo­gia Sis­temática, 1ª ed. São Paulo: Vida Nova, 2007. p. 523. (grifos meus)

Por que a impecabilidade de Jesus é importante

Ronald Hanko conclui:
Que Cristo não tinha pecado significa que ele não tinha o pecado original, o pecado que temos de Adão (Rm. 5:12). Nesse respeito, também, ele era imaculado. O nascimento virginal de Jesus e o fato que Deus era seu Pai, também o Pai de sua natureza humana, garantiu que dentre todos os descendentes de Adão, Cristo somente nasceu puro e santo.
Ele não somente não tinha o pecado original; ele também não tinha nenhum pecado real. Durante toda a sua vida, desde o tempo quando nasceu, Cristo nunca quebrou os mandamentos de Deus, nunca errou (nem infinitesimamente), e nunca falou uma palavra frívola que não glorificasse a Deus. Ele era perfeito!
Em suma, portanto, sua impecabilidade significa que ele não tinha o pecado original, nem qualquer pecado real e não tinha a possibilidade de pecar. Isso, como Hebreus nos diz, é a razão dele poder ser nosso Salvador.
Como alguém sem pecado, ele não precisava oferecer sacrifício primeiro pelos seus próprios pecados, mas foi capaz de oferecer em nosso favor um sacrifício perfeito (Hb. 7:27). Portanto, ele pôde se fazer pecado em nosso lugar, para que pudéssemos ser feitos a justiça de Deus nele (2Co. 5:21).
A impecabilidade de Cristo, então, é a garantia que sua justiça é perfeita, e que ela é nossa. Tudo o que ele mereceu por sua morte ele não precisava para si mesmo; ele adquiriu para nós, que estávamos em tão grande necessidade.
HANKO, Ronald. A Natureza Humana Sem Pecado de Cristo. Disponível em . Acesso em: 17 de set. de 2007.


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