Extraído de: Monergismo.com
Em seu
famoso livro, A Natureza Humana em Seu Quádruplo Estado, o Puritano Escocês,
Thomas Boston (1676-1732) nos informa que os quatro estados da natureza humana
são: (a) Integridade Primitiva; (b) Completa Depravação; (c) Recuperação
Iniciada; e (d) Felicidade ou Miséria Consumada.
Estes quatro estados, que são derivados das Escrituras,
correspondem aos quatro estados do homem em relação ao pecado enumerados por
Agostinho de Hipona: (a) capacidade para pecar, capacidade para não pecar
(posse peccare, posse non peccare); (b) incapacidade para não pecar (non posse
non peccare); (c) capacidade para não pecar (posse non peccare); e (d)
incapacidade para pecar (non posse peccare). O primeiro estado corresponde ao
estado do homem na inocência, antes da Queda; o segundo estado do homem natural
após a Queda; o terceiro estado do homem regenerado; e o quarto do homem
glorificado.
Deve ser notado que em todos os quatro estados, o homem é
livre para escolher o que fazer ou não de acordo com sua vontade. Sua vontade é
livre porque ela não é forçada ou compelida por algo exterior. Todavia, sua
vontade é determinada por suas próprias inclinações morais. Isto significa que
enquanto o homem glorificado sempre escolherá fazer o bem porque a inclinação
do seu coração será sempre a de glorificar a Deus; o homem natural caído sempre
fará o que é mal (aos olhos de Deus), porque seus motivos nunca são puros, e
jamais glorificam a Deus.
Antes da Queda, o homem era capaz de escolher fazer tanto o
bem como o mal, seu coração, e assim sua inclinação e disposição, sendo
inocente e não corrompido pelo pecado. Mas o estado de Adão era mutável e
quando Satanás tentou Eva, e então através de Eva, o tentou, ele escolheu pecar
contra Deus comendo o fruto proibido e assim caindo do estado de inocência.
- Citado de Pilgrim Covenant Church
Homem
Pré-Queda
|
Homem
Pós-Queda
|
Homem
Renascido
|
Homem
Glorificado |
capaz de pecar
|
capaz de pecar
|
capaz de pecar
|
capaz de não pecar
|
capaz de não pecar
|
incapaz de não
pecar
|
capaz de não pecar
|
incapaz DE PECAR
|
Eis aqui algo que o próprio Agostinho disse sobre isto:
A capacidade original do homem incluía tanto o poder para não pecar como o poder para pecar ( posse non peccare et posse peccare ). No pecado original de Adão, o homem perdeu o posse non peccare (o pode para não pecar) e reteve o posse peccare (o poder para pecar) - o qual ele continua a exercer. Na concretização da graça, o homem terá o posse peccare retirado e receberá o mais alto de todos, o poder para não ser capaz de pecar, non posse peccare.
Cf. On Correction and Grace XXXIII.
AGOSTINHO, ENCHIRIDION, CAPÍTULO 118. -- OS QUATRO ESTÁGIOS
DA VIDA CRISTÃ, E OS QUATRO ESTÁGIOS CORRESPONDENTES DA HISTÓRIA DA IGREJA.
Quando, afundado nas escuras profundezas da ignorância, o
homem vive de acordo com a carne despreocupado de qualquer luta da razão ou
consciência, este é seu primeiro estado. Mais tarde, quando através da lei veio
o conhecimento do pecado, e o Espírito de Deus ainda não interpôs Seu auxílio,
o homem, aspirando viver de acordo com a lei, é frustrado em seus esforços e
cai em pecado consciente, e assim, sendo sujeitado pelo pecado, torna-se seu
escravo ("porque daquele por quem o homem é sujeitado, do mesmo ele é
trazido em cativeiro" (4)); e dessa forma o efeito produzido pelo conhecimento
dos mandamentos é este, que o pecado opera no homem toda maneira de
concupiscência, e ele é envolvido na culpa adicional de transgressão
deliberada, e isso cumpre o que está escrito: "A lei entrou para que a
Ofensa pudesse abundar". (5) Este é o segundo estado do homem. Mas se Deus
tem cuidado para com ele, e lhe inspira com fé na ajuda de Deus, e o Espírito
de Deus começa a operar nele, então o eficaz poder do amor esforça-se contra o
poder da carne; e embora ainda haja na própria natureza do homem um poder que
luta contra ele (porque sua enfermidade não é completamente curada), todavia
ele vive a vida do justo pela fé, e vive na justiça no que diz respeito à não
se render à perversa luxúria, mas conquista-a pelo amor da santidade. Este é o
terceiro estado de homem de boa esperança; e aquele que pela constante piedade
avança neste curso, alcançará no final a paz, aquela paz que, depois que toda
esta vida tiver acabado, será aperfeiçoada no repouso do espírito, e finalmente
na ressurreição do corpo. Destes quatro estágios o primeiro é antes da lei, o
segundo é sob a lei, o terceiro é sob a graça, e o quarto é em completa e
perfeita paz. Assim, também, a história do povo de Deus tem sido ordenada de
acordo com Seu agrado de dispor todas as coisas em número, e medida, e peso.
(6). Porque a igreja existiu primeiro antes da lei, então sob a lei, que foi
dado por Moisés; então sob a graça, que foi primeiramente manifesta na vinda do
Mediador. Não, deveras, que esta graça estivesse ausente anteriormente, mas, em
harmonia com os arranjos do tempo, ela estava velada e oculta. Porque ninguém,
até mesmo os justos homens do passado, poderia encontrar salvação aparte da fé
de Cristo; a menos que Ele tivesse feito conhecido a eles poderia seus
ministérios ter sido usados para conduzir profecias concernentes a Ele para
nós, algumas mais claras, e algumas mais obscuras.
Disto [capítulo 118 do ENCHIRIDION] nós concluímos,
novamente com Agostinho, que:
- os filhos de Deus são movidos por Seu Espírito para fazer tudo o que é para ser feito.
- eles são trazidos por Ele, de um estado involuntário para serem feitos dispostos.
- desde a queda é devido somente a graça de Deus que o homem aproxima-se dEle.
- é devido somente esta mesma graça que Deus não retrocede ou retira-Se dele.
- nós sabemos que nenhuma coisa boa que é nossa, pode ser achada em nossa vontade.
- pela magnitude do primeiro pecado, perdemos a liberdade da vontade para crermos em Deus e vivermos vidas santas.
- portanto "não depende de quem quer, nem de quem corre" - não porque não devamos querer ou correr, mas porque é Deus que efetua tanto o querer como o efetuar.
Traduzido por: Felipe Sabino de Araujo Neto
Cuiabá-MT,
08 de Novembro de 2003.
Extraído de: http://www.monergismo.com/textos/livre_arbitrio/naturezahumana.htm