quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Hierarquia, submissão e a vida cristã (parte 01 de 03)

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A carta aos Colossenses se inicia com o apóstolo Paulo demonstrando sua alegria quanto ao povo dessa igreja, contando que orava por eles desejando que o conhecimento de Deus fosse multiplicado e fosse sempre refletido nas práticas daquelas pessoas. Ele explica que pela obra salvífica de Jesus Cristo todos aqueles que creem são resgatados da velha natureza para viverem uma nova vida, regenerada, ressaltando a necessidade da santidade como resultado dessa salvação.
Exorta então aqueles irmãos a perseverarem naquela fé, sem buscarem novidades, ao invés disso deveriam se firmar com gratidão naquilo que foram ensinados. E combate o legalismo, dizendo a eles que não se permitissem aprisionar-se em conjuntos de regras de origens humanas, almejando com isso serem salvos ou aperfeiçoados. Com isso deixa claro que a santidade é um fruto da salvação e não um meio ou a causa dela.
Paulo frisa bastante sobre a necessidade de abandono das velhas práticas pecaminosas, que eram comuns à velha natureza e, além disso, sobre a necessidade de renovação. Ou seja, além do abandono de tais práticas pecaminosas é necessário que as novas obras sejam condizentes com a nova natureza cristã. Ele ensina que na Igreja a Unidade é essencial, em relativo à vida "em Igreja" indica que os irmãos deveriam se tratar com amor; suportando, ensinando e aconselhando uns aos outros com sabedoria, e louvando a Deus com gratidão.

Desde o início da carta até essa parte do 3º capítulo muitas coisas já podem ser absorvidas, mas até aqui as instruções mais específicas sobre a nova vida do cristão ainda estão restritas ao convívio entre irmãos na igreja. Já é possível saber que além dos cuidados com a preservação da sã doutrina é necessária uma mudança de comportamento que corresponda a esse conhecimento obtido, mas como podemos aplicar isso em nossa vida cotidiana, nos nossos relacionamentos em geral, de forma prática??
Nos versos seguintes traz princípios que nos ajudam a ter mais clareza: 
Tudo o que fizerem, seja em palavra ou em ação, façam-no em nome do Senhor Jesus, dando por meio dele graças a Deus Pai. 
Mulheres, sujeitem-se a seus maridos, como convém a quem está no Senhor.
Maridos, amem suas mulheres e não as tratem com amargura.
Filhos, obedeçam a seus pais em tudo, pois isso agrada ao Senhor.
Pais, não irritem seus filhos, para que eles não se desanimem.
Escravos, obedeçam em tudo a seus senhores terrenos, não somente para agradar os homens quando eles estão observando, mas com sinceridade de coração, pelo fato de vocês temerem ao Senhor. 
Tudo o que fizerem, façam de todo o coração, como para o Senhor, e não para os homens, sabendo que receberão do Senhor a recompensa da herança. É a Cristo, o Senhor, que vocês estão servindo
Quem cometer injustiça receberá de volta injustiça, e não haverá exceção para ninguém.
Senhores, dêem aos seus escravos o que é justo e direito, sabendo que vocês também têm um Senhor no céu.
(Colossenses 3:17-25; 4:1)

Analisando as menções feitas neste trecho, obtemos três formas de relacionamentos básicas: 1) Esposas e Maridos; 2) Filhos e Pais; 3) Empregados e Empregadores.

É importante ressaltar que Paulo explica de forma didática, sendo que a ordem em que os termos são apresentados não é em vão.
Vemos que ele primeiramente fala sobre os relacionamentos básicos do lar e depois daquele que envolve a vida profissional. Sabemos que essas não são as únicas formas de relacionamentos possíveis (há outros graus de parentesco ou mesmo as amizades), mas elas são aqui citadas devido à existência do fator "sujeição" (diferentemente das que citei anteriormente nos parênteses). Por isso, para cada forma de relacionamento Paulo dá instruções, partindo da parte que deve ser submissa e apontando também as obrigações recorrentes da autoridade da outra parte.

Fica muito claro nesse texto que:
- Esposas devem se sujeitar aos maridos;
- Filhos devem obedecer aos seus pais;
- Servos devem obedecer seus senhores.

E também que:
- Maridos devem amar suas esposas sem amargura;
- Pais não devem destratar os filhos;
- Senhores devem respeitar os direitos dos seus servos.

Vou analisar as 3 formas, começando da última citada.

Obs.: Essa mesma estrutura de instruções é encontrada nos capítulos 5 e 6 do livro de Efésios e com detalhes adicionais, então farei uma mescla dos textos em alguns momentos. 

Senhores e Escravos

Propositalmente, nas citações que fiz até aqui usei termos diferentes para essa relação ("empregados", "empregadores", "servos"). Fiz isso para que o termo "escravo" seja corretamente compreendido, ao invés de imediatamente rejeitado com o pressuposto de que a escravidão é um erro/pecado.

O termo presente neste texto é δουλος (doulos), e pode ser traduzido como servo ou escravo. Estudando o conceito bíblico de escravidão, percebemos que não é comparável ao absurdo ocorrido no Brasil e outros países ao qual estamos familiarizados, e que envolvia trabalho forçado (involuntário) de pessoas sequestradas.


Considerando então que estamos falando aqui da relação entre um funcionário e um chefe, o que o texto explica é que a atitude do primeiro deve ser de sujeição; visando com isso glorificar a Deus, dando testemunho com seus atos e servindo A ELE na prática. E com relação ao chefe, não pode oprimir os seus funcionários - negando a eles o que lhes é direito garantido.



É importante ressaltar que tais direitos dos empregados podem variar. Quero dizer, dependendo da regulação do próprio Estado, há leis que precisam ser seguidas pelo empregador, assim como esse empregador tem o direito de definir regras para sua empresa (desde que não firam os direitos básicos constitucionais).

Este é o paralelo que encontramos no livro de Efésios:
Escravos, obedeçam a seus senhores terrenos com respeito e temor, com sinceridade de coração, como a Cristo. Obedeçam-lhes não apenas para agradá-los quando eles os observam, mas como escravos de Cristo, fazendo de coração a vontade de Deus. Sirvam aos seus senhores de boa vontade, como ao Senhor, e não aos homens, porque vocês sabem que o Senhor recompensará a cada um pelo bem que praticar, seja escravo, seja livre. 
Vocês, senhores, tratem seus escravos da mesma forma. Não os ameacem, uma vez que vocês sabem que o Senhor deles e de vocês está nos céus, e ele não faz diferença entre as pessoas.
(Efésios 6:5-9)

Biblicamente falando, o direito do empregado é garantido pelos Mandamentos divinos, são direitos humanos comuns a todos. Mas além disso é um direito do empregado tudo aquilo que foi acordado com o empregador através de contrato.

Um texto que nos mostra essa ideia é:
Não oprimam nem roubem o seu próximo. Não retenham até a manhã do dia seguinte o pagamento de um diarista.
(Levítico 19:13)
Por exemplo, se empregado e empregador combinaram determinado salário e um horário de trabalho, é um dever do empregado trabalhar em tal horário, e um direito dele receber seu salário e não trabalhar fora da faixa de horário combinada a não ser que haja pagamento extra (também prevista em acordo).

Sendo assim, a opressão deve ser impedida com o cumprimento do contrato estipulado sem excedê-lo forçosamente, esse é o dever dos empregadores conforme o texto bíblico. E da parte do empregado seu dever é cumprir seus deveres segundo o contrato.
Além disso Paulo fala para os empregadores se lembrarem que há um Senhor acima deles, e podemos então entender que a justiça e a misericórdia divinas devem servir de inspiração para eles. E Paulo também lembra os empregados sobre o senhorio absoluto de Cristo, quando diz que eles deviam trabalhar como se fosse diretamente pra Ele, evitando a hipocrisia.

Devemos lembrar disso: Há uma hierarquia nas relações e entre as relações.

Todos temos o dever se nos submeter a Deus, e não há qualquer autoridade que supere a DEle. Portanto, a submissão a Deus não deve ser substituída pela submissão ao chefe no caso dos empregados, aos pais no caso dos filhos, nem aos maridos no caso das esposas. Quando qualquer pessoa exige que ajamos de maneira que desobedeça os mandamentos de Deus, devemos desobedecer porque a autoridade divina é superior.
Acaso busco eu agora a aprovação dos homens ou a de Deus? Ou estou tentando agradar a homens? Se eu ainda estivesse procurando agradar a homens, não seria servo de Cristo.
(Gálatas 1:10)

Creio que foi possível um bom entendimento sobre essa forma de relacionamento e as práticas de submissão e autoridade, então vamos à próxima.