Há quem se esforce para ver em Jesus um simples mestre da moral, a personificação das corrompidas virtudes pós-modernas e multiculturalistas e até, nos casos mais amalucados, um revolucionário comunista.
Todas as variações dessa percepção imanentista reduzem o Cristo a um mero exemplo de moralidade, um homem bom que viveu segundo os preceitos deste ou daquele grupo. E, por isso mesmo, nenhuma dessas variações é aceitável — não digo nem mesmo do ponto de vista histórico (onde as evidências contra essas hipóteses são mais do que abundantes), mas do ponto de vista da lógica mais elementar.
Um homem que, sendo somente um homem, dissesse as coisas que Jesus dizia e afirmasse ser Deus não seria um grande mestre da moral ou um exemplo de moralidade; ele seria um lunático ou então um grande charlatão e um grande mentiroso; talvez até um demônio.
Como dizia C. S. Lewis, você pode querer calá-lo por ser um louco, pode cuspir nele e matá-lo como a um demônio; ou pode prostrar-se a seus pés em adoração e chamá-lo de Senhor e de Deus; só não venha, com essa ridícula condescendência paternal, dizer que ele não passava de um grande mestre humano, de um professor brilhante de moral ou de um revolucionário. Ele não nos deixou essa opção, e nem quis deixá-la.
Nenhuma das pessoas que realmente conviveram com Jesus o via dessa forma. Ele não foi tratado como um revolucionário por Pôncio Pilatos; ele não foi tratado como um mestre de moral pelos fariseus; e os samaritanos e os que desejavam levá-lo à Grécia logo se deram conta de que ele não era exatamente um multiculturalista.
Simplesmente não há, no relato dos evangelhos, o registro de alguém que tenha reagido apenas com uma aprovação moderada perante o que Jesus fazia e afirmava. As reações eram sempre de ódio, de escândalo ou de adoração — foi por isso que ele foi crucificado e morto.
Se ele alegava ser Deus e de fato não o era, ele era um lunático. Se ele não era Deus e nem um lunático, então deveria ser um mentiroso; um charlatão a enganar o público com suas mentiras e blasfêmias. Se, porém, ele não era nem charlatão nem lunático, ele só pode ser Deus.
Você tem de escolher entre uma dessas três possibilidades, pois simplesmente não há outra: se você não acredita que ele é Deus, você deve vê-lo com louco ou mentiroso; mas se você não consegue vê-lo nem como louco nem como mentiroso, você tem que reconhecer que ele era o que dizia: o Filho de Deus, o Logos divino, o Verbo que se fez carne, o Cordeiro que tira o pecado do mundo.
A mim me parece um tanto óbvio que ele não era um lunático e nem um charlatão. Portanto, por mais estranho que possa soar à mente pós-moderna, é necessário aceitar que ele era e é Deus, que o reino que ele anunciava e anuncia não é deste mundo, que ele venceu a tentação do poder imanentista quando foi tentado no deserto e que, diante dessas coisas, só um louco ou um charlatão pode reduzi-lo a um mero símbolo a ser instrumentalizado por homens ocos, possessos por ideologias e cheios de ódio à realidade.
Extraído de postagem no perfil do autor (Filipe G. Martins)