terça-feira, 28 de abril de 2015

Limites e liberdade de "zoar" (por Otniel Cabral Ramos)

Bookmark and Share Bookmark and Share
Extraído de: Cristãos contra o mundo

O cristão é possuidor de uma alegria indescritível, pois ele possui aquilo que mais importa durante o percurso de qualquer ser humano aqui na terra: a paz de Deus; a amizade de Deus; a satisfação da Justiça e ira de Deus; a salvação em Cristo Jesus; e a ação do Espirito Santo, confortando e trazendo segurança à alma. Por isso ele tem os motivos mais nobres e importantes para sorrir, brincar, se divertir e aproveitar a vida da melhor forma possível. Em tudo, porém, deve fazer tudo para a glória de Deus (1 Co 10.31).

No entanto, nos dias atuais, muitos cristãos, movidos por esta segurança e alegria, não param para pensar sobre até que ponto vai a sua liberdade em “zoar” ou tirar “brincadeiras” com o seu semelhante. Será que a Bíblia tem algo a dizer sobre este assunto? Abaixo traremos alguns princípios bíblicos para nortear o nosso comportamento neste aspecto e estabelecer limites à nossa tendência para o humor mórbido.

1. CUIDADO PARA NÃO SER UM ENGANADOR

Provérbios é um livro que apresenta conselhos importantíssimos para uma vida sábia. Em Provérbios 26:18-19, a bíblia diz: “Como o louco que lança fogo, flechas e morte, assim é o homem que engana a seu próximo e diz: Fiz isso por brincadeira”. Este conselho nos ajuda a zelarmos por relacionamentos sadios. Ele apresenta uma pessoa que promove desordem social por meio do engano e o compara com um louco. O personagem ilustrado, tudo que faz, o faz de forma velada, com uma má intenção, mas a oculta dizendo que fez tal ação “por brincadeira”. Bruce K. Waltke (2011) chama a atenção para o fato que o texto fala de alguém que diverte-se em meio a uma “distorção inesperada” e que o verbo enganar mostra que o brincalhão tem a intensão de “prejudicar o seu vizinho”. Para o brincalhão, o praticar maldade é divertimento, tornando-se assim um insensato (Pv 10.23). Este versículo sempre cativou a minha atenção, pois sempre que eu fazia alguma coisa e dizia “foi brincadeira”, ele vinha em meu pensamento e de imediato eu refletia sobre tal ação ou palavra que havia dito, pois as vezes, minhas brincadeiras, sem que eu percebesse, acabavam por maltratar alguma pessoa. Portanto, tome cuidado com brincadeiras que enganam o próximo e o prejudica. Pense como está o seu “fiz por brincadeira”.

2. NÃO OFENDA, ESCANDALIZE, ENFRAQUEÇA OU FAÇA TROPEÇAR ALGUM IRMÃO

A Bíblia nos ensina que possuímos liberdade. Mas essa liberdade só existe até onde não ofendemos, escandalizamos, enfraquecemos ou fazemos tropeçar um irmão. Fazer isso é pecar contra Deus, que é vingador de seu povo (1 Ts 4.6). Jesus nos ensina em Mateus 5.22 que “quem proferir um insulto a seu irmão estará sujeito a julgamento do tribunal; e quem lhe chamar: Tolo, estará sujeito ao inferno de fogo”. Logo, insultar um irmão é pecado e todo pecado sujeita-nos ao inferno (graças a Deus que Cristo é nosso redentor). Em Romanos 10.21 Paulo nos instrui que “É bom não comer carne, nem beber vinho, nem fazer qualquer outra coisa com que teu irmão venha a tropeçar [ou se ofender ou se enfraquecer].” Aos coríntios, disse “se a comida serve de escândalo a meu irmão, nunca mais comerei carne, para que não venha a escandalizá-lo” (1 Co 8.13). O limite de nossas brincadeiras, palavras e atitudes, esbarra no limite do nosso irmão em Cristo. E tal como Paulo, se algo fere a consciência de alguém, nunca mais façamos.

3. NÃO BRINQUE COM O NOME DE DEUS

Deus disse “Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão” (Êxodo 20:7). Muitas vezes nós cristãos não atentamos para a preciosidade desse texto. Mesmo sendo um mandamento atrelado ao antigo testamento, o principio extraído desta passagem contínua válido. No terceiro mandamento, não tomar o nome do Senhor em vão, é não banaliza-lo, não torna-lo vulgar, pois o que está em questão não é apenas o seu nome, mas sim a sua natureza e atributos. Por isso ao usar o nome de Deus, temos que ter certeza de que o que iremos falar dá o devido reconhecimento de Deus em todo seu ser. Sendo assim, devemos fazer conforme Jesus nos ensina na oração do Pai-Nosso, e orar “santificado seja o teu nome” (Mt 6.9). Isso quer dizer que “nós santificamos Seu nome quando honramos algum aspecto de Seu caráter” (BOICE 2011, p. 201). Será que temos honrado a Deus por meio de nossos comportamento, de nossas palavras? Lembre-se que o nome de Deus não é motivo para piada e deve ser honrado em atitudes e palavras.

4. NÃO BRINQUE COM O ENGANO NA IGREJA DE CRISTO

Uma das causas que tem levado muitos rirem e brincarem dentre o povo cristão, são os erros e heresias na Igreja de Cristo. Conquanto para muitos pareça algo engraçado, Jesus não acharia graça. Houve uma ocasião que Jesus, passando pela cidade, chora sobre Jerusalém. A bíblia diz que “quando Jesus se aproximou de Jerusalém e viu a cidade, começou a chorar. E disse: ‘Se tu também compreendesses hoje o que te pode trazer a paz!’”. Ele, quando observou a incredulidade do povo de Jerusalém, não achou nisso motivo para graça, mas sim para choro. Se ao menos eles compreendessem!, lamentou Jesus. Isto porque aquelas pessoas não davam ouvidos à sua mensagem. “Jerusalém, Jerusalém, quantas vezes eu quis juntar o teu povo como uma galinha junta os seus pintinhos debaixo das suas asas e você não quis!”, disse Ele.

Jesus não foi o único a ter dor no coração ao se preocupar com a incredulidade dos outros. Paulo em certa ocasião disse que possuía grande tristeza e incessante dor no coração por causa da incredulidade dos judeus (Rm 9.2). Aos gálatas ele diz que sentia dores de parto (Gl 4.19) pelos irmãos que haviam se desviado do caminho. Aos coríntios, ele expressa a preocupação com eles, possuído de angústia no coração (2 Co 2:4). Aos colossenses, ele menciona a grande luta em sua alma por causa dos irmãos (Cl 2.1) que estavam expostos a falsos ensinos (Cl 2.8). O exemplo que a bíblia nos ensina diante do falso ensino e heresia na igreja não é fazer disso motivo de riso e chacota, mas sim de choro e preocupação. Afinal de contas, a igreja de Cristo vale o Seu sangue.

5. FALE UNICAMENTE O QUE FOR PARA A EDIFICAÇÃO

O apóstolo Paulo em sua carta aos Efésios nos instrui: “Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só a que for boa para promover a edificação, para que dê graça aos que a ouvem. E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual estais selados para o dia da redenção. Toda a amargura, e ira, e cólera, e gritaria, e blasfêmia e toda a malícia sejam tiradas dentre vós, antes sede uns para com os outros benignos, misericordiosos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo”. (Efésios 4:29-32 NVI). Neste texto o apóstolo traz uma exortação para que os nascidos em Cristo procedam de forma diferente da sua antiga natureza. Em primeiro lugar, ele fala acerca de pessoas que falam palavras torpes, ou seja, palavras impróprias, podres, corruptoras, perversiva e injuriosas (HENDRIKSEN, 2004) que produzem embaraços, destruição. Enquanto cristãos, nossas palavras, por mais simples que sejam, devem produzir edificação, estar de acordo com a necessidade, e transmitir graça a todos que ouvem. Ou seja, é preciso que as conversas gerem benefícios espirituais. A forma de combater tais palavras é seguir o fruto do Espírito (Gl 5:22) e viver conforme Filipenses 4:8, que diz “Finalmente, irmãos, tudo o que for verdadeiro, tudo o que for nobre, tudo o que for correto, tudo o que for puro, tudo o que for amável, tudo o que for de boa fama, se houver algo de excelente ou digno de louvor, pensem nessas coisas”.

Paulo ainda fala que tais comportamentos entristecem a parte mais interessada em nós, o Espírito Santo (Ef 4.30). Depois de falar de entristecer o Espírito Santo, ele volta para os pecados da língua. Desta feita ele menciona seis elementos: 
a) Toda a amargura, diz respeito à língua afiada como uma navalha, vinculada a pessoa que guarda algum rancor ou ressentimento contra o próximo, estando sempre pronto a dar resposta que o fere;

b)
ira, é o ser dominado pela indignação, deixando o coração explodir desgrenhadamente;


c)
cólera, é um intenso antagonismo, expresso por réplicas saturadas de paixão, indicando assim homicídio em potencial (
Mt 5.21,22); 

d)
gritaria, são pessoas que perdem o seu controle e passam agredir outros por meio de gritos;


e)
blasfêmia ou maledicência, é o uso exagerado da língua com intensão de ferir outrem;


f)
malícia, é a perversidade do pensamento voltado para injuriar ao próximo ou causar-lhe prejuízo. 
Paulo conclui dizendo que todas estas coisas “sejam tiradas dentre vós, antes sede uns para com os outros benignos, misericordiosos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo” (v. 31,32).

Que sejamos santos em todo o nosso proceder, conforme Deus é santo (1 Pe 1:16). “Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus” (1 Co 10:31).
REFERÊNCIAS

BOICE, James Montgomery. Fundamentos da fé cristã: um manual de teologia ao alcance de todos. Rio de Janeiro: Centra Gospel, 2011.
HENDRIKSEN, William. Exposição de filipenses. In: Comentário do novo testamento: exposição de efésios e exposição de filipenses. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2 ed. 2004.
WALTEKE, Bruce K. Comentário do Antigo Testamento: provérbios vol. 02. São Paulo: Cultura Cristã, 2011.