A aliança da graça, fundamento da Circuncisão, é também o fundamento do Batismo infantil
Mas a Escritura nos conduz a um maior conhecimento da verdade. Porque é plenamente certo que a aliança que no passado Deus fez com Abraão, declarando-se seu Deus e da sua descendência, não se aplica menos aos cristãos hoje do que se aplicava antigamente ao povo de Israel; e esta palavra não se aplica menos aos cristãos do que no passado se aplicava aos pais do Antigo Testamento. Pois, de outro modo, ocorreria esta conseqüência: A vinda de Cristo teria diminuído a graça e a misericórdia de Deus – mas dizer ou pensar isto seria uma horrenda blasfêmia!
Pois bem, depois que o Senhor estabeleceu esta aliança com Abraão, determinou que a mesma fosse selada nas crianças com o sacramento visível e externo (Gênesis 17.10,12). Que desculpa podemos dar para não testificarmos a aliança e não a selarmos hoje como se fazia naquele tempo? E não vale replicar dizendo que o Senhor não instituiu nenhum outro sacramento para testificar esta aliança, senão o sacramento da Circuncisão, que já foi abolido. É fácil responder a essa objeção. Basta dizer que o Senhor instituiu a Circuncisão naquele tempo para confirmar a Sua aliança, e que, abolida a Circuncisão, continuou e continua sempre de pé a razão pela qual se deve confirmar a aliança, visto que ela atende tanto a nós como no passado aos judeus. E, portanto, devemos observar sempre o que temos em comum com eles, considerando também o que é semelhante e o que é diferente. A aliança é comum a nós e a eles, e o motivo para a sua confirmação é semelhante; a diferença consiste apenas nisto: Eles tinham a Circuncisão para confirmá-la, nós hoje temos o Batismo para esse mesmo fim. De outro modo, a vinda de Cristo teria feito que a misericórdia de Deus se manifestasse menos sobre nós do que o fez para os judeus – se nos fosse tirado o testemunho que eles tinham para os seus filhos.
Se não se pode dizer isso sem fazer grave ultraje a Jesus Cristo, por intermédio de quem a bondade infinita do Senhor foi distribuída e manifestada mais ampla e ricamente que nunca sobre a terra, é necessário conceder que a graça de Deus mediante Jesus Cristo não deve ser mais oculta nem menos segura que o era sob as sombras ou figuras da Lei.
Pois bem, devemos examinar melhor que essa gente a doutrina da Escritura, pois não foi alguma coisa leviana ou superficial que levou Jesus a querer que “os pequeninos” Lhe fossem apresentados; Ele mesmo acrescentou o motivo, dizendo: “Porque dos tais é o reino dos céus”. E logo depois manifestou com atos a Sua vontade, abraçando-os e orando por eles. Agora, se é razoável levar crianças a Jesus Cristo, por que não há de ser lícito recebê-las para o Batismo, que é o sinal exterior pelo qual Jesus Cristo nos declara a comunhão que temos com Ele? Se o reino dos céus lhes pertence, como lhes negar o sinal que nos serve de ingresso na igreja para que, como membros da igreja, sejamos declarados herdeiros do reino de Deus? Não seríamos maus em expulsar aqueles que o Senhor chama a Si? Em negar-lhes o que Ele lhes dá? Em fechar-lhes a porta quando Ele a abre para eles? E se a questão é separar do Batismo aquilo que Jesus Cristo fez, que é que devemos considerar maior e mais importante: o fato de que Jesus recebeu os pequeninos, impôs as mãos sobre eles, sinal de santificação, e orou por eles, demonstrando que eles Lhe pertencem, ou que, pelo Batismo, testifiquemos que eles pertencem à Sua aliança?
As outras cavilações e manobras sutis feitas como meio de escapar da passagem que estamos estudando são por demais frívolas. Claro, pois querer provar que as crianças eram já bem crescidas, visto que Jesus as chamou e lhes disse que viessem a Ele, é argumento que evidentemente repugna ao texto da Escritura, que se refere àquelas crianças chamando-as de “criancinhas de colo” (Lucas 18.15-17), que precisavam ser carregadas. Dessa forma, a palavra “vir” deve ser interpretada como “aproximar-se”, simplesmente. Veja o leitor como os que teimam contra a verdade procuram em cada sílaba matéria para as suas evasivas!
Segunda objeção: Afirmar que Jesus não disse que o reino dos céus pertence às crianças, mas aos que são semelhantes a elas, também é outra escapatória. É o que digo porque, se fosse assim, por que motivo o Senhor haveria de mostrar que
desejava que as criancinhas se aproximassem dele? Quando Ele diz, “Deixai vir a mim os pequeninos”, não há nada que seja mais certo que o fato de que Ele fala de crianças na idade. E para dar a entender que o que faz é razoável, acrescenta:
“Porque dos tais é o reino dos céus”. Nisso as criancinhas na idade estão necessariamente incluídas. E devemos entender a expressão “dos tais” da seguinte maneira: Às crianças e aos que são semelhantes a elas pertence o reino dos céus.
Terceira objeção: Já não pode haver quem não enxergue que o Batismo infantil não foi forjado temerariamente pelos homens, pois ele tem evidente aprovação das Escrituras. E não nos impressiona a objeção feita por alguns, qual seja: Não se pode mostrar pela Escritura que alguma criança foi batizada pelos apóstolos.
Não nos impressiona essa objeção porque, mesmo admitindo a inexistência de algum texto que o demonstre expressamente, não quer dizer que os apóstolos não tenham batizado crianças, visto que elas não são excluídas quando se faz menção de Batismo aplicado a uma família (Atos 16.15,33; 1 Coríntios 1.16). Se fôssemos aceitar esse falso argumento, não poderíamos permitir que as mulheres fossem admitidas à Ceia do Senhor, pois nunca se diz na Escritura que elas tenham comungado no tempo dos apóstolos. Mas neste ponto seguimos a regra da fé, pertinente no caso, só levando em conta se a instituição da Ceia lhes convém, e se é da intenção do Senhor que seja ministrada a elas. É o que também fazemos com relação ao Batismo, tendo em vista o seguinte: Quando consideramos a finalidade para a qual ele foi ordenado e instituído, vemos que este sacramento não pertence menos às crianças que às pessoas de mais idade. Dessa forma, negar o Batismo às crianças seria fraudar a intenção do Senhor. E o que alguns semeiam é pura mentira, quando dizem que só muito tempo depois dos apóstolos é que se introduziu a prática do Batismo infantil. O fato é que não há nenhuma história antiga, desde o tempo da Igreja Primitiva, que não testifique que naquele tempo essa prática já estava em uso.
Mas Deus nos supriu de armas melhores para abater a sua tola arrogância. Porque Ele não deixou Sua vontade tão oculta que não tenha mostrado claramente a utilidade da instituição aqui em apreço. É que o sinal dado aos pequeninos é um selo que confirma e como que ratifica a promessa feita pelo Senhor aos Seus servos de que derramaria a Sua misericórdia não somente sobre eles, mas também sobre a sua descendência, até mil gerações.
Na manifestação da Sua misericórdia, em primeiro lugar é testificada a bondade de Deus para engrandecer e exaltar o Seu nome. Em segundo lugar, para consolar o crente e animá-lo a dedicar-se totalmente a Deus, ao ver que o misericordioso Senhor não cuida somente dele, mas também dos seus filhos e da sua descendência. E não há por que dizer que a promessa seria suficiente para nos dar a certeza da salvação dos nossos filhos pequenos. Porque Deus vê o assunto com outros olhos, pois, sabendo como é fraca a nossa fé, quis fortalecê-laa desta forma.
Portanto, quem descansar confiantemente na promessa de que Deus se dispõe a fazer misericórdia à sua posteridade, deve apresentar seus filhos pequenos para que recebam o sinal da misericórdia divina. E se sentirá consolado e corroborado na fé ao contemplar a olhos vistos a aliança do Senhor sinalizada e selada no corpo dos seus filhinhos.
Este proveito goza a criança batizada: A igreja cristã a reconhece como seu membro e a tem na mais singular estima e consideração. E ela, quando chegar à idade própria, estará mais inclinada a servir ao Senhor, que se havia declarado seu Pai antes de ela o conhecer, e que a tinha recebido nas fileiras do Seu povo desde o ventre de sua mãe.
Finalmente, devemos temer sempre o perigo que nos ameaça, se desprezarmos o privilégio de assinalar os nossos filhos com o selo da aliança, de que o Senhor nos castigue por termos renunciado à bênção que nos é oferecida no Batismo (Gênesis 17.14).
realidade simbolizada é diferente. Em segundo lugar, que na Circuncisão a aliança
é uma e no Batismo é outra. E, em terceiro lugar, afirmam que a palavra “crianças”
deve ser entendida diferentemente.
Acontece que, para provar o primeiro ponto, eles alegam que a Circuncisão era figura da mortificação, não do Batismo, o que concedemos prazerosamente, pois essa interpretação nos favorece. E a verdade é que, para provarmos a nossa posição, não empregamos outras palavras senão estas: A Circuncisão e o Batismo representam igualmente a mortificação. E assim concluímos que o Batismo substituiu a Circuncisão, porque aquele significa para os cristãos a mesma coisa que esta significava para os judeus.
Quanto ao segundo ponto, eles mostram como estão transtornados em seu espírito, pois, com a sua interpretação destroem, não somente uma passagem bíblica, mas toda a Escritura. Porque eles nos apresentam os judeus como um povo carnal e brutal, dizendo que eles só tinham aliança com Deus para a vida temporal, e só tinham Sua promessa para os bens presentes e corruptíveis. Se o que dizem fosse certo, que restaria senão considerar a nação de Israel como uma manada de porcos que o Senhor quis engordar ao máximo para depois deixá-los perecer eternamente? Porque sempre que contestamos os seus argumentos falando da Circuncisão e das promessas que ela representa, eles já têm na ponta da língua a resposta, dizendo que o sinal é literal e que as promessas são carnais.
Agora, como acima expusemos claramente que as promessas destes dois sinais, bem como os mistérios que eles simbolizam, não diferem em nada, não nos deteremos mais demoradamente neste ponto. Tão-somente admoestamos os crentes a que pensem no seguinte: Devemos considerar carnal e literal um sinal quando tudo o que ele contém é espiritual e celestial? Entretanto, como eles citam algumas passagens para nos impressionar com a sua mentira, resolveremos com três palavras as objeções que com relação ao seu segundo argumento eles poderiam apresentar.
Não há dúvida de que as principais promessas que o Senhor fez a Seu povo no Antigo Testamento, as quais constituíram a aliança que Ele fez com os filhos de Israel, eram espirituais e pertinentes à vida eterna, e de igual modo foram entendidas espiritualmente pelos pais, levando-os a conceber a esperança da glória futura e a se sentirem arrebatados de amor por ela. Todavia, não negamos que o Senhor lhes tenha manifestado a Sua bondade por meio de outras promessas, carnais e terrenas, até mesmo para confirmar as promessas espirituais. Vemos exemplo disso no fato de que, depois de haver prometido a bem-aventurança imperecível ao Seu servo Abraão, Deus acrescentou a promessa da terra de Canaã, para lhe manifestar Sua graça e o Seu favor para com ele. Dessa forma devemos entender todas as coisas terrenas prometidas ao povo judeu, notando que a promessa espiritual sempre antecede a terrena, como fundamento e princípio, e como centro referencial de tudo mais.
Linhagem santa – lá e cá
Outra coisa: Assim como os filhos dos judeus eram chamados linhagem santa, porque eram herdeiros da aliança e eram separados dos filhos dos incrédulos e dos idólatras, assim também os filhos dos cristãos são chamados santos, ainda que só o pai ou a mãe seja crente; e o testemunho da Escritura os distingue (1 Coríntios 7.14).Pois bem, depois que o Senhor estabeleceu esta aliança com Abraão, determinou que a mesma fosse selada nas crianças com o sacramento visível e externo (Gênesis 17.10,12). Que desculpa podemos dar para não testificarmos a aliança e não a selarmos hoje como se fazia naquele tempo? E não vale replicar dizendo que o Senhor não instituiu nenhum outro sacramento para testificar esta aliança, senão o sacramento da Circuncisão, que já foi abolido. É fácil responder a essa objeção. Basta dizer que o Senhor instituiu a Circuncisão naquele tempo para confirmar a Sua aliança, e que, abolida a Circuncisão, continuou e continua sempre de pé a razão pela qual se deve confirmar a aliança, visto que ela atende tanto a nós como no passado aos judeus. E, portanto, devemos observar sempre o que temos em comum com eles, considerando também o que é semelhante e o que é diferente. A aliança é comum a nós e a eles, e o motivo para a sua confirmação é semelhante; a diferença consiste apenas nisto: Eles tinham a Circuncisão para confirmá-la, nós hoje temos o Batismo para esse mesmo fim. De outro modo, a vinda de Cristo teria feito que a misericórdia de Deus se manifestasse menos sobre nós do que o fez para os judeus – se nos fosse tirado o testemunho que eles tinham para os seus filhos.
Se não se pode dizer isso sem fazer grave ultraje a Jesus Cristo, por intermédio de quem a bondade infinita do Senhor foi distribuída e manifestada mais ampla e ricamente que nunca sobre a terra, é necessário conceder que a graça de Deus mediante Jesus Cristo não deve ser mais oculta nem menos segura que o era sob as sombras ou figuras da Lei.
Jesus e as crianças
Por essa razão o Senhor Jesus, querendo mostrar que veio a este mundo para aumentar e multiplicar as graças de Seu Pai, e não para diminuí-las e restringi-las, recebeu e abraçou bondosamente as crianças que Lhe foram apresentadas e repreendeu os Seus apóstolos, que queriam impedi-las e procuravam afastar dele, sendo Ele o único caminho de acesso aos céus, aqueles aos quais pertence o reino dos céus (Mateus 19.13-15).Objeções e respostas
Primeira: Mas alguém perguntará: Que semelhança há entre esse abraço de Jesus e o Batismo? Porque a narrativa não diz que as crianças foram batizadas, mas somente que Ele as abraçou e orou por elas. Se quisermos seguir fielmente o exemplo do Senhor, devemos orar pelas crianças, e não batizá-las, pois Ele não as batizou.Pois bem, devemos examinar melhor que essa gente a doutrina da Escritura, pois não foi alguma coisa leviana ou superficial que levou Jesus a querer que “os pequeninos” Lhe fossem apresentados; Ele mesmo acrescentou o motivo, dizendo: “Porque dos tais é o reino dos céus”. E logo depois manifestou com atos a Sua vontade, abraçando-os e orando por eles. Agora, se é razoável levar crianças a Jesus Cristo, por que não há de ser lícito recebê-las para o Batismo, que é o sinal exterior pelo qual Jesus Cristo nos declara a comunhão que temos com Ele? Se o reino dos céus lhes pertence, como lhes negar o sinal que nos serve de ingresso na igreja para que, como membros da igreja, sejamos declarados herdeiros do reino de Deus? Não seríamos maus em expulsar aqueles que o Senhor chama a Si? Em negar-lhes o que Ele lhes dá? Em fechar-lhes a porta quando Ele a abre para eles? E se a questão é separar do Batismo aquilo que Jesus Cristo fez, que é que devemos considerar maior e mais importante: o fato de que Jesus recebeu os pequeninos, impôs as mãos sobre eles, sinal de santificação, e orou por eles, demonstrando que eles Lhe pertencem, ou que, pelo Batismo, testifiquemos que eles pertencem à Sua aliança?
As outras cavilações e manobras sutis feitas como meio de escapar da passagem que estamos estudando são por demais frívolas. Claro, pois querer provar que as crianças eram já bem crescidas, visto que Jesus as chamou e lhes disse que viessem a Ele, é argumento que evidentemente repugna ao texto da Escritura, que se refere àquelas crianças chamando-as de “criancinhas de colo” (Lucas 18.15-17), que precisavam ser carregadas. Dessa forma, a palavra “vir” deve ser interpretada como “aproximar-se”, simplesmente. Veja o leitor como os que teimam contra a verdade procuram em cada sílaba matéria para as suas evasivas!
Segunda objeção: Afirmar que Jesus não disse que o reino dos céus pertence às crianças, mas aos que são semelhantes a elas, também é outra escapatória. É o que digo porque, se fosse assim, por que motivo o Senhor haveria de mostrar que
desejava que as criancinhas se aproximassem dele? Quando Ele diz, “Deixai vir a mim os pequeninos”, não há nada que seja mais certo que o fato de que Ele fala de crianças na idade. E para dar a entender que o que faz é razoável, acrescenta:
“Porque dos tais é o reino dos céus”. Nisso as criancinhas na idade estão necessariamente incluídas. E devemos entender a expressão “dos tais” da seguinte maneira: Às crianças e aos que são semelhantes a elas pertence o reino dos céus.
Terceira objeção: Já não pode haver quem não enxergue que o Batismo infantil não foi forjado temerariamente pelos homens, pois ele tem evidente aprovação das Escrituras. E não nos impressiona a objeção feita por alguns, qual seja: Não se pode mostrar pela Escritura que alguma criança foi batizada pelos apóstolos.
Não nos impressiona essa objeção porque, mesmo admitindo a inexistência de algum texto que o demonstre expressamente, não quer dizer que os apóstolos não tenham batizado crianças, visto que elas não são excluídas quando se faz menção de Batismo aplicado a uma família (Atos 16.15,33; 1 Coríntios 1.16). Se fôssemos aceitar esse falso argumento, não poderíamos permitir que as mulheres fossem admitidas à Ceia do Senhor, pois nunca se diz na Escritura que elas tenham comungado no tempo dos apóstolos. Mas neste ponto seguimos a regra da fé, pertinente no caso, só levando em conta se a instituição da Ceia lhes convém, e se é da intenção do Senhor que seja ministrada a elas. É o que também fazemos com relação ao Batismo, tendo em vista o seguinte: Quando consideramos a finalidade para a qual ele foi ordenado e instituído, vemos que este sacramento não pertence menos às crianças que às pessoas de mais idade. Dessa forma, negar o Batismo às crianças seria fraudar a intenção do Senhor. E o que alguns semeiam é pura mentira, quando dizem que só muito tempo depois dos apóstolos é que se introduziu a prática do Batismo infantil. O fato é que não há nenhuma história antiga, desde o tempo da Igreja Primitiva, que não testifique que naquele tempo essa prática já estava em uso.
Frutos do Batismo infantil
Resta mostrar que proveito recebem os crentes da observância da prática de batizar os seus pequeninos, e que proveito recebem as próprias crianças do Batismo recebido nessa tenra idade. Não faltam os que o rejeitam como inútil e destituído de qualquer importância. Nisso cometem grande abuso. E quando fazem isso, o que de fato estão fazendo é zombar da instituição divina da Circuncisão, que merece igual estima e consideração. Há muitos argumentos com os quais se pode reprimir a temeridade e arrogância com que esses oponentes, tola e irracionalmente, condenam tudo o que não conseguem compreender com o seu entendimento carnal.Mas Deus nos supriu de armas melhores para abater a sua tola arrogância. Porque Ele não deixou Sua vontade tão oculta que não tenha mostrado claramente a utilidade da instituição aqui em apreço. É que o sinal dado aos pequeninos é um selo que confirma e como que ratifica a promessa feita pelo Senhor aos Seus servos de que derramaria a Sua misericórdia não somente sobre eles, mas também sobre a sua descendência, até mil gerações.
Na manifestação da Sua misericórdia, em primeiro lugar é testificada a bondade de Deus para engrandecer e exaltar o Seu nome. Em segundo lugar, para consolar o crente e animá-lo a dedicar-se totalmente a Deus, ao ver que o misericordioso Senhor não cuida somente dele, mas também dos seus filhos e da sua descendência. E não há por que dizer que a promessa seria suficiente para nos dar a certeza da salvação dos nossos filhos pequenos. Porque Deus vê o assunto com outros olhos, pois, sabendo como é fraca a nossa fé, quis fortalecê-laa desta forma.
Portanto, quem descansar confiantemente na promessa de que Deus se dispõe a fazer misericórdia à sua posteridade, deve apresentar seus filhos pequenos para que recebam o sinal da misericórdia divina. E se sentirá consolado e corroborado na fé ao contemplar a olhos vistos a aliança do Senhor sinalizada e selada no corpo dos seus filhinhos.
Este proveito goza a criança batizada: A igreja cristã a reconhece como seu membro e a tem na mais singular estima e consideração. E ela, quando chegar à idade própria, estará mais inclinada a servir ao Senhor, que se havia declarado seu Pai antes de ela o conhecer, e que a tinha recebido nas fileiras do Seu povo desde o ventre de sua mãe.
Finalmente, devemos temer sempre o perigo que nos ameaça, se desprezarmos o privilégio de assinalar os nossos filhos com o selo da aliança, de que o Senhor nos castigue por termos renunciado à bênção que nos é oferecida no Batismo (Gênesis 17.14).
Argumentos dos antipedobatistas
Passemos agora a considerar os argumentos com os quais aquele espírito maligno tem procurado envolver muitos no erro e na ilusão, acobertado pelo pretexto de que quer manter-se fiel à Palavra de Deus. Avaliemos também a força existente em todas as manobras de Satanás, com as quais ele tenta pôr abaixo esta santa ordenança do Senhor que sempre tem sido respeitada e cumprida em Sua igreja como se deve. Vejamos:1º. Não há semelhança entre a Circuncisão e o Batismo
Aqueles que, impelidos pelo Diabo a contradizer a firme e clara Palavra de Deus neste assunto, vendo-se pressionados e persuadidos da semelhança que demonstramos que há entre a Circuncisão e o Batismo, esforçam-se para mostrar que há uma grande diferença entre estes dois símbolos ao ponto de não haver coisa alguma que seja comum a ambos. Em primeiro lugar, eles dizem que arealidade simbolizada é diferente. Em segundo lugar, que na Circuncisão a aliança
é uma e no Batismo é outra. E, em terceiro lugar, afirmam que a palavra “crianças”
deve ser entendida diferentemente.
Acontece que, para provar o primeiro ponto, eles alegam que a Circuncisão era figura da mortificação, não do Batismo, o que concedemos prazerosamente, pois essa interpretação nos favorece. E a verdade é que, para provarmos a nossa posição, não empregamos outras palavras senão estas: A Circuncisão e o Batismo representam igualmente a mortificação. E assim concluímos que o Batismo substituiu a Circuncisão, porque aquele significa para os cristãos a mesma coisa que esta significava para os judeus.
Quanto ao segundo ponto, eles mostram como estão transtornados em seu espírito, pois, com a sua interpretação destroem, não somente uma passagem bíblica, mas toda a Escritura. Porque eles nos apresentam os judeus como um povo carnal e brutal, dizendo que eles só tinham aliança com Deus para a vida temporal, e só tinham Sua promessa para os bens presentes e corruptíveis. Se o que dizem fosse certo, que restaria senão considerar a nação de Israel como uma manada de porcos que o Senhor quis engordar ao máximo para depois deixá-los perecer eternamente? Porque sempre que contestamos os seus argumentos falando da Circuncisão e das promessas que ela representa, eles já têm na ponta da língua a resposta, dizendo que o sinal é literal e que as promessas são carnais.
2º. A Circuncisão era apenas uma representação literal e carnal
O certo é que, se a Circuncisão fosse um sinal literal, também o Batismo o seria. Vê-se isso claramente no que o apóstolo Paulo diz em Colossenses 2:11, onde ele afirma que uma ordenança não é mais espiritual que a outra, uma vez que em Cristo somos circuncidados, não segundo a Circuncisão feita com as mãos, quando fomos despojados de todo o pecado presente em nossa carne, a qual é a Circuncisão de Cristo. Logo após, para esclarecer isso, ele diz: “...tendo sido sepultados, juntamente com ele [com Cristo] no batismo”. Que outra coisa quer dizer essa passagem, senão que o cumprimento do Batismo é o cumprimento da Circuncisão? Porquanto ambos representam a mesma coisa. Porque Paulo quer mostrar que o Batismo é para os cristãos o que a Circuncisão era para os judeus.Agora, como acima expusemos claramente que as promessas destes dois sinais, bem como os mistérios que eles simbolizam, não diferem em nada, não nos deteremos mais demoradamente neste ponto. Tão-somente admoestamos os crentes a que pensem no seguinte: Devemos considerar carnal e literal um sinal quando tudo o que ele contém é espiritual e celestial? Entretanto, como eles citam algumas passagens para nos impressionar com a sua mentira, resolveremos com três palavras as objeções que com relação ao seu segundo argumento eles poderiam apresentar.
Não há dúvida de que as principais promessas que o Senhor fez a Seu povo no Antigo Testamento, as quais constituíram a aliança que Ele fez com os filhos de Israel, eram espirituais e pertinentes à vida eterna, e de igual modo foram entendidas espiritualmente pelos pais, levando-os a conceber a esperança da glória futura e a se sentirem arrebatados de amor por ela. Todavia, não negamos que o Senhor lhes tenha manifestado a Sua bondade por meio de outras promessas, carnais e terrenas, até mesmo para confirmar as promessas espirituais. Vemos exemplo disso no fato de que, depois de haver prometido a bem-aventurança imperecível ao Seu servo Abraão, Deus acrescentou a promessa da terra de Canaã, para lhe manifestar Sua graça e o Seu favor para com ele. Dessa forma devemos entender todas as coisas terrenas prometidas ao povo judeu, notando que a promessa espiritual sempre antecede a terrena, como fundamento e princípio, e como centro referencial de tudo mais.