Vivemos em meio a uma revolução econômica. O fato de que ela tem nos engolido apenas gradualmente não a torna menos revolucionária. É uma revolução moral do mesmo jeito. Economia é uma questão moral. Não é uma questão sobre a qual os cristãos podem simplesmente concordar em discordar. É incrível a forma como muitos cristãos se opõem ao aborto e ao “casamento” homossexual, mas rejeitam opor-se ao Obamacare e aos programas do estado de bem-estar social. Aparentemente, eles estão dispostos a defender o sexto mandamento (“Não matarás”) e o sétimo (“Não adulterarás”), mas não o oitavo (“Não furtarás”). O roubo não é de algum modo santificado somente porque é praticado pelo Estado ou pelo governo federal. Toda propriedade pertence, em última instância, a Deus, mas a Bíblia claramente exige a inviolabilidade da propriedade individual[1]. A tributação é legítima somente até o ponto em que ela financia o papel legítimo do governo. O problema hoje em dia, como se sabe, é que o governo tem ampliado consideravelmente seu papel e, portanto, extraído – quer dizer, roubado – dinheiro para sustentar-se.
Na medida em que nossa cultura se torna mais secular, ela se torna mais socialista. O socialismo é uma forma de providência secular. Quando já não confiamos mais que Deus nos supre, voltamo-nos para o Estado como a nossa divindade toda-suficiente[2]. É por isso que sociedades cada vez mais seculares são sempre sociedades cada vez mais socialistas, por mais que nossos amigos libertários seculares se ofendam com esse fato. A secularização da sociedade não produz a sociedade secular do livre-mercado imaginada por pessoas como Ayn Rand. Ela produz a sociedade socialista mais próxima a tipos como Karl Marx.
Mas há um custo moral da regulagem econômica não menos repulsivo do que o roubo estatal: a busca da utopia[3]. Os esquerdistas parecem sempre ocupados com a arrecadação fiscal coercitiva a fim de criar uma sociedade justa ou igual (de acordo com a definição deles, claro). Alguns cidadãos são muito ricos; outros, muito pobres, e a função do Estado é criar uma igualdade maior. Este é o princípio fundamental do marxismo ateu no qual até mesmo cristãos professos (como Jim Wallis e Sojourners) têm investido. É uma forma de regulagem econômica que a Bíblia proíbe. E ela tem custos, e com isso eu não me refiro principalmente ao custo para pessoas que dão duro e têm de entregar seu dinheiro suado ao governo para ser usado por burocratas elitistas. O problema é ainda mais profundo do que isso.
O livro de Angelo Codevilla, The Character of Nations, mostra que as leis e costumes de uma nação tendem a criar (ao longo do tempo) um tipo peculiar de cidadão. Ele demonstrou, apresentando fatos, que as pessoas na União Soviética, por exemplo, tinham aspirações, comportamento e hábitos diferentes dos americanos. Esta não é uma questão racial, mas cultural. As leis e costumes dos Estados Unidos incentivavam e desincentivavam formas de comportamento diferentes daquelas que os diversos tipos de leis faziam na União Soviética. A cultura soviética criou um tipo diferente de ser humano. Ao longo do tempo, o comportamento instilado por um governo fica enraizado em uma cultura.
A regulagem econômica nos Estados Unidos, hoje em dia, está criando, gradualmente, um novo tipo de indivíduo. Este indivíduo, desde sua infância, sente-se no direito a um certo estilo de vida, a um nível específico de educação e a uma qualidade especial de assistência médica. Em gerações anteriores, dentro de uma cultura cristã, entendia-se que esses prazeres de vida eram recompensas do investimento diligente e criterioso. Hoje, contudo, tais prazeres têm sido reduzidos a benefícios sociais; o trabalho duro e o investimento criterioso têm sido retirados da equação. Uma vez que a regulagem econômica cumpriu esses benefícios, por ora, de qualquer modo, os indivíduos passam a contar com ela. A regulagem econômica criou um novo tipo de indivíduo, alguém para quem a sabedoria, a inteligência, a gratificação adiada, o orgulho de ser proprietário e a preocupação com as gerações futuras são praticamente irrelevantes. E fácil culpar os jovens na casa dos vinte anos que se recusam a deixar a casa de seus pais e arranjar um trabalho para sustentarem-se, embora esperem TV a cabo, Internet e ingressos grátis para o mais novo show do Coldplay. Sim, eles possuem a sua parcela de responsabilidade. Mas maior parte da culpa deve ser lançada aos pés da nossa cultura e seu governo: a regulagem econômica está envolvida na criação desses jovens.
Sugiro, portanto, que o custo mais pernicioso da regulagem econômica não é a estagnação econômica, que é de fato opressiva, mas a estagnação ontológica - em outras palavras, essa política, ao longo do tempo, cria um tipo de indivíduo diferente e moralmente inferior.
Extraído de:
https://politicareformada.wordpress.com/2017/04/10/o-custo-cultural-da-regulagem-economica/
Fonte original: Blog do P. Andrew Sandlin.
Tradução de Leonardo Bruno Galdino.
[1] John M. Frame, The Doctrine of the Christian Life (Phillipsburg, New Jersey: P & R Publishing, 2008), 797–798.
[2] P. Andrew Sandlin, Economic Atheism (Mount Hermon, California: Center for Cultural Leadership, 2011), 7–12.
[3] Thomas Molnar, Utopia, The Perennial Heresy (New York: Sheed & Ward, 1967).