“Então os escribas e fariseus trouxeram-lhe uma mulher apanhada em adultério; e pondo-a no meio, disseram-lhe: Mestre, esta mulher foi apanhada em flagrante adultério. Ora, Moisés nos ordena na Lei que as tais sejam apedrejadas. Tu, pois, que dizes?”
(João 8:3-5)
Desde o início do ministério público, um dos maiores desejos dos escribas e dos fariseus era provar que Cristo era um inimigo da Lei de Deus dada por meio de Moisés. Havia razões importantes para isso. Primeiro, Cristo havia feito exatamente mesma acusação contra eles no Sermão do Monte, logo no início de Seu ministério público:
“Não penseis que vim destruir a Lei ou os profetas; não vim destruir, mas cumprir. Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, de modo nenhum passará da Lei um só i ou um só til, até que tudo seja cumprido. Qualquer, pois, que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no reino dos céus. Pois eu vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus”.
(Mateus 5:17-20)
Os escribas e fariseus eram reconhecidos em Israel como os grandes mestres da Lei. Cristo passou todo o Seu ministério público derrubando esse mito:
“Então chegaram a Jesus uns fariseus e escribas vindos de Jerusalém, e lhe perguntaram: Por que transgridem os teus discípulos a tradição dos anciãos? pois não lavam as mãos, quando comem. Ele, porém, respondendo, disse-lhes:E vós, por que transgredis o mandamento de Deus por causa da vossa tradição? [...] E assim por causa da vossa tradição invalidastes a palavra de Deus. Hipócritas! bem profetizou Isaías a vosso respeito, dizendo: Este povo honra-me com os lábios; o seu coração, porém, está longe de mim. Mas em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homem”.
(Mateus 15:1-3,6-9)
“Ai de vós, doutores da Lei! Porque tirastes a chave do conhecimento; vós mesmos não entrastes, e impedistes aos que entravam”.
(Lucas 11:52)
“Não vos deu Moisés a Lei? No entanto nenhum de vós cumpre a Lei”
(João 7:19)
O que Cristo continuamente demonstrou foi que os escribas e fariseus eram os grandes deturpadores e transgressores, não mestres, da Lei dada por Moisés. Desta maneira, se cumpriu na vida de Cristo o que está escrito no livro dos Salmos: “Os soberbos zombaram grandemente de mim; contudo não me desviei da tua Lei. Lembro-me dos teus juízos antigos, ó Senhor, e assim me consolo. Grande indignação apoderou-se de mim, por causa dos ímpios que abandonam a tua Lei” (Sl 119:51-53). Jesus, não eles, guardavam a Lei dada por Moisés. Sua doutrina era diferente do que eles ensinavam porque Ele somente era fiel aos mandamentos de Seu Pai. As multidões perceberam essa diferença já no Sermão do Monte: “Ao concluir Jesus este discurso, as multidões se maravilhavam da sua doutrina; porque as ensinava como tendo autoridade, e não como os escribas” (Mt 7:28-29).
Para aqueles que conheciam e criam no Antigo Testamento, a fidelidade de Cristo aos mandamentos de Deus não foi nenhuma surpresa ou novidade. Jesus é o Messias prometido. Segundo os antigos profetas, quando o Messias viesse, Ele confirmaria e estabeleceria a Lei como padrão de justiça para todos os povos:
“Acontecerá nos últimos dias que se firmará o monte da casa do Senhor, será estabelecido como o mais alto dos montes e se elevará por cima dos outeiros; e concorrerão a ele todas as nações. Irão muitos povos, e dirão: Vinde, e subamos ao monte do Senhor, à casa do Deus de Jacó, para que nos ensine os seus caminhos, e andemos nas suas veredas; porque de Sião sairá a Lei, e de Jerusalém a Palavra do Senhor. E Ele julgará entre as nações, e repreenderá a muitos povos; e estes converterão as suas espadas em relhas de arado, e as suas lanças em foices; uma nação não levantará espada contra outra nação, nem aprenderão mais a guerra”.
(Isaías 2:2-4)
“Eis aqui o meu servo, a quem sustenho; o meu escolhido, em quem se compraz a minha alma; pus o meu Espírito sobre ele. Ele trará justiça às nações. Não clamará, não se exaltará, nem fará ouvir a sua voz na rua. A cana trilhada, não a quebrará, nem apagará o pavio que fumega; em verdade trará a justiça; não faltará nem será quebrantado, até que ponha na terra a justiça; e as ilhas aguardarão a sua Lei. Assim diz Deus, o Senhor, que criou os céus e os desenrolou, e estendeu a terra e o que dela procede; que dá a respiração ao povo que nela está, e o espírito aos que andam nela. Eu o Senhor te chamei em justiça; tomei-te pela mão, e te guardei; e te dei por pacto ao povo, e para luz das nações”.
(Isaías 42:1-6)
“Atendei-me, povo meu, e nação minha, inclinai os ouvidos para mim; porque de mim sairá a Lei, estabelecerei a minha justiça como luz dos povos. Perto está a minha justiça, vem saindo a minha salvação, e os meus braços governarão os povos; as ilhas me aguardam, e no meu braço esperam. Levantai os vossos olhos para os céus e olhai para a terra em baixo; porque os céus desaparecerão como a fumaça, e a terra se envelhecerá como um vestido; e os seus moradores morrerão semelhantemente; a minha salvação, porém, durará para sempre, e a minha justiça não será abolida. Ouvi-me, vós que conheceis a justiça, vós, povo, em cujo coração está a minha Lei; não temais o opróbrio dos homens, nem vos turbeis pelas suas injúrias”.
(Isaías 51:4-7)
É por isso que no Sermão do Monte Cristo confirmou, defendeu e explicou a Lei. Como o verdadeiro Messias, Ele veio cumprir os profetas. E, como era o caso do profeta de Isaías, ele também lutava contra aqueles que substituíam a Lei de Deus por “doutrinas que são preceitos de homem.” (Mt 15:9; Is 29:13). Uma maneira de entender a relação entre Cristo e os escribas e fariseus em Israel é da seguinte maneira: um estelionatário, com um diploma falso, se passa por médico e engana leigos até que um médico de verdade o desmascara dentro de alguns minutos, demonstrando que o estelionatário é na verdade um grande ignorante sobre os princípios mais rudimentares da medicina. Foi basicamente isso que Jesus fez contra os escribas e fariseus. Desmascarou falsos doutores da Lei. Como diz Provérbios: “Os que abandonam a Lei louvam os ímpios; mas os que guardam a Lei pelejam contra eles” (Pv 28:4). Tendo sido desmascarados, os escribas e fariseus passaram a viver obcecados com duas ideias fixas: arrumar meios de matar Jesus e formular perguntas capciosas para demonstrar que Cristo era um falso mestre e falso profeta e, portanto, não poderia ser o Messias:
“Então chegaram a ele os fariseus e os saduceus e, para o experimentarem, pediram-lhe que lhes mostrasse algum sinal do céu”.
(Mateus 16:1)
“Aproximaram-se dele alguns fariseus que o experimentavam, dizendo: É lícito ao homem repudiar sua mulher por qualquer motivo?”
(Mateus 19:3)
“E eis que se levantou certo doutor da Lei e, para o experimentar, disse: Mestre, que farei para herdar a vida eterna?”
(Lucas 10:25)
“Ai de vós, doutores da Lei! Porque tirastes a chave da ciência; vós mesmos não entrastes, e impedistes aos que entravam. Ao sair ele dali, começaram os escribas e os fariseus a apertá-lo fortemente, e a interrogá-lo acerca de muitas coisas, armando-lhe ciladas, a fim de o apanharem em alguma coisa que dissesse”.
(Lucas 11:52-54)
Foi isso que eles tentaram fazer quando levaram a mulher adúltera até Ele:
“Disseram-lhe: Mestre, esta mulher foi apanhada em flagrante adultério. Ora, Moisés nos ordena na Lei que as tais sejam apedrejadas. Tu, pois, que dizes? Isto diziam eles, tentando-o, para terem de que o acusar. Jesus, porém, inclinando-se, começou a escrever no chão com o dedo”.
(João 8:4-6)
Jesus defenderia a Lei ou não? Infelizmente, muitos cristãos modernos caem na cilada deles. Não por serem tentados nas mesmas circunstâncias Cristo foi, mas porque acreditam que Ele de fato contrariou e quebrou a Lei. Entendem que se Cristo tivesse observado a Lei, aquela mulher teria sido executada. O que percebem é que, ao dizer isso, estão se colocando ao lado dos escribas e fariseus. “Isto diziam eles, tentando-o, para terem de que o acusar”. Se a acusação fosse verdadeira, os escribas e fariseus seriam justificados em denunciar Jesus como um falso mestre. Se a acusação fosse verdadeira, Jesus seria simplesmente mais um falso Messias. Mas essa conclusão parte de ignorância da Lei. Para aqueles que de fato conhecem os detalhes da Lei e de sua aplicação, não há dúvidas de que a acusação dos escribas e fariseus era falsa. Há três coisas especialmente importantes que precisamos entender sobre o caso.
1) O adultério era crime segundo a Lei.
Assim como matar ou roubar são crimes no Brasil, o adultério era crime segundo a Lei de Moisés. Alias, o adultério também era crime no Brasil até 2005. No caso da Lei de Moisés, a pena era a morte:
“O homem que adulterar com a mulher de outro, sim, aquele que adulterar com a mulher do seu próximo, certamente será morto, tanto o adúltero, como a adúltera”.
(Levítico 20:10)
“Se um homem for encontrado deitado com mulher que tenha marido,morrerão ambos, o homem que se tiver deitado com a mulher, e a mulher. Assim exterminarás o mal de Israel”.
(Deuteronômio 22:22)
É importante observar nestes textos que a pena deveria ser aplicada tanto no homem quanto na mulher: “morrerão ambos, o homem que se tiver deitado com a mulher, e a mulher”. Os escribas e fariseus disseram ter encontrado aquela mulher “em flagrante adultério” (Jo 8:4). Onde estava o homem que adulterava com ela? Por que somente a mulher adúltera foi levada até Jesus? Isso era transgredir a Lei.
2) Era necessário haver duas testemunhas do crime para que alguém recebesse pena capital.
“Uma só testemunha não se levantará contra alguém por qualquer iniquidade, ou por qualquer pecado, seja qual for o pecado cometido; pela boca de duas ou de três testemunhas se estabelecerá o fato”.
(Deuteronômio 19:15)
Para que alguém fosse condenado à morte, pelo menos duas testemunhas do crime precisavam se apresentar. Sem isso, ninguém poderia receber pena capital.
3) O crime deveria ser julgado e investigado por magistrados legalmente instituídos.
“Juízes e oficiais porás em todas as tuas cidades que o Senhor teu Deus te dá, segundo as tuas tribos, para que julguem o povo com justiça. Não torcerás o juízo; não farás acepção de pessoas, nem receberás peitas; porque a peita cega os olhos dos sábios, e perverte a causa dos justos. A justiça, somente a justiça seguirás, para que vivas, e possuas em herança a terra que o Senhor teu Deus te dá”.
(Deuteronômio 16:18-20)
“Toda alma esteja sujeita às autoridades superiores; porque não há autoridade que não venha de Deus; e as que existem foram ordenadas por Deus. Por isso quem resiste à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos a condenação. Porque os magistrados não são motivo de temor para os que fazem o bem, mas para os que fazem o mal. Queres tu, pois, não temer a autoridade? Faze o bem, e terás louvor dela; porquanto ela é ministro de Deus para teu bem. Mas, se fizeres o mal, teme, pois não traz debalde a espada; porque é ministro de Deus, e vingador em ira contra aquele que pratica o mal”.
(Romanos 13:1-4)
“Sujeitai-vos a toda autoridade humana por amor do Senhor, quer ao rei, como soberano, quer aos governadores, como por Ele enviados para castigo dos malfeitores, e para louvor dos que fazem o bem”.
(I Pedro 2:13-14)
Parte da obrigação dos magistrados era a de investigar as testemunhas para saber se eram falsas ou não. Caso fossem falsas, deveriam receber a mesma pena que tentavam aplicar contra o próximo:
“E os juízes inquirirão cuidadosamente; e eis que, sendo a testemunha falsa, e falso o testemunho que deu contra seu irmão, far-lhe-ás como ele cuidava fazer a seu irmão; e assim exterminarás o mal do meio de ti. Os restantes, ouvindo isso, temerão e nunca mais cometerão semelhante mal no meio de ti”.
(Deuteronômio 19:17-20)
Sendo assim, temos que nos perguntar: quem eram os magistrados e juízes legalmente constituídos no tempo de Cristo? Não era o próprio Cristo, como Ele mesmo deixou claro:
“Disse-lhe alguém dentre a multidão: Mestre, dize a meu irmão que reparte comigo a herança. Mas ele lhe respondeu: Homem, quem me constituiu a mim juiz ou repartidor entre vós?”
(Lucas 12:13-14)
Cristo não era um magistrado e a autoridade civil estava nas mãos dos romanos, como os próprios escribas e fariseus reconheceram no julgamento de Cristo:
“Então Pilatos saiu a ter com eles, e perguntou: Que acusação trazeis contra este homem? Responderam-lhe: Se ele não fosse malfeitor, não to entregaríamos. Disse-lhes, então, Pilatos: Tomai-o vós, e julgai-o segundo a vossa lei. Disseram-lhe os judeus: A nós não nos é permitido tirar a vida a ninguém”.
(João 18:29-31)
Os judeus estavam sob o domínio de Roma e por isso eles não tinham autoridade para aplicar a pena de morte contra ninguém. Como, então, eles poderiam aplicar a pena contra a mulher adúltera? É por isso eles tiveram que entregar Cristo aos romanos. Somente eles tinham autoridade para isso. Mas Pilatos não estava muito interessado em lidar com o caso. Os judeus estavam acusando Jesus de coisas como blasfêmia (Mt 26:65-66; Jo 5:18). Por que Pilatos estaria interessado em condenar alguém por algo assim se ele mesmo não cria no Deus dos judeus? Foi o mesmo que aconteceu quando os judeus entregaram Paulo aos magistrados romanos para ser julgados:
“Sendo Gálio procônsul da Acaia, levantaram-se os judeus de comum acordo contra Paulo, e o levaram ao tribunal, dizendo: Este persuade os homens a render culto a Deus de um modo contrário à Lei. E, quando Paulo estava para abrir a boca, disse Gálio aos judeus: Se de fato houvesse, ó judeus, algum agravo ou crime perverso, com razão eu vos sofreria; mas, se são questões de palavras, de nomes, e da vossa Lei, disso cuidai vós mesmos; porque eu não quero ser juiz destas coisas. E expulsou-os do tribunal”.
(Atos 18:12-16)
É por isso que eles tiveram que inventar outra acusação: que Jesus usurpava o trono e a autoridade do Imperador, de César:
“Daí em diante Pilatos procurava soltá-lo; mas os judeus clamaram: Se soltares a este, não és amigo de César; todo aquele que se faz rei é contra César. Pilatos, pois, quando ouviu isto, trouxe Jesus para fora e sentou-se no tribunal, no lugar chamado Pavimento, e em hebraico Gabatá. Ora, era a preparação da páscoa, e cerca da hora sexta. E disse aos judeus: Eis o vosso rei. Mas eles clamaram: Tira-o! tira-o! crucifica-o! Disse-lhes Pilatos: Hei de crucificar o vosso rei? responderam, os principais sacerdotes:Não temos rei, senão César. Então lho entregou para ser crucificado”
(João 19:12-16)
Isso esclarece porque os escribas e fariseus pensaram que tinham colocado Jesus num beco sem saída. A Lei de Moisés estabelecia pena capital contra adúlteros. Mas isso só podia ser aplicado por quem fosse um magistrado legalmente constituído. Se Jesus se recusasse a aplicar a pena, eles poderiam acusa-Lo de transgredir e anular Moisés. Mas se Ele aceitasse aplicar a pena, Ele estaria se colocando na posição e um magistrado, como um Rei e, com base nisso, eles poderiam entrega-Lo aos romanos como um revolucionário, usurpador do trono de César. No entendimento deles, independente do que Jesus fizesse, eles teriam algo para acusá-Lo.
“Mas o próprio Jesus não confiava a eles, porque os conhecia a todos, e não necessitava de que alguém lhe desse testemunho do homem, pois bem sabia o que havia no homem”. (Jo 2:24-25) Jesus conhecia bem a iniquidade deles e também conhecia bem a Lei de Seu Pai. O julgamento era ilegal pelos padrões da própria Lei. Primeiro, não é possível praticar o adultério sozinho. A mulher adúltera não podia ser julgada e condenada sem o homem que adulterou com ela: “Morrerão ambos, o homem que se tiver deitado com a mulher, e a mulher” (Dt 22:22). Segundo, a Lei proibia que qualquer pessoa fosse condenada a morte sem que o suspeito fosse devidamente julgado pelos magistrados civis junto com pelo menos duas testemunhas. As coisas eram resolvidas em um tribunal legalmente instituído, não com bandos correndo pelas ruas com pedras na mão. Por isso Cristo condenou a hipocrisia deles:
“Isto diziam eles, tentando-o, para terem de que o acusar. Jesus, porém, inclinando-se, começou a escrever no chão com o dedo. Mas, como insistissem em perguntar-lhe, ergueu-se e disse- lhes: Aquele dentre vós que está sem pecado seja o primeiro que lhe atire uma pedra. E, tornando a inclinar-se, escrevia na terra. Quando ouviram isto foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos, até os últimos; ficou só Jesus, e a mulher ali em pé”
(João 8:6-9)
Aqui é importante observar que quando Jesus disse “seja o primeiro que lhe atire a pedra”, Ele estava falando diretamente com aqueles que eram as testemunhas:
“Pela boca de duas ou de três testemunhas, será morto o que houver de morrer; pela boca duma só testemunha não morrerá. A mão das testemunhas será a primeira contra ele, para matá-lo, e depois a mão de todo o povo; assim exterminarás o mal do meio de ti”.
(Deuteronômio 17:6-7)
Isso deixa claro, então, que Cristo não anulou o transgrediu a Lei, mas guardou cada “jota e til” (Mt 5:18). Quando Ele disse “seja o primeiro que lhe atire a pedra”, Ele estava simplesmente reafirmando Deuteronômio 17:6-7. É como se Ele os dissesse: “Se isto é um julgamento lícito, se você está verdadeiramente observando os mandamentos de Deus, se o que você faz aqui não é pecaminoso, mas é feito em pureza e justiça, como Moisés mandou, então vai, podem aplicar a pena, começando pelas testemunhas, seja o primeiro que lhe atire a pedra”. O problema não estava na Lei, no que Moisés havia ordenado, mas na hipocrisia e injustiça daqueles que estavam querendo aplica-La naquelas circunstâncias. Com as penas do próprio Moisés, Cristo não tinha nenhum problema, como Ele deixou claro em Mateus 15:4. Mas, como Ele mesmo havia ensinado, “se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus” (Mt 5:20).
Muitos erradamente inferem que em João 8:7, quando Ele mandou que Deuteronômio 17:6-7 fosse observado, Ele estava dizendo que somente aqueles que são absolutamente puros e imaculados podem aplicar penas, ou seja, ninguém. Mas isso é tirar o texto de seu devido contexto e é colocar Cristo contra Moisés. Quando Moisés mandou instituir juízes, ele não disse que somente pessoas absolutamente puras e imaculadas poderiam servir como juízes. O que aprendemos na Lei é que devem ser homens “tementes a Deus” (Êx 18:18), “para que julguem o povo com justiça” (Dt 16:18) e “não torçam o juízo” (Dt 16:19). Como a mãe do rei Lamuel lhe ensinou: “Abre a tua boca;julga retamente, e faze justiça” (Pro 31:9). Sendo assim, quando Jesus mandou que Deuteronômio 17:6-7 fosse observado, “Aquele dentre vós queestá sem pecado seja o primeiro que lhe atire uma pedra” (Jo 8:7), Ele estava falando do pecado específico de incitar e participar de um julgamento iníquo, contrário a Lei de Deus, com o objetivo de acusa-Lo falsamente. Juízes e testemunhas justas, em um tribunal legalmente instituído, não se enquadram nisso. Pois, “o caminho do ímpio é abominável ao Senhor; mas Ele ama ao que segue a justiça” (Pv 15:9). Por isso Ele prometeu por meio do profeta Isaías que a nação voltaria a ter juízes justos, para julgar com justiça:
“Voltarei contra ti a minha mão, e purificarei como com potassa a tua escória; e tirar-te-ei toda impureza; e te restituirei os teus juízes, como eram dantes, e os teus conselheiros, como no princípio, então serás chamada cidade de justiça, cidade fiel”.
(Isaías 1:25-2)
João 8 nos ensina, então, algumas lições importantes:
1) Jesus era verdadeiramente comprometido com a Lei de Deus e não com as falsas interpretações dadas pelos escribas e fariseus.
2) Devemos nos sujeitar as autoridades legalmente constituídas.
3) A graça e o perdão de Deus pode atingir até mesmo os criminosos. Adúlteros, assassinos, ladrões e blasfemos podem ser reconciliados com Deus por meio de Jesus Cristo.