TEXTO-CHAVE: GÊNESIS 6.2
Versão: Português: João Ferreira de Almeida Corrigida e
Revisada, Fiel
Viram os filhos de Deus que as filhas
dos homens eram formosas; e tomaram para si mulheres de todas as que
escolheram.
|
Poucos
textos das Escrituras são capazes de gerar tantas dúvidas e divergências como o
de Gênesis 6.2. Tal situação para o estudante da Bíblia torna-se ainda mais
difícil diante do fato de que há mais de uma posição razoavelmente defensável,
defendidas por excelentes eruditos dos escritos sagrados.
Seriam
os Filhos de Deus anjos, descendentes de sete, ou reis? E as filhas dos homens,
são mulheres descendentes de Adão ou especificamente descendentes de Caim?
Este
estudo tem o objetivo de apresentar
diversas interpretações conflitantes sobre o tema. Longe de fechar questão,
nosso objetivo é conduzir o leitor em uma visão
abrangente do debate. Embora não adotemos explicitamente um ponto de vista,
criticaremos alguns que nos parecem fugir do âmbito de permissão das
Escrituras.
Antes
de iniciarmos, vale uma advertência: tendo em vista a concorrência de boas
opiniões sobre o assunto, particularmente adotamos a postura de que este texto não deve ser utilizado de forma
isolada para sustentar doutrinas cristãs. Qualquer ensinamento que exija o
comprometimento com alguma interpretação específica desse texto demonstra sua
fragilidade. Não estou dizendo que qualquer texto em que exista uma divergência
de opiniões não deve ser usado para estabelecer doutrina. Este texto é um caso
isolado, pois mais de um ponto de vista é coerente. Em inúmeros outros
versículos há divergências, mas percebe-se notadamente que uma interpretação é
muito mais sólida com toda a Escritura. Não nos parece ser o caso de Gênesis
6.2. Aqui duas ou três posições possuem uma lista de argumentos notáveis.
Assim,
não devemos classificar um grupo como
ortodoxo e outro como herético simplesmente por divergência nessa questão.
Diante
de todo o exposto, convido o caro leitor a ingressar no estudo e análise de um
dos textos mais misteriosos e polêmicos de toda a Bíblia. Seguiremos o mesmo
formato para todos os pontos de vista:
Apresentação,
principais defensores, argumentos utilizados e uma breve conclusão. Aproveite a
leitura!
1ª POSIÇÃO – OS “FILHOS
DE DEUS” ERAM DESCENDENTES DE SETE. AS FILHAS DOS HOMENS ERAM DESCENDENTES DE
CAIM
a) Apresentação
Essa
tem sido a interpretação cristã mais tradicional desde o século 3º d.C. Segundo
este entendimento os Filhos de Deus são os descendentes de Sete. Já as filhas
dos homens são descendentes de Caim. Nesse sentido, a mistura dessas duas
sementes contaminou a linhagem piedosa de Sete. O remédio para este “jugo
desigual” foi o dilúvio.
b) Defensores:
- Efrém da
Síria (306-373 d.C)
- Agostinho
de Hipona (354-430 d.C)
- Martinho
Lutero (1483-1546 d.C)
- João
Calvino (1509-1564 d.C)
- Bíblia
de Estudo Apologética, pg 11
- Bíblia
de Estudo Pentecostal, pg 41
- Wayne
Grudem (Teologia Sistemática, pg; 336.)
c) Argumentos:
·
Anjos não se casam (Mateus
22.30 e Marcos 12.25)¹
A expressão “tomar para si” é linguagem
própria para referir-se ao casamento no Antigo Testamento. Se em Gênesis 6
fossem anjos haveria uma contradição com a afirmação de Jesus.
Conforme afirma Keil, “no versículo 2 se declara que “viram os filhos de Deus que as filhas
dos homens eram formosas; e tomaram para si mulheres de todas as que
escolheram” Ora, o termo hebraico “laqach ‘ishah”, tomar uma esposa, é uma
frase que se mantém através de todo o Antigo Testamento para a relação do
matrimônio, estabelecida por Deus na criação, e nunca se aplica a “porneia”,
prostituição, relação sexual ilícita. Isto basta para excluir qualquer
referência aos anjos”. No mesmo sentido afirma S.E.McNair que “A expressão
“tomaram para si mulheres” é usada por todo AT somente com referência ao
casamento legítimo, nunca às relações sexuais ilícitas.”
·
Os textos seguintes a Gênesis
6.2 demonstram que o juízo do dilúvio é contra a humanidade e não contra a
esfera celestial
Especificamente, Gn 6.3 chama os ofensores de “carne” (“basar”, mortal na NVI).
Se os Filhos de Deus eram anjos, alguma referência de juízo sobre eles deveria
aparecer no texto também.
O verso
5 é claro em dizer que o Senhor viu a “maldade do homem”. O versículo 6 diz que o Senhor se
arrependeu de fazer “o homem”. O versículo
12 afirma que toda “carne” havia se corrompido. Conclui-se que apenas a
humanidade esteve envolvida no pecado, pois todo o contexto trata da maldade e
do juízo dos seres humanos.
·
O contexto não permite a presença de anjos
O contexto de Gênesis 4, 5 e 6 não admite a presença de anjos, mas apenas de
seres humanos. Não há referências a anjos.
·
O contexto aponta para duas linhagens
O Capítulo
4 trata da descendência de Caim, apresentando poligamia e assassinato. A
genealogia de Caim começa com Caim – Gênesis
4.17-24.
A partir do versículo 25 do capítulo 4 até o final do capítulo 5 temos a descrição dos descendentes de Sete. Ela começa
com Deus (5.1). Ela aponta para uma
linhagem piedosa. Vejamos:
o
Enos,
filho de Sete começou a invocar o nome do Senhor (Gn 4.26)
o
Enoque
andou com Deus, e Deus o tomou para si (Gn
5.22-23)
o
Lameque (parece ser temente a Deus, pois atribui nome a Noé com
significado relacionado às verdades espirituais – Gn 5.29).
o
Noé andava com Deus e achou graça aos seus olhos (Gn 6. 8, 9)
Assim, pelo contexto, podemos diferencias
duas linhagens, estas melhor explicando as expressões Filhos de Deus e Filhas
dos Homens. Note:
Filhos
de Deus
|
Filhas
dos Homens
|
Descendentes de Sete
|
Descendentes de Caim
|
Registro da genealogia
remete a Deus – Gn 5.1.
(Por isso a expressão
“Filho de Deus”)
|
Registro da genealogia
começa em Caim – Gn 4.17.
(Por isso a expressão
“filhas dos homens”)
|
Linhagem marcada por ser
piedosa.
(Ex. Enos, Enoque,
Lameque e Noé)
|
Linhagem marcada por ser
assassina e polígama.
(Caim e Lameque)
|
·
Gigantes (Nefilins) também aparecem em Números 13.33
Os Nefilins não são um grupo exclusivo
decorrente de eventual relação entre e homem e anjos. Se assim fosse, como
justificar a presença de Nefilins em Números
13.33 (mesma palavra de Gn 6)? Eram descendentes da família de Noé, não de
anjos. Ressalte-se, ainda, que Gn 6.4
afirma que naquele havia já havia gigantes na terra, antes do acontecimento
entre Filhos de Deus e filhas dos homens. ²
Ademais, havia muitos outros gigantes na
época de Moisés, de Josué, de Davi e até mesmo em épocas mais recentes. Ao lado
vemos a foto de Robert Pershing Wadlow, com estatura de 2,75 (quase a mesma do
Gigante Golias). Robert morreu em 1940.
(clique para ampliar) |
Portanto, antes da relação entre os Filhos
de Deus com a filhas dos homens já existiam gigantes, bem como depois do
Dilúvio.
Vale obsevar que traduzir nefilins como
gigantes é algo bastante duvidoso. Sobre o assunto afirma o Dicionário
Internacional de Teologia do Antigo Testamento: “Na realidade, a tradução “gigantes”
fundamenta-se principalmente na LXX e pode trazer bastante confusão. A palavra
pode ser de origem desconhecida e significar “heróis” ou guerreiros violentos.”
(página 980)
·
Anjos são espíritos (Hebreus
1.14)
Em Lucas
24.39 Jesus afirmou que um espírito não tem carne e osso. Hebreus 1.14 afirma que anjos são
espíritos. Logo, anjos são incorpóreos. Não possuem órgãos reprodutores.
Se alguns anjos comeram, isso se dá por
estarem na companhia de Deus e a seu serviço, sendo para isso capacitados por
Deus. Os anjos caídos não tem essa capacidade. Note que os demônios quando
precisam de um corpo não se humanizam, mas possuem um ser humano.
Por fim, como os seres humanos teriam
tranquilidade se anjos, fora da vontade de Deus, resolvessem relacionar-se
sexualmente com humanas outras vezes?
·
Cada um segundo a sua espécie
Os seres criados por Deus se reproduzem
segundo a sua espécie. O ser humano é carne e o anjo é espírito. Essa mistura
gerando filhos violaria a impossibilidade de reprodução de espécies distintas.
Por fim, ressalte-se que criar vida humana
parecer ser um trabalho reservado unicamente a Deus.
·
Homens também são chamados de Filhos de Deus
A expressão Filhos de Deus pode ser
atribuída a seres humanos (Dt 14.1; Os
1.10;2.1). De acordo com Lc 3.37, 38,
o próprio Adão é chamado de filho de Deus.
·
Anjos bons não sentem desejos por mulheres. Anjos caídos não
poderiam ser chamados de filhos de Deus
·
Os Livros apócrifos e pseudoepígrafos que afirmam serem os filhos
de Deus anjos foram produzidos em tempos gnósticos e com forte influência de
mitologias
Os conteúdos destes livros não são dignos
de crédito. Possuem informações absurdas.
Exemplos:
·
I
Enoque afirma que os gigantes que nasceram da relação entre anjos e humanos
possuíam cerca de 1.300 metros de altura (3.000 côvados). O edifício mais alto
do mundo possui cerca de 800 metros de altura (foto ao lado), ou seja, 500
metros menor que os gigantes do Livro de Enoque.
·
Testemunho
dos Doze Patriarcas afirma que os anjos foram atraídos pelas mulheres por causa
dos enfeites no rosto e no cabelo.
d) Conclusão
Este
entendimento realmente possui argumentos sólidos, bem como uma excelente lista
de representantes. Se ele estiver certa, o texto se torna mais simples e menos
misterioso.
Todavia,
não obstante à solidez dos argumentos, esse ponto de vista não está sozinho.
Outras opiniões, são amplamente defendidas na comunidade cristã, apresentando,
também, bons subsídios para suas teses.
2ª POSIÇÃO – OS “FILHOS DE DEUS” ERAM ANJOS. AS FILHAS DOS HOMENS
ERAM MULHERES DESCENDENTES DE ADÃO
a) Apresentação
Bastante
misteriosa, esta corrente ensina que Gênesis 6 apresenta o relato da segunda
queda dos anjos. Os Filhos de Deus seriam anjos que tiveram relações sexuais
com mulheres humanas, gerando filhos. Diante dessa grave mistura o Dilúvio foi
a única solução para o ocorrido.
b) Defensores:
·
Flávio Josefo, História dos Hebreus, CPAD, pg. 80.
·
Justino Mártir, Segunda Apologia (100-165 d.C)
·
Irineu de Lyon (130-202 d.C)
·
Tertuliano (160-220 d.C)
·
Clemente de Alexandria, (150-215 d.C)
·
Nemésio de Emesa (400 d.C)
·
Ambrósio de Milão (340-397 d.C)
·
Comentário Bíblico Moody, Editora Batista Regular, pg. 16
·
Comentário Bíblico Popular, Editora Mundo Cristão, pg. 17
·
Comentário Bíblico Vida Nova, Editora Vida Nova, pg. 108
·
Bíblia de Estudo Plenitude, pg. 12
·
Bíblia de Estudo Anotada, pg. 13
·
Manual Bíblico Unger, Editora Vida Nova, pg. 45
·
Antigo Testamento Interpretado, versículo por versículo, volume
1, pg. 58
·
G.H. Pember, As eras mais primitivas da terra, tomo 1, pg.
205-218
·
Codex Alexandrinus, do século V d.C
c) Argumentos:
- A
Expressão “Filhos de Deus” (Jó 1.6;
2.1; 38.7)
Charles C. Ryrie, comentando o texto de
Gênesis 6, afirma que “a expressão filhos de Deus é usada no AT
quase que exclusivamente com referência aos anjos”.
Nesse sentido, o mais natural seria
entender que aqui a expressão também se refere a anjos.
- Relação
entre os versículos 1 e 2 de
Gênesis capítulo 6
Em Gênesis 6.1 se lê: “Quando os homens (“ha
Adam”) começaram a aumentar... e as filhas (“banot”) lhes deram à
luz”.
“Ha adam” é genérico para humanidade, e “banot”
se refere a toda sua descendência feminina. Seria arbitrário, no próximo
versículo, limitar “adam” aos setitas e “banot”
aos cainitas.
- Judas
versos 6 e 7 se refere ao acontecimento de Gênesis 6
E aos anjos que não guardaram o seu principado, mas
deixaram a sua própria habitação, reservou na escuridão e em prisões eternas até ao juízo daquele
grande dia;
Assim como Sodoma e Gomorra, e as cidades circunvizinhas, que,
havendo-se entregue à fornicação como aqueles, e ido após outra carne, foram postas por exemplo,
sofrendo a pena do fogo eterno.
(Grifos nossos)
Dos textos mencionados seria possível
extrair algumas conclusões:
·
Judas
compara o pecado de Sodoma e Gomorra com o pecado dos anjos ao afirmar “como
aqueles”. Os pecados de Sodoma e Gomorra (homossexualismo) se parece mais com a
mistura de anjos com homens, que seria o caso de Gênesis 6, do que com a
rebelião de satanás.3
·
Estes
anjos estão em prisões, ou seja, com tratamento diferenciado dos anjos que se
rebelaram com Satanás, pois estes estão soltos.4
Assim, a melhor explicação para Judas 6
seria a queda dos anjos em Gênesis 6.
- Anjos
podem se “humanizar”
Anjos foram confundidos com homem em
Sodoma. Estes mesmo anjos comeram com Abraão (Gn 18.8). Algumas pessoas, aliás, praticando a hospitalidade,
acolheram anjos (Hb 13.1),
demonstrando essa capacidade de se humanizar.
- Corroboração
de literatura extrabíblica
Muitos escritos extrabíblicos, datando dos
séculos 2º a.C ao século 2º d.C, dão suporte à idéia de serem anjos os filhos
de Deus citados em Gênesis 6.
- I Enoque, 6.1 – Quando outrora aumentou o número
dos filhos dos homens, nasceram-lhes filhas bonitas e amoráveis. Os anjos, filhos do céus, ao
verem-nas, desejaram-nas e disseram entre si: “Vamos tomar mulheres
dentre as filhas dos homens e gerar filhos.
OBS. Os defensores deste ponto de vista
destacam o fato de que este livro de Enoque foi citado pelo livro inspirado de
Judas, presente na Bíblia (Judas verso
14 seria uma citação de I Enoque 1.6).
E é justamente Judas, no verso 6, que fala de anjos que não
guardaram seu estado original – texto acima já analisado.
- II Baruque 56 – Os anjos desfrutaram de liberdade (...), mas alguns
desceram e misturaram-se com mulheres, e os que fizeram isso ficaram
atormentados em correntes.
- O Livro dos Jubileus, 5.1– E
aconteceu que, quando os filhos dos homens começaram a multiplicar-se
sobre a face da terra e nasceram filhas deles, que os anjos de Deus viram que eram belas à vista...
- Gênesis Apócrifo (História de
Lameque) - Diz ele,
que certo dia Lameque, pai de Noé, voltando para casa de uma viagem de
mais de nove meses, foi surpreendido pela presença de um menino pequenino
que, por seu aspecto físico externo em absoluto não se enquadraria na
família. Lameque levantou pesadas acusações contra sua mulher Bat-Enosh e
afirmou que aquela criança não se originara dele.
Bat-Enosh se defendeu, jurando por tudo
que lhe era sagrado que o sêmem só poderia ser dele, do pai Lameque, pois na
ausência do marido ela não teve o menor contato com nenhum soldado, nem de um
estranho nem de um dos "filhos
do céu".
- Testamento dos Patriarcas, V, 2 – Fugi da prostituição, meus
filhos. Proibi vossas mulheres e vossas filhas enfeitarem a cabeça e o
rosto! Pois toda mulher que recorre a esses ardis atrai sobre si castigo
eterno. Foi dessa maneira que elas também enfeitiçaram os Guardiões antes do dilúvio. Eles
olhavam-nas constantemente, e assim conceberam o desejo por elas.
Engendraram o ato em sua mente, e
transformaram-se em figuras humanas. E quando aquelas mulheres
deitavam-se com os seus maridos, eles vinham e mostravam-se. E as
mulheres em seu pensamento conceberam desejos pelas formas visíveis
deles, e assim deram a luz a
gigantes; pois os Guardiões apareciam-lhes como tendo a estatura
do céu.
- Testemunhos
e Experiências
São muitos os casos de pessoas que afirmam
que tiveram relações sexuais com demônios antes de se converterem ao evangelho.
Estes relatos normalmente se originam de ex-satanistas e outros grupos do mesmo
gênero.
Assim, teríamos a prova de que espíritos
podem relacionar-se sexualmente com seres humanos.
- Mitologia
Alguns defensores desta teoria afirmam
que, provavelmente, os relatos mitológicos de homens de grande força e até de
deuses possuem fundamento histórico nos Nefilins. Há relatos paralelos dos
gregos e romanos que mencionam titãs, criaturas parte humanas parte divinas.
No mundo antigo frequentemente se contavam
histórias de relações sexuais entre os deuses e os seres humanos. Acreditava-se
que os filhos semidivinos de tais uniões possuíssem uma energia anormal e
também outros poderes.
Na Mesopotâmia e em Canaã, casamentos
divino-humanos eram celebrados em rituais matrimoniais sagrados que ocorriam no
templo.
d) Conclusão
Podemos
afirmar que esta posição possui uma lista notável de defensores. Bons
argumentos também são apresentados. Claro que muitos mistérios ecoam em nossas
mentes (Por que os anjos foram atraídos pelas mulheres? Isso pode acontecer
novamente? Como puderam gerar vida?).
Todavia,
uma posição não pode ser rejeitada por ser difícil. O importante é definir:
“Seria esta teoria bíblica”?
3ª POSIÇÃO – OS “FILHOS DE
DEUS” ERAM REIS DA ANTIGUIDADE
a) Apresentação
Segundo
este ponto de vista, os poderosos reis da antiguidade, chamados de filhos da
divindade, tomavam as mulheres que lhes agradavam quando estas se casavam.
Assim, na primeira noite de núpcias, elas eram tomadas de seus maridos para
relações sexuais com os reis.
Outros
afirmam que se refere à criação dos primeiros haréns (Sayão).
De
qualquer forma a interpretação se baseia na ideia de que filhos de Deus seria
reis e homens poderosos da antiguidade.
b) Defensores:
- Comentário
Bíblico Atos do Antigo Testamento, Editora Atos, pg. 35
- Luiz
Sayão, Comentário Rota 66.
c) Argumentos:
- Práticas
Antigas
A prática de casar-se com mulheres que
lhes agradaram provavelmente refere-se ao “direito da primeira noite”, citado
como uma das práticas opressivas dos reis no Épico de Gilgamés. O rei podia
exercer seu direito, como representante dos deuses, de passar a noite de
núpcias com qualquer mulher que tivesse acabado de se casar.
- Esta
explicação esclarece melhor o termo “escolheram para si”
Por exemplo, Faraó levava para o leito a
quem queria (Gn 12.10-20), e assim
fez Davi (I Sm 11).
- Reis da
antiguidade eram chamados de filhos dos deuses
No antigo Oriente Próximo, acreditava-se
que os reis tinham uma relação filial com os deuses, por terem sido gerados
pela divindade.
d) Conclusão
Este
ponto de vista é gramaticalmente possível. Tornaria, também, o entendimento
mais simplificado. Porém, será que este pecado justificaria o Dilúvio? Se
outras situações aparentemente mais graves não receberam drástica intervenção
(inclusive esse mesmo ato é registrado ao longo da história em outras
ocasiões), teria ocorrido a inundação na terra por este motivo? Ficam as
dúvidas.
4ª POSIÇÃO – “FILHOS DE DEUS” ERAM REIS DA ANTIGUIDADE POSSESSOS
POR DEMÔNIOS (COMBINAÇÃO DAS 1° E 3° POSIÇÕES)
a) Apresentação
Nesse
ponto de vista há uma combinação de ideias. Por um lado aceita-se a hipótese de
que anjos se envolveram no ato. Todavia, para solucionar algumas dificuldades
com essa ideia, acrescentam o fato de que eles usaram seres humanos na prática
deste pecado.
b) Defensores
- Comentários
do Antigo Testamento – Gênesis, Editora Cultura Cristã, pgs.139-141
- Bíblia
de Estudo MacArthur, Editora SBB, pg. 25
- Bíblia
de Estudo de Genebra, pg. 18
c) Argumentos
Os
expoentes deste ponte de vista usam os argumentos oferecidos para provar que
anjos se envolveram no ato (ver segunda posição). Todavia, para superar alguma
dificuldades desse ponto de vistas, incluem a peculiaridade de que homens foram
utilizados como instrumentos para o ato.
CONCLUSÃO
Discussões,
polêmicas, defensores, argumentos, etc. Como vimos Gênesis 6 inspira um grande
debate.
Para
muitos o texto apresentado apenas aumentou o problema, pois demonstrou o amplo
alcance da disputa.
Não
se preocupe, não há qualquer indício de que a correta interpretação de Gênesis
6 é determinante para entrada no céu (aliás, todas as provas apontam em sentido
contrário).
Como
apaixonados pela Bíblia que somos, devemos sempre tentar entender os detalhes
das Escrituras.
Porém,
não podemos deixar de frisar em alguns assuntos não há problemas em dizer: “Não
tenho certeza”.
Isso
pode ocorrer principalmente em textos não essenciais como este.
Caso
o leitor tenha se definido por um ponto de vista, aconselho-o a não “comprar
briga” por causa dele.
Gaste
mais energia com a Trindade, Divindade de Jesus, Ressurreição de Jesus,
Justificação, Inerrância das Escrituras, Pessoalidade do Espírito Santo, etc.
Como
foi escrito em algum lugar, “Nos assuntos essenciais, unidade. Nos assuntos de dúvida,
liberdade. Em todas as coisas, caridade”.
1. Aqueles que defendem se tratar de anjos em Gênesis 6, afirmam que Jesus enfatizou que anjos NO CÉU não se casam ou se dão em casamento. No céu realmente não casam. Mas isso não impossibilita o acontecimento na terra (ex. William Macdonald)
2. Naquele tempo se refere ao versículo 1, ou seja, no tempo em que os homens se multiplicaram na terra.
Não há qualquer referência a uma raça pré-adâmica.
3. Aqueles que são contrários à ideia de anjos afirmam que “aqueles” se refere à Sodoma e Gomorra. Assim, as cidades vizinhas imitaram as práticas de Sodoma e Gomorra. Outros afirmas que “aqueles se refere ao versículo 4, ou seja, os indivíduos que se introduziram na igreja em dissimulação, homens ímpios.
4. Os que se opõe a este ponto de vista afirmam que anjos aprisionados aparecem em outros lugares na Bíblia. Seria o caso de Apocalipse 9, que fala de seres aprisionados no abismo. Em Marcos 5 também os demônios pedem para não serem lançados no abismo. Assim, afirmam que na rebelião de satanás, parte dos anjos, seja pela posição que exerciam, seja pela gravidade de seus pecados, receberam tratamento diferenciado dos demônios que estão soltos.
Em Slides: