Extraído de: Mensagem Reformada
Texto Revisado, Editado e Modificado com permissão do Autor por: Átila Calumby
Isso por si só é suficiente pra negar a realidade de Pedro como o cabeça da Igreja Universal. O que Paulo procura provar de todas as formas desde o início de Gálatas era que sua autoridade era equivalente a dos demais apóstolos e que não era de qualquer forma subordinado a eles. Ele começa enfatizando isso desde o primeiro verso da carta, fazendo questão de mencionar que nem sequer conhecia os demais apóstolos direito, então, ele chega a mencioná-los de forma a enfatizar sua autoridade igual. Além disso, Paulo explicitamente coloca Pedro, não como cabeça da Igreja Universal, mas como tendo o seu ministério voltado para uma parte da Igreja Universal - os judeus.
A realidade de Pedro como cabeça da Igreja Universal também é negado pelo que já lemos em sua carta aos Efésios. Pois lá diz:
"E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo... Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo..."
(Efésios 4.11-12,15).
Aqui Paulo cita os apóstolos, o que incluiria Pedro, mas nada ensina sobre a cabeça apostólica, mas declara Cristo como a sua cabeça.
Que os apóstolos pertencem ao corpo e não a cabeça é ainda mais confirmado pelo que ele diz aos Coríntios:
"Porque, assim como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo também... Porque também o corpo não é um só membro, mas muitos. Se o pé disser: Porque não sou mão, não sou do corpo; não será por isso do corpo? E se a orelha disser: Porque não sou olho não sou do corpo; não será por isso do corpo? Se todo o corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo fosse ouvido, onde estaria o olfato? Mas agora Deus colocou os membros no corpo, cada um deles como quis... Antes, os membros do corpo que parecem ser os mais fracos são necessários; E os que reputamos serem menos honrosos no corpo, a esses honramos muito mais; e aos que em nós são menos decorosos damos muito mais honra. Porque os que em nós são mais nobres não têm necessidade disso, mas Deus assim formou o corpo, dando muito mais honra ao que tinha falta dela... Ora, vós sois o corpo de Cristo, e seus membros em particular. E a uns pós Deus na igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro doutores, depois milagres, depois dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas. Porventura são todos apóstolos? são todos profetas? são todos doutores? são todos operadores de milagres? Têm todos o dom de curar? falam todos diversas línguas? interpretam todos?"
(1Co 12:12,14-18,24,27-30)
Aqui Paulo fala da necessidade de existir unidade no corpo. Aqui está implícito o que eu havia dito anteriormente. Que a plena unidade não era tido por ele como uma realidade já consumada, mas como uma esperança escatológica em processo de cumprimento. Pois ao mesmo tempo em que ele declara que havia um só corpo, ele manda que se comportassem de forma coerente a isso. Isso significa que apesar da unidade existir em princípio, não era uma realidade já plenamente visível, pois se fosse não seria necessário mandar isso a Igreja.
Além disso, aqui vemos explicitamente os apóstolos sendo classificados como os membros do corpo, o que inclui Pedro, apóstolo dos judeus. Isso não significa que eles eram iguais aos demais membros. Paulo fala da distinção entre os membros e inclusive diz que há funções mais honrosas e membros menos honrosos e é exatamente por isso que ele enfatiza a necessidade de não se desprezar os menos honrosos. Eu creio que isso era uma preparação para o que ele estava prestes a dizer sobre o dom de línguas. Para que quando ele o colocasse como tendo pouca importância, o dom não fosse completamente desprezado. A função de cada membro é distinta. Os apóstolos são distintos, como eu já citei logo acima, mas de forma alguma qualquer um deles são cabeça da Igreja, mas são membros do corpo.
Tendo dito isso, podemos começar a compreender onde nós devemos procurar o fundamento de nossa fé. E compreender a relação desses fundamentos com tudo o que vem depois, a chamada "tradição", que é a História da Igreja, vejamos o que Paulo ensinou aos líderes da Igreja de Éfeso.
"E de Mileto mandou a Éfeso, a chamar os anciãos da igreja. E, logo que chegaram junto dele, disse-lhes: Vós bem sabeis, desde o primeiro dia em que entrei na Ásia, como em todo esse tempo me portei no meio de vós, servindo ao Senhor com toda a humildade, e com muitas lágrimas e tentações, que pelas ciladas dos judeus me sobrevieram; Como nada, que útil seja, deixei de vos anunciar, e ensinar publicamente e pelas casas, testificando, tanto aos judeus como aos gregos, a conversão a Deus, e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo. E agora, eis que, ligado eu pelo espírito, vou para Jerusalém, não sabendo o que lá me há de acontecer, senão o que o Espírito Santo de cidade em cidade me revela, dizendo que me esperam prisões e tribulações. Mas em nada tenho a minha vida por preciosa, contanto que cumpra com alegria a minha carreira, e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus. E agora, na verdade, sei que todos vós, por quem passei pregando o reino de Deus, não vereis mais o meu rosto. Portanto, no dia de hoje, vos protesto que estou limpo do sangue de todos. Porque nunca deixei de vos anunciar todo o conselho de Deus. Olhai, pois, por vós, e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue. Porque eu sei isto que, depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não pouparão ao rebanho; E que de entre vós mesmos se levantarão homens que falarão coisas perversas, para atraírem os discípulos após si. Portanto, vigiai, lembrando-vos de que durante três anos, não cessei, noite e dia, de admoestar com lágrimas a cada um de vós".
(Atos 20.17-31)
Paulo manda chamar os líderes da Igreja de Éfeso. O objetivo era dar ultimas instruções antes de sua partida. A primeira coisa que ele faz é trazer a memória a necessidade de se manter firme no fundamento apóstolico que por ele fora lançado. É o mesmo que ele explica em sua carta aos Efésios.
Em seguida ele dá um aviso importante. Ele fala da necessidade dos líderes da Igreja de proteger o rebanho de lobos cruéis. A capacidade dos líderes de proteger o rebanho é ensinado com clareza a Tito: "Retendo firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina,para que seja poderoso, tanto para admoestar com a sã doutrina, como para convencer os contradizentes. Porque há muitos desordenados, faladores, vãos e enganadores, principalmente os da circuncisão, Aos quais convém tapar a boca; homens que transtornam casas inteiras ensinando o que não convém..." (Tito 1.9-11)
Mas logo em seguida, ele diz que esses lobos não estariam somente entre eles, mas que muitos seriam líderes da Igreja. Os lobos não seriam somente uma força externa a Igreja ou mesmo interna entre as ovelhas, mas seriam também muitos bispos/presbíteros.
Em seguida ele dá um aviso importante. Ele fala da necessidade dos líderes da Igreja de proteger o rebanho de lobos cruéis. A capacidade dos líderes de proteger o rebanho é ensinado com clareza a Tito: "Retendo firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina,para que seja poderoso, tanto para admoestar com a sã doutrina, como para convencer os contradizentes. Porque há muitos desordenados, faladores, vãos e enganadores, principalmente os da circuncisão, Aos quais convém tapar a boca; homens que transtornam casas inteiras ensinando o que não convém..." (Tito 1.9-11)
Mas logo em seguida, ele diz que esses lobos não estariam somente entre eles, mas que muitos seriam líderes da Igreja. Os lobos não seriam somente uma força externa a Igreja ou mesmo interna entre as ovelhas, mas seriam também muitos bispos/presbíteros.
As implicações disso são de extrema importância e não podem de qualquer forma ser ignoradas. Se os bispos/presbíteros eram passíveis de ensinar erro isso confirma que os próprios bispos/presbíteros não podem ser considerados como sendo a base fundamental da Igreja. Aqui que é passível de erro, não pode ser racionalmente considerado como critério de validação dogmático.
A situação aqui é análoga a situação sob o Antigo Pacto. Os judeus precisavam se manter fiéis a doutrina de Moisés e dos santos profetas. Para isto, os levitas tinham a função de ensinar o povo conforme a doutrina de Moisés e dos profetas. Todavia, não havia garantia incondicional de acerto por parte dos levitas naquilo que eles ensinavam. Havia a possibilidade deles estarem ensinando o erro.
Da mesma forma, os bispos, pastores, presbíteros, etc. agora tem a responsabilidade de ensinar a verdade conforme os fundamentos de Moisés, dos santos profetas e dos santos apóstolos. Ao mesmo tempo, não há garantia incondicional de acerto por parte dos mesmos naquilo que ensinam. Existe a possibilidade deles estarem ensinando o erro.
Aqui então, eu faço até um trocadilho pra ficar claro:
A Igreja jamais poderá ser Presbiteriana ou Episcopal. Ela sempre deverá ser Apostólica! Apostólica no fundamento dogmático, é claro...
Já na forma de governo ela poderá ser presbiteriana ou episcopal...
Aqui então surge o centro do problema que está sendo tratado aqui:
Enquanto Moisés estava vivo, ele poderia ser consultado diretamente, oralmente como os hebreus muitas vezes fizeram. Não por qualquer autoridade inerente em Moisés, mas pelo fato dele transmitir os oráculos do Senhor. Oráculo este que não é validado por qualquer autoridade humana, mas pela autoridade inerente da Palavra de Deus e que justamente por esse motivo não poderia ser validado por qualquer outra autoridade acima dela mesmo.
Mas o que acontece quando Moisés morre e já não poderia ser consultado pessoalmente?
"E chamou Moisés a Josué, e lhe disse aos olhos de todo o Israel: Esforça-te e anima-te; porque com este povo entrarás na terra que o SENHOR jurou a teus pais lhes dar; e tu os farás herdá-la. O SENHOR, pois, é aquele que vai adiante de ti; ele será contigo, não te deixará, nem te desamparará; não temas, nem te espantes. E Moisés escreveu esta Lei, e a deu aos sacerdotes, filhos de Levi, que levavam a arca da aliança do SENHOR, e a todos os anciãos de Israel... Ajunta o povo, os homens e as mulheres, os meninos e os estrangeiros que estão dentro das tuas portas, para que ouçam e aprendam e temam ao SENHOR vosso Deus, e tenham cuidado de fazer todas as palavras desta Lei..."
(Deuteronômio 31.12)
Aqui vemos que todo o povo incluindo seus descendentes tinha a responsabilidade de ouvir e obedecer a Lei que fora dada por Moisés. Incluindo os judeus no tempo de Jesus. Para que fosse possível o povo saber da Lei e assim obedecer, a Lei foi deixada por escrito nas mãos de quem? Nas mãos dos levitas.
Ah... Dos levitas...
São dos levitas que Deus vai dizer depois:
"Agora, ó sacerdotes, este mandamento é para vós. Se não ouvirdes e se não propuserdes, no vosso coração, dar honra ao meu nome, diz o SENHOR dos Exércitos, enviarei a maldição contra vós, e amaldiçoarei as vossas bênçãos; e também já as tenho amaldiçoado, porque não aplicais a isso o coração. Eis que reprovarei a vossa semente, e espalharei esterco sobre os vossos rostos, o esterco das vossas festas solenes; e para junto deste sereis levados. Então sabereis que eu vos enviei este mandamento, para que a minha aliança fosse com Levi, diz o SENHOR dos Exércitos. Minha aliança com ele foi de vida e de paz, e eu lhas dei para que temesse; então temeu-me, e assombrou-se por causa do meu nome. A lei da verdade esteve na sua boca, e a iniqüidade não se achou nos seus lábios; andou comigo em paz e em retidão, e da iniqüidade converteu a muitos. Porque os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento, e da sua boca devem os homens buscar a lei porque ele é o mensageiro do SENHOR dos Exércitos. Mas vós vos desviastes do caminho; a muitos fizestes tropeçar na lei; corrompestes a aliança de Levi, diz o SENHOR dos Exércitos".
(Malaquias 2.1-8)
Caso eu seguisse a linha de raciocínio romana, eu deveria concluir que os levitas formavam algum tipo de "magistério validador" e por isso eram ao lado de Moisés e dos Profetas, um fundamento incondicional de fé, já que era por meio deles que o povo recebia a Escritura.
É uma linha de raciocínio aparentemente "lógica". O problema é que não se deve raciocinar "logicamente". Deve-se raciocinar biblicamente! Por isso que defendemos o pressuposicionalismo. Se a Bíblia demonstra claramente que um magistério validador, isento de críticas e transmissor da Escritura não é necessário pra validar a Escritura, eu concluo que um magistério validador, isento de críticas e transmissor não é necessário pra validar a Escritura e ponto final. O motivo é porque a validação da Palavra de Deus é feita pelo próprio Deus em sua Divina e Soberana Providência, preservando a sua Palavra anunciada pelos profetas e apóstolos e confirmando a sua verdade, de diferentes formas no coração dos seus. Moral da história: Deus é Soberano.
Então a Lei, escrita por Moisés, foi a base para os posteriores judeus identificarem quem era realmente profeta e quem não era. Jeremias pregava contra o magistério. Os profetas do magistério pregava contra Jeremias. Ele era coerente com a Palavra de Deus registrada por Moisés. O magistério e seus profetas não eram. Portanto, a Palavra de Deus dita por meio de Moisés validava a Palavra de Deus dita por Jeremias. A Palavra de Deus valida a Palavra de Deus. Com base nessa validação mutua, os judeus fiéis deveriam crer em Jeremias e não no magistério e nos “profetas” do magistério. Está implícito nisso tudo a necessidade de existir uma capacidade individual de discernir a Palavra de Deus independente da soberania incondicional do magistério. Lutero chamou isso de livre-exame. O Papa chama de anarquia. A Palavra de Deus dita por meio de Jeremias valida Lutero. O magistério judaico valida o Papa. Ficamos então com Moisés, Jeremias e Lutero nessa briga.
Então a Lei, escrita por Moisés, foi a base para os posteriores judeus identificarem quem era realmente profeta e quem não era. Jeremias pregava contra o magistério. Os profetas do magistério pregava contra Jeremias. Ele era coerente com a Palavra de Deus registrada por Moisés. O magistério e seus profetas não eram. Portanto, a Palavra de Deus dita por meio de Moisés validava a Palavra de Deus dita por Jeremias. A Palavra de Deus valida a Palavra de Deus. Com base nessa validação mutua, os judeus fiéis deveriam crer em Jeremias e não no magistério e nos “profetas” do magistério. Está implícito nisso tudo a necessidade de existir uma capacidade individual de discernir a Palavra de Deus independente da soberania incondicional do magistério. Lutero chamou isso de livre-exame. O Papa chama de anarquia. A Palavra de Deus dita por meio de Jeremias valida Lutero. O magistério judaico valida o Papa. Ficamos então com Moisés, Jeremias e Lutero nessa briga.