Este é simplesmente o termo teológico mais mal usado. Maria é a “mãe de Deus”. A lógica parece inescapável: Jesus é Deus, veio em carne humana. Maria é a mãe de Jesus. Portanto, Maria é a mãe de Deus. O que poderia ser mais simples?
Se todos usassem o termo para comunicar apenas que Jesus Cristo era verdadeira e completamente Deus, não haveria razão para incluir um breve capítulo sobre o tópico da “mãe de Deus”. Todavia, obviamente, isto seria um pouco simplista. A maioria das vezes em que a frase é usada, as pessoas que a estão usando não estão de alguma forma comentando sobre o fato de que Jesus Cristo era Deus e Homem na terra. Eles não estão falando sobre Cristo de forma alguma, mas sobre Maria, e eles estão usando o título para lhe dar uma posição de honra e poder.
Deveríamos chamar Maria de “Mãe de Deus”? O que o termo significou na igreja primitiva? Como ele está sendo mal usado hoje?
A ORIGEM DO TERMO
Qualquer pessoa que ler os escritos da igreja primitiva saberá que a palavra traduzida por “Mãe de Deus” é o termo grego theotokos. Literalmente, a palavra significa “portadora de Deus”. Ela se tornou um título para Maria, de forma que você freqüentemente a encontrará sendo chamada de Theotokos em escritos devocionais e teológicos. Mas, de onde o termo veio?
Por volta do começo do século IV, Alexandre Bispo de Alexandria, usou pela primeira vez o termo quando falando de Maria. [1]
Não é coincidência que foi o ensino de Alexandre que estimulou o “herege” mais famoso de todos os tempos – Arius, o grande negador da deidade de Cristo – a começar a propagação de sua heresia. Evidentemente, naquele tempo, e até mesmo em seus usos mais primitivos, o termo queria dizer algo sobre Jesus, e não sobre Maria. Isto é, o termo era Cristológico em força. Ele era focado em Cristo, e tinha a intenção de salvaguardar a verdade sobre Sua absoluta deidade.
O termo entrou realmente no vocabulário “ortodoxo” através de seu uso nos Concílios de Eféso (431 d.C.) e, com maior importância, no de Calcedônia (451 d.C.). Podemos aprender mais sobre como este termo foi originalmente entendido tomando um tempo para entender o porque ele aparece no credo produzido em Calcedônia.
O termo entrou realmente no vocabulário “ortodoxo” através de seu uso nos Concílios de Eféso (431 d.C.) e, com maior importância, no de Calcedônia (451 d.C.). Podemos aprender mais sobre como este termo foi originalmente entendido tomando um tempo para entender o porque ele aparece no credo produzido em Calcedônia.
O debate sobre a completa deidade de Cristo permaneceu por muitas décadas, continuando logo após o Concílio de Nicéia ter terminado seu trabalho (325 d.C.), e não finalizando até o Concilio de Constantinopla em 381 d.C. Mas, à medida que esta grande verdade foi de forma apropriada salvaguardada, outras questões começaram a se levantar. Uma destas questões era mais ou menos assim: Concordando-se que Jesus Cristo é verdadeiro homem em carne, como, então, devemos entender a relação entre o divino e o humano em Cristo? Ele foi realmente um homem? Sua deidade confinou Sua humanidade? Havia alguma mistura das duas? Ou, Jesus era duas pessoas: uma divina e uma humana, meramente compartilhando um corpo?
Tristemente, o debate foi responsável por tudo, menos um clima calmo e respeitoso. Um tempo maior foi gasto em manobras políticas do que em exegeses significantes. Mas, a despeito do rancor do debate, o entendimento resultando foi muito importante, especialmente para nosso entendimento do termo theotokos.
Um dos principais participantes no debate sobre a natureza de Cristo foi um homem chamado Nestório. Visto que ele foi, no final das contas, condenado como um herege, temos algumas dúvidas se temos ou não uma visão completamente acurada (ou justa) de suas crenças, pois temos acesso a elas primariamente através dos escritos de seus inimigos. Basicamente, Nestório se objetou ao uso da palavra theotokos. Ele estava totalmente com a razão quando disse que a palavra poderia ser facilmente mal entendida. Mas mais importante, sua negação da propriedade de theotokos o levou a insistir que Maria foi a mãe somente do “elemento” humano de Cristo, que resultou numa separação fundamental do divino e do humano em Cristo. O perigo básico da posição de Nestório, portanto, era que ela conduzia a um Jesus que era duas “pessoas”, com nenhuma conexão real entre o divino e o humano.
Aqueles que defendiam o uso de theotokos, assim o faziam insistindo que o Messias era totalmente humano e totalmente divino à partir do momento da concepção; por conseguinte, a criança que nasceu não era somente uma criança humana com a deidade habitando nela, mas era o Deus-Homem, o Encarnado. Calcedônia insistiu que Jesus era uma Pessoa com duas naturezas distintas, a divina e a humana. A divina não “confinou” a humana, nem estava “misturada” com a humana para criar algo que não era nem totalmente Deus, nem totalmente homem. Nem era Jesus esquizofrênico – uma pessoa humana, Jesus, e uma Pessoa divina, separada dele. Ele era uma pessoa com duas naturezas distintas. [2]
O que é vitalmente importante é que o termo “Portadora de Deus”, conforme usado nos credos e conforme aplicado a Maria naquelas controvérsias, dizia algo sobre a natureza de Cristo, não sobre a natureza de Maria. “Mãe de Deus” é uma frase que tem significado apropriado teológico somente em referência a Cristo. Portanto, qualquer uso do termo que não esteja simplesmente dizendo: “Jesus é completamente Deus, uma Pessoa divina com duas naturezas”, está usando o termo de uma maneira anacrônica e não pode reivindicar a autoridade da igreja primitiva para tal uso.
O MAU USO DO TERMO HOJE
Fora das classes de seminário e dos debates teológicos sobre a Trindade, eu nunca ouvi o termo “Mãe de Deus” usado de uma forma historicamente correta e teologicamente acurada. Isto é, todas as vezes que eu ouço o título usado fora daqueles contextos, ele está sendo usado para dizer algo sobre Maria, ao contrário de dizer algo sobre Cristo. Nestório estava certo sobre uma coisa: o termo tende a um sério mau uso e mau entendimento.
Maria não é mãe de Deus no sentido de que ela trouxe à luz a existência de Deus. Nós normalmente usamos a palavra “mãe” para nos referirmos a alguém que nos trouxe à luz como indivíduos, e de quem derivamos nossa natureza humana. Todavia, a Pessoa divina que se tornou Jesus, o eterno Filho de Deus (Colossenses 1:13-17), o Logos (João 1:1-14), já existia desde toda a eternidade e é o Criador de Maria. Ela foi usada para trazer o Encarnado ao mundo, mas ela não adicionou algo ou trouxe à luz o Filho Eterno que veio ao mundo através dela. Seu filho era totalmente divino (por conseguinte, ela é theotokos), mas ela mesma não produziu a divindade de seu Filho. Por esta razão, não há nada sobre o termo theotokos que de alguma forma exalte Maria, mas somente Cristo.
Certamente, se isto é verdade, então a vasta maioria do uso da frase, “Mãe de Deus” em nosso mundo hoje é simplesmente um erro. Orações dirigidas a “Mãe de Deus” que procuram sua intercessão e atribuem a ela poder, glória e honra estão usando o título de uma forma completamente estranha às verdades bíblicas que deram origem ao uso do título pela primeira vez. E o fato que, em geral, o termo é tido como impróprio fora do espectro estrito no qual ele fala da verdade importante da unipersonalidade de Cristo, bem como de Sua completa deidade, é um testemunho da sensibilidade espiritual dos cristãos crentes. Só podemos concluir que o uso de “Mãe de Deus” como um título para Maria que a leva a ser vista numa categoria quase-divina não é nada senão um grosseiro mau entendimento da verdadeira relação entre a bendita virgem de Nazaré e o eterno Deus que enviou o Filho eterno para nascer dela.
[1] J.N.D. Kelly, Doutrinas Cristãs Primitivas (San Francisco: Harper & Row, 1978), 494.
[2] Para uma discussão da Cristologia de Calcedônia, especialmente da sua relação com o Pentecostalismo da Unidade e o movimento “Somente Jesus”, veja o artigo A Trindade, a Definição de Calcedônia, e a Teologia da Unidade em http://www.aomin.org/CHALC.html.
Extraído e traduzido do livro “Mary - Another Redeemer?”, de James White.
[1] J.N.D. Kelly, Doutrinas Cristãs Primitivas (San Francisco: Harper & Row, 1978), 494.
[2] Para uma discussão da Cristologia de Calcedônia, especialmente da sua relação com o Pentecostalismo da Unidade e o movimento “Somente Jesus”, veja o artigo A Trindade, a Definição de Calcedônia, e a Teologia da Unidade em http://www.aomin.org/CHALC.html.
Extraído e traduzido do livro “Mary - Another Redeemer?”, de James White.
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