Texto traduzido do site do autor: (http://www.garynorth.com/freebooks/docs/html/gnbd/appendix_d.htm)
Revisado por: Matheus Henrique Klem Galvez
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E era um o coração e a alma da multidão dos que criam, e ninguém dizia que coisa alguma do que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns.(Atos 4:32).
Disse então Pedro: Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, e retivesses parte do preço da herdade? Guardando-a não ficava para ti? E, vendida, não estava em teu poder? Por que formaste este desígnio em teu coração? Não mentiste aos homens, mas a Deus.(Atos 5:3-4).
A igreja do primeiro século não se opunha à propriedade privada, como as palavras de Pedro indicam claramente. Mas muita prosperidade é uma grande tentação para a maioria das pessoas. Jesus estabeleceu a regra geral: "E, outra vez vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus" (Mateus 19:24). No entanto, essa regra não é absoluta: "Os seus discípulos, ouvindo isto, admiraram-se muito, dizendo: Quem poderá pois salvar-se? E Jesus, olhando para eles, disse-lhes: Aos homens é isso impossível, mas a Deus tudo é possível" (Mateus 19:25-26).
O fator decisivo é o auto-governo pessoal sob a lei de Deus, quer falemos de uma grande riqueza, de grande poder, grande inteligência, beleza, ou qualquer outra bênção em abundância. Os cristãos têm sido suspeitos de terem grande riqueza particular nas mãos de pessoas espiritualmente medíocres. Eles estão conscientes da advertência da aliança de Deus com Israel: cuidado, para que não "digas no teu coração: A minha força, e a fortaleza da minha mão, me adquiriu este poder. Antes te lembrarás do Senhor teu Deus, que ele é o que te dá força para adquirires riqueza; para confirmar a Sua aliança, que jurou a teus pais, como se vê neste dia" (Deuteronômio 8:17-18).
Deus dá aos indivíduos o poder de obterem riqueza. Governos civis devem negar este princípio ao implementarem legislação que deliberadamente reduz esse poder a alguns homens - especificamente, os bem-sucedidos? Com que base bíblica tal legislação poderia ser justificada? Estas são perguntas retóricas. Não há possibilidade de se invocar legitimamente normas judiciais bíblicas para defender o socialismo ou o igualitarismo moderno, isto é, a teologia da libertação "extrema" ou a teologia da libertação "light". As palavras de Pedro para Ananias são judicialmente e eticamente autoritativas. O socialismo é, portanto, uma forma de rebelião ética. É por isso que os teólogos da libertação - para não mencionar os socialistas cristãos confessos -, não começam suas análises ou manifestos com uma exegese detalhada desta passagem.
Até os tempos modernos, a liderança de igrejas ortodoxas firmemente se opuseram ao socialismo. Eles não proclamavam o ideal de capitalismo de livre mercado, mas proclamavam ideais que, eventualmente, produzem capitalismo de livre mercado: a legitimidade da propriedade privada, a mobilidade geográfica para o bem do próprio serviço a Deus (o ideal de missões e da vocação diante de Deus), responsabilidade pessoal, e caridade voluntária para aliviar casos individuais de pobreza. Dentro das igrejas, tem havido ocasionalmente defensores do compulsório socialismo de Estado - distinguido do socialismo voluntário de certas ordens religiosas - mas eles sempre têm sido considerados como hereges pela liderança das igrejas. A marcha da liderança das principais igrejas modernas para a ideologia socialista tem sido acompanhada da sua marcha para fora da ortodoxia teológica. (1)
Deus dá aos indivíduos o poder de obterem riqueza. Governos civis devem negar este princípio ao implementarem legislação que deliberadamente reduz esse poder a alguns homens - especificamente, os bem-sucedidos? Com que base bíblica tal legislação poderia ser justificada? Estas são perguntas retóricas. Não há possibilidade de se invocar legitimamente normas judiciais bíblicas para defender o socialismo ou o igualitarismo moderno, isto é, a teologia da libertação "extrema" ou a teologia da libertação "light". As palavras de Pedro para Ananias são judicialmente e eticamente autoritativas. O socialismo é, portanto, uma forma de rebelião ética. É por isso que os teólogos da libertação - para não mencionar os socialistas cristãos confessos -, não começam suas análises ou manifestos com uma exegese detalhada desta passagem.
Até os tempos modernos, a liderança de igrejas ortodoxas firmemente se opuseram ao socialismo. Eles não proclamavam o ideal de capitalismo de livre mercado, mas proclamavam ideais que, eventualmente, produzem capitalismo de livre mercado: a legitimidade da propriedade privada, a mobilidade geográfica para o bem do próprio serviço a Deus (o ideal de missões e da vocação diante de Deus), responsabilidade pessoal, e caridade voluntária para aliviar casos individuais de pobreza. Dentro das igrejas, tem havido ocasionalmente defensores do compulsório socialismo de Estado - distinguido do socialismo voluntário de certas ordens religiosas - mas eles sempre têm sido considerados como hereges pela liderança das igrejas. A marcha da liderança das principais igrejas modernas para a ideologia socialista tem sido acompanhada da sua marcha para fora da ortodoxia teológica. (1)
"Liberdade, Igualdade, Fraternidade"
Este slogan famoso da Revolução Francesa incorpora o ideal revolucionário do Iluminismo - um ideal de simplicidade radical(2). Estes três ideais podem ser encontrados na Bíblia, juntamente com muitos outros. Destacar estes três ideais como os fundamentos da ordem social é adotar a falácia da simplicidade - o princípio do menor denominador comum(3). Essa falácia sempre tem sido o erro fundamental da teoria econômica socialista: a ideia de que uma economia planificada simples o suficiente para um grupo projetar e executar será suficiente para encaixar as necessidades globais e capacidades produtivas de uma sociedade inteira(4).
Liberdade sob Deus e a lei de Deus tem sido fundamental para o ideal da liberdade ocidental. "A verdade vos libertará" (João 8: 32b) tem sido um princípio orientador do pensamento ocidental desde o início. Cada homem é responsável diante de Deus por seus próprios pensamentos e ações. A liberdade é uma consequência desse alto grau de responsabilidade individual.
Igualdade como um ideal é encontrada na segunda carta de Paulo à igreja de Corinto. "Mas, não digo isto para que os outros tenham alívio, e vós opressão, mas para igualdade; neste tempo presente, a vossa abundância supra a falta dos outros, para que também a sua abundância supra a vossa falta, e haja igualdade;" (II Cor. 8:13-14). O contexto de seus comentários foi a sua angariação de fundos para os cristãos pobres na igreja de Jerusalém (Rm 15:26; I Cor. 16:3). A igreja de Corinto tinha prometido estes fundos um ano antes (II Cor. 16:10-11). Paulo estava lembrando-os sobre esse comprometimento deles de anos - uma prática ainda comum na angariação de fundos cristã. Ele estava os convidando para o sacrifício voluntário, a fim de atender às necessidades de um grupo específico de cristãos pobres. Ele não estava estabelecendo um ideal judicial para a economia política.
Fraternidade é uma implicação inevitável da doutrina da paternidade de Deus. Paulo disse aos atenienses que Deus criou todas as coisas (Atos 17:24); portanto, Ele "E de um só sangue fez toda a geração dos homens, para habitar sobre toda a face da terra, determinando os tempos já dantes ordenados, e os limites da sua habitação;" (Atos 17:26). Mas Deus deserdou os filhos de Adão. A entrada na santa família de Deus está disponível apenas através da adoção por Deus, que predestinou a salvação de cada pessoa resgatada antes da fundação do mundo. "Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor; E nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade,"(Ef. 1: 4-5). Os filhos deserdados de Adão estão fora dos limites judiciais da família adotiva de Deus. Esta teologia da exclusão os enfurece.
Socialismo: Ideal vs. Realidade
Liberdade, igualdade e fraternidade provaram ser ideais socialistas inatingíveis. Em nome da liberdade, estados socialistas têm repetidamente esmagado a liberdade através de impostos, inflação, confisco, e regulação, enquanto simultaneamente criam hierarquias rígidas com base no acesso ao poder e privilégios políticos.
Em nome da igualdade, o socialismo cria novas hierarquias baseadas no acesso ao ofício, em vez de no acesso ao dinheiro. A fracassada experiência russa soviética, assim como a cambaleante experiência chinesa, fornecem abundantes evidências de favoritismo político, especialmente para os familiares de membros do Partido Comunista. Em nome da abolição da propriedade privada, o socialismo cria novas formas de controle sobre a propriedade: segundos lares("dachas") para altos funcionários comunistas; lojas especiais para altos funcionários comunistas que, juntamente com membros de sindicatos criminosos, exclusivamente possuíam a "árdua" moeda corrente (ocidental).
Quanto à fraternidade, as várias irmandades estabelecidas pelos socialistas tem se assemelhado à irmandade de Caim e Abel. Stalin e Trotsky servem como exemplos representativos. (5)
A promessa de igualdade tem se provado o mais poderoso apelo do socialismo. Parte deste apelo tem se baseado em cobiça: o desejo de confiscar a riqueza de outra pessoa a fim de aumentar a minha riqueza. Um impulso muito mais forte tem sido a inveja: o desejo de destruir a riqueza de outra pessoa, mesmo que eu não lucre com este ato destrutivo(6). Não que os eleitores socialistas realmente esperem que os políticos legislem novos códigos fiscais que drasticamente reduzam a carga fiscal dos pobres e da classe média; o que eles querem são códigos fiscais que punam os ricos.
Em nome da igualdade, o socialismo cria novas hierarquias baseadas no acesso ao ofício, em vez de no acesso ao dinheiro. A fracassada experiência russa soviética, assim como a cambaleante experiência chinesa, fornecem abundantes evidências de favoritismo político, especialmente para os familiares de membros do Partido Comunista. Em nome da abolição da propriedade privada, o socialismo cria novas formas de controle sobre a propriedade: segundos lares("dachas") para altos funcionários comunistas; lojas especiais para altos funcionários comunistas que, juntamente com membros de sindicatos criminosos, exclusivamente possuíam a "árdua" moeda corrente (ocidental).
Quanto à fraternidade, as várias irmandades estabelecidas pelos socialistas tem se assemelhado à irmandade de Caim e Abel. Stalin e Trotsky servem como exemplos representativos. (5)
A promessa de igualdade tem se provado o mais poderoso apelo do socialismo. Parte deste apelo tem se baseado em cobiça: o desejo de confiscar a riqueza de outra pessoa a fim de aumentar a minha riqueza. Um impulso muito mais forte tem sido a inveja: o desejo de destruir a riqueza de outra pessoa, mesmo que eu não lucre com este ato destrutivo(6). Não que os eleitores socialistas realmente esperem que os políticos legislem novos códigos fiscais que drasticamente reduzam a carga fiscal dos pobres e da classe média; o que eles querem são códigos fiscais que punam os ricos.
Igualdade perante a lei em um mundo de recursos diferentes - em especial os recursos particulares -, leva à desigualdade de resultados econômicos. Adotando uma analogia reconhecidamente imperfeita do mundo dos esportes - uma estratégia retórica usada por Paulo na ocasião(7) -, se os homens não podem disputar uma corrida com a mesma velocidade, então uma mesma linha de partida, uma pista em linha reta(8) e um início simultâneo vão sempre levar a vencedores e perdedores: a desigualdade de resultados. O socialismo nega a legitimidade da desigualdade de resultados econômicos competitivos, de modo que o socialista deve invocar o poder coercitivo do Estado para acabar com todas as formas de desigualdade baseadas no serviço aos consumidores. A desigualdade perante a lei torna-se o padrão judicial inevitável do socialista.
O socialismo transfere a propriedade de indivíduos, famílias, igrejas e empresas ao Estado. Ele substitui a gestão burocrática por gestão de lucro(9). Ele substitui o planejamento central por grupos de planejamento empresarial, especuladores. Substitui a soberania do Estado pela soberania do consumidor.
Em nome da família do homem, o socialismo mantem guerra contra a família, porque a família da aliança possui uma autoridade judicial independente; ela resiste à absorção no Estado. O socialismo mantem guerra contra a igreja, pela mesma razão. Impostos pesados, isenções especiais, subsídios para aqueles que se conformam publicamente e regulação burocrática são as principais estratégias de conquista do Estado em ambas essas guerras.
O socialismo transfere a propriedade de indivíduos, famílias, igrejas e empresas ao Estado. Ele substitui a gestão burocrática por gestão de lucro(9). Ele substitui o planejamento central por grupos de planejamento empresarial, especuladores. Substitui a soberania do Estado pela soberania do consumidor.
Em nome da família do homem, o socialismo mantem guerra contra a família, porque a família da aliança possui uma autoridade judicial independente; ela resiste à absorção no Estado. O socialismo mantem guerra contra a igreja, pela mesma razão. Impostos pesados, isenções especiais, subsídios para aqueles que se conformam publicamente e regulação burocrática são as principais estratégias de conquista do Estado em ambas essas guerras.
Notas:
1. C. Gregg Singer, The Unholy Alliance (New Rochelle, New York: Arlington House, 1974); Edgar C. Bundy, Collectivism in the Churches (Wheaton, Illinois: Church League of America, 1957).
2. James H. Billington, Fire in the Minds of Men: Origins of the Revolutionary Faith (New York: Basic Books, 1980), p. 4.
3. R. J. Rushdoony, Foundations of Social Order: Studies in the Creeds and Councils of the Early Church (Fairfax, Virginia: Thoburn Press, [1968] 1978), ch. 9: "Constantinople II: The Fallacy of Simplicity."
4. Ibid., p. 97. Cf. F. A. Hayek, Individualism and Economic Order (University of Chicago Press, 1948), ch. 4: "The Use of Knowledge in Society."
5. O carrasco contratado para matar Trotsky por ordem de Stalin usou um machado de gelo. Isso certamente não foi acidental. O machado foi o antigo símbolo da Rússia do domínio do homem sobre a natureza. Também foi usado como uma imagem revolucionária. James H. Billington, The Icon and the Axe: An Interpretive History of Russian Culture (New York: Vintage, 1966), pp 26-28..
6. Helmut Schoeck, Envy: A Theory of Social Behavior (New York: Harcourt, Brace & World, [1966] 1969), pp. 249-51.
7. Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis. "Portanto nós também, pois que estamos rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todo o embaraço, e o pecado que tão de perto nos rodeia, e corramos com paciência a carreira que nos está proposta" (Heb. 12:1).
8. Em uma trajetória curva, os corredores não executam a mesma distância, se a linha de partida for a mesma. Aqueles nas pistas exteriores devem correr mais. Nessas corridas, a linha de partida é escalonada. Semi-socialistas exigem um início escalonado, a fim de manter justa a corrida econômica da vida: a desigualdade econômica no início. Mas só Deus sabe como um começo escalonado deve ser providenciado, já que ninguém exceto Deus sabe o quão longe a linha de chegada é para cada pessoa. Há limites para analogias.
9. Ludwig von Mises, Bureaucracy (Grove City, Pennsylvania: Libertarian Press, [1944] 1983).