Assim, em tudo, façam aos outros o que vocês querem que eles lhes façam; pois esta é a Lei e os Profetas. Entrem pela porta estreita, pois larga é a porta e amplo o caminho que leva à perdição, e são muitos os que entram por ela. Como é estreita a porta, e apertado o caminho que leva à vida! São poucos os que a encontram.
(Mateus 7:12-14)
Os mestres da lei e os fariseus se assentam na cadeira de Moisés.
Obedeçam-lhes e façam tudo o que eles lhes dizem. Mas não façam o que eles fazem, pois não praticam o que pregam.
Eles atam fardos pesados e os colocam sobre os ombros dos homens, mas eles mesmos não estão dispostos a levantar um só dedo para movê-los.
(Mateus 23:2-4)
Existem 2 extremos que devem ser evitados pelo cristão, que são o antinomianismo e o legalismo.
Vemos no primeiro texto Jesus ensinando que a Lei e os Profetas ensinaram que devemos fazer aos outros o que desejamos que façam por nós. Isso não inclui a obrigação desses 'próximos' em retribuir, mas mesmo que eles não o façam, devemos tratá-los como gostaríamos que eles nos tratassem.
Depois disso Jesus indica que esse caminho que o cristão deve trilhar é estreito, mas leva à vida. E é de poucos.
Nesse caso vemos que Jesus apresenta a necessidade de uma vida santificada, e os exemplos da porta estreita e do caminho estreitos mostram que não é "fácil". Ele promete guardar Seus eleitos até o fim, mas está claro que há a necessidade de auto-negação e sermos obedientes a Ele.
No segundo texto lemos Jesus dizendo aos discípulos para darem ouvidos ao que os mestres da Lei e os fariseus ensinavam, mas sem copiar suas atitudes, porque as obras não era coerentes com as palavras.
Isso porque esses grupos atribuíam à Lei de Deus suas próprias tradições, exigindo dos ouvintes práticas que o próprio Deus não exigia.
Ou seja, é como se eles praticamente "trancassem a porta estreita".
Então no primeiro caso há o ensino sobre a incompatibilidade entre a vida desregrada e a Salvação, enquanto no segundo caso o ensino é sobre o cuidado a não se cobrar das pessoas além do que as Escrituras ensinam.
O primeiro caso então ataca o antinomianismo, mostrando a necessidade de sermos obedientes à Vontade de Deus.
O segundo caso ataca o legalismo, reforçando a ideia que teologicamente foi posteriormente batizada de "Sola Scriptura", ou seja, nosso proceder deve se basear somente no que as Escrituras ensinam e não em que homens determinam.
É importante ressaltar que o legalismo evidencia a tentativa de salvação por obras, e isso é totalmente contrário ao Evangelho, mas o grande perigo do antinomianismo é porque ele pode se apoiar da ideia do "Sola Gratia" para deixar de lado essa necessidade de obediência à Vontade de Deus segundo o que a bíblia nos revela. Um grande erro..
Precisamos ter plena convicção de que somente entram por essa porta estreita (João 10:9) aqueles que o próprio Pai conduz (João 6:44), e Ele os faz perseverar nesse Caminho(João 10:28-29). Sendo assim, a santificação é obra de Deus em nós (I Coríntios 6:11), e não uma tentativa nossa de cumprirmos as exigências de DEle para nossa salvação. Mas isso não significa que passamos a ser criaturas 'estáticas' vivendo de acordo com nossos próprios interesses e esperando que Ele faça tudo por nós. Ele já fez.
Através das Escrituras temos o que precisamos saber sobre como adorá-Lo e agradá-Lo, então não devemos nos contentar em obedecer aquém do que ela ensina, nem acharmos que somos 'mais santos' ao fazer algo além do que ela revela.
Por isso mesmo o estudo das Escrituras é essencial, para buscarmos estar mais próximos do centro da Vontade de Deus.
Sabemos que somos imperfeitos e nunca alcançaremos esse padrão perfeito que nos garantiria a salvação, mas isso não é justificativa para não buscarmos essa perfeição. (2 Coríntios 13:11)
Não como forma de auto-justificação, já que a nossa imperfeição nunca vai nos deixar chegar ao padrão exigido, mas por amor a Deus e obediência à Sua Palavra.
Ninguém pode ser justificado por suas próprias obras e por isso mesmo Cristo tomou o lugar dos pecadores na cruz, e Sua Justiça é transferida a todos os que NEle creem como Senhor e Salvador. (Atos 13:39; Gálatas 2:16) Deus nos aceita como filhos adotivos devido a esse pagamento feito na cruz, e perante Ele somos então tidos por justos, mesmo ainda cometendo (muitos) pecados. Mas tudo isso não exclui a necessidade de obediência e busca pela santidade com o propósito correto.
Devemos entender que esse desejo de santidade deve ser por gratidão por recebermos tão grande salvação, e que ao mesmo tempo é o fruto natural dessa mesma salvação. As árvores são conhecidas (julgadas) por seus frutos.. (Mateus 3:10; Mateus 12:33)
Entendendo isso, vemos que a Lei e a Graça convivem juntas desde o início, sendo que a primeira nos faz enxergar a nossa condição pecaminosa e a segunda é o que nos traz a esperança da Salvação imerecida.
A Lei indica em seus princípios o padrão de conduta que devemos seguir, enquanto a Graça é o favor de Deus em nos resgatar mesmo quando falhamos miseravelmente em seguir tal padrão.
Sem Lei ninguém seria condenado.
A ordem seria impossível e a maldade se espalharia sem controle.
Sem a Graça ninguém seria salvo.
Com a Lei haveria condenação, e todos seríamos condenados devido aos nossos pecados, então é pela Graça que somos salvos.
Ambos são importantes, mostrando a Justiça e a Misericórdia divinas.
Então nos preocupemos não somente em evitar os extremos extra-bíblicos, como também em não ignorar ou descartar aquilo que Deus nos revelou e ensinou através da Sua Palavra.
O caminho é sim estreito, mas a Porta não está fechada.