Olhai este chapéu, habitantes de Uri!Vamos colocá-lo em uma alta coluna,No centro de Altorf e no ponto mais alto,E esta é a vontade e a intenção do alcaide:Deveis homenagear o chapéu como se fosse ele próprio.Fazei-lhe a saudação com os joelhos dobradosE a cabeça descoberta... E assimO rei saberá quais são os seus fiéis súditosPerderá a liberdade e os bensEm favor do rei, o que a ordem desprezar
Esse é um trecho da peça "Guilherme Tell" (Wilhelm Tell), escrita em 1804 por Johann Christoph Friedrich von Schiller. Ela remete ao consagrado personagem suíço, tratado como cidadão real por alguns e como um mito por outros.
Conta-se nessa história que um governante austro-húngaro almejava testar a lealdade do povo sob seu domínio e mandou pendurar sobre um poste um chapéu, exigindo que todos que passassem pelo local saudassem o chapéu , inclusive se ajoelhando perante ele. O chapéu era guardado por soldados que confirmavam se as ordens do imperador estavam sendo cumpridas.
(imagem meramente ilustrativa)
Passando por lá, Gulherme Tell e seu filho não saudaram o chapéu conforme proposto e por isso Guilherme foi preso e levado ao governante. Este o reconheceu, por ser um exímio manejador da besta (arma medieval similar ao arco e flecha, porém dispostos horizontalmente e possuindo gatilho) e, para expô-lo, ameaçou matar pai e filho, caso Guilherme se recusasse a disparar com a besta e acertar uma maçã sobre a cabeça de seu filho.
(imagem meramente ilustrativa)
Preciso, Guilherme foi capaz de acertar a maçã sem gerar qualquer ferimento em seu filho, o que levou todos a saudarem sua grande habilidade. Mas conta-se que ele possuía ainda uma flecha reserva, destinada ao imperador caso ele errasse no primeiro tiro e acabasse atingindo seu filho.....
Há mais detalhes que poderiam ser apresentados, mas me interessa no momento ressaltar o direito à liberdade de consciência.
Para parte dos habitantes talvez não fosse tão penoso ou mesmo significativo se ajoelhar perante um chapéu, mas para Guilherme sim. Em um contexto de voluntariedade talvez fosse algo mais aceitável como um ato de respeito, mas em um contexto de imposição, tal ato torna-se prova de submissão.
Na bíblia há um relato similar em muitos aspectos. Em Daniel 3 lemos a história de Hananias, Misael e Azarias (chamados por seus nomes babilônicos respectivamente de Sadraque, Mesaque e Abednego), três judeus que se negaram a se curvar para a estátua de ouro do rei Nabucodonosor:
Na bíblia há um relato similar em muitos aspectos. Em Daniel 3 lemos a história de Hananias, Misael e Azarias (chamados por seus nomes babilônicos respectivamente de Sadraque, Mesaque e Abednego), três judeus que se negaram a se curvar para a estátua de ouro do rei Nabucodonosor:
Nabucodonosor lhes disse:
"É verdade, Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, que vocês não prestam culto aos meus deuses nem adoram a imagem de ouro que mandei erguer? Agora, porém, quando vocês ouvirem o som da trombeta, do pífaro, da cítara, da harpa, do saltério, da flauta dupla e de toda espécie de música, se vocês se dispuserem a prostrar-se em terra e a adorar a imagem que eu fiz, será melhor para vocês. Mas, se não a adorarem, serão imediatamente atirados numa fornalha em chamas. E que deus poderá livrá-los das minhas mãos? "Sadraque, Mesaque e Abede-Nego responderam ao rei:
"Ó Nabucodonosor, não precisamos defender-nos diante de ti.Se formos atirados na fornalha em chamas, o Deus a quem prestamos culto pode livrar-nos, e ele nos livrará das suas mãos, ó rei.Mas, se ele não nos livrar, saiba, ó rei, que não prestaremos culto aos seus deuses nem adoraremos a imagem de ouro que mandaste erguer".(Daniel 3:14-18)
Diferentemente do ultimato dado pelo imperador a Guilherme Tell, eles não tiveram a chance de evitar a condenação através de algum tipo de teste, pelo contrário, foram intimados novamente e tiveram sua pena aumentada por se negarem perante o próprio rei (a fornalha foi aquecida 7 vezes mais - Daniel 3:19).
Para aqueles judeus estava claro que não deveriam sequer preferir preservar as próprias vidas em troca de prestar adoração a outro que não o Único Deus. Estavam dispostos a entregarem suas vidas, crendo que poderiam ser salvos (como o foram - Daniel 3:19-30), mas que deveriam agir assim mesmo que isso os levasse à morte.
Essa consciência estava atrelada ao cumprimento da Lei de Deus, à forte convicção de que não deveria colocar quem quer que seja no lugar de Deus, ou seja, estariam cometendo idolatria. Na prática aplicaram aquilo que os apóstolos viriam a afirmar séculos e séculos depois: É preciso obedecer antes a Deus do que aos homens! (Atos 5:29).
Falando em apóstolos, eles tiveram que vivenciar um contexto em que os grandes imperadores romanos eram tidos como deuses, e por isso mesmo os cristãos eram perseguidos e mortos ao recusarem a adoração a eles. O primeiro capítulo do livro de Romanos relata claramente como as criaturas passaram a adorar outras criaturas ao invés do Criador....
Hoje em dia situações como essas, claramente opressoras e vindas de autoridades, parecem menos comuns (com exceção de alguns regimes ainda vigentes), mas pensar que não existe pressão para imposições sociais de uma forma "globalizada" é uma grande ilusão.
Poderia aqui citar a forma como muitas autoridades tem conduzido países, estados e cidades nesse período de pandemia, mas esse é um tema mais complexo que exigiria uma atenção mais cuidadosa, então menciono dois casos muito evidentes em que há uma tentativa de imposição social, por meio das grandes mídias:
Vidas Negras Importam
O movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam) obteve reconhecimento mundial devido à sua pauta de defesa dos direitos das pessoas negras, sendo divulgado e apoiado pelas principais mídias, mesmo com seu modus operandi violento. A alegação é que a sociedade deve restituir aos negros tudo aquilo que historicamente lhes foi retirado, mas até por se tratar de algo tão subjetivo, ficam claros os abusos e distorções feitos pelos apoiadores desse movimento.
Para textos neste blog sobre a questão racial, veja:
Mas como eu disse, as grandes mídias elevaram o alcance do movimento, ao ponto de vermos até mesmo em eventos esportivos gestos de apoio. Como exemplo, temos o caso da Eurocopa 2020 (disputada em 2021 devido à pandemia), em que jogadores de muitas das seleções escolheram se ajoelhar antes das partidas, em forma de protesto contra o racismo. Mas seleções como a da Croácia e a da Hungria se recusaram a repetir o gesto, alegando, respectivamente, que ele não teria representatividade no contexto cultural do país e que esse seria um ato político (algo que os próprios regulamentos da Federação Internacional de Futebol Associação e da União das Federações Europeias de Futebol proíbem).
Leia mais:
Nesse caso não há imposição legal para as seleções, mas o ato de rejeição se torna malvisto, como se os jogadores desses países (e aí pode-se entender até aos habitantes dos países que representam) fossem racistas.
Em outras palavras, aqueles que "não se solidarizam" (aqui entra a distorção) com as vítimas das constantes opressões são tidos como monstros. Levanta-se aqui um "dever moral" de demonstrar apoio a grupos minoritários e suas causas. Mas mais que isso, busca-se "santificar" os grupos, colocando seus supostos opressores como vilões definitivos, e distorce-se o correto ensino sobre caridade e honra ao próximo ao excluir-se a voluntariedade da conta.
Bandeira LGBTI+
Um outro fato curioso observado nos últimos anos é o número crescente de empresas que assimilam em seus logotipos as cores da bandeira do movimento LGBTI+ (perdoem se errei a sigla mas não dá pra acompanhar tanta mudança...).
Esse tema também exigiria um cuidado maior pra tratar das diversas nuances, mas é óbvio e evidente o poder midiático que esse movimento tem, a ponto de empresas preferirem rechaçar supostos clientes que não aprovam a prática homossexual em vista de fortalecer o discurso a favor dessa causa (e evitar os tais "cancelamentos").
Recentemente uma rede de fast-food divulgou uma propaganda em que crianças são colocadas para "explicarem" o tema para outras crianças (supostamente as que vissem o vídeo). O comercial não fala dos produtos alimentícios que a empresa produz, foca tão somente na "doutrinação" da causa. E na página da empresa em uma rede social era possível ver o seu moderador usando linguajar de desprezo contra qualquer pessoa que discordasse dessa abordagem.
Consequências:
Vejam que nesse contexto a punição não é a morte para os que se recusam a seguir essas ideias, mas há um mal comum que vem como consequência: o "cancelamento".
Ou seja, se não é possível punir alguém (A-I-N-D-A) por não seguir essa cartilha à risca, o meio comum incentivado por influenciadores é o de desmoralizar e inviabilizar ao máximo a vida da pessoa. Com "inviabilizar a vida" me refiro a ações organizadas de boicotes, que podem fazer com tal pessoa perca emprego, parcerias comerciais, etc.). É como se fizessem uma tatuagem na testa do "intolerante" para que fosse tratado como um leproso dos tempos do antigo testamento, sendo isolado...
Por isso mesmo que muitos "afinam", invertendo a prioridade de Atos 5:29 (citado anteriormente).
O que fazer??
O que fazer??
Conforme demonstrado no início, Guilherme Tell, Hananias, Misael e Azarias escolheram o caminho mais difícil, não venderam suas consciências, correndo o risco de morte. Os croatas e húngaros não se renderam ao politicamente correto e são tratados como extremistas. E cristãos que tem se posicionado contra a imposição midiática da cartilha progressista são vítimas constantes de ataques diversos.
Esse é o preço pesado de seguir o caminho correto, o caminho estreito. E essa resistência à perversão da Verdade não é desprezada pelo Criador (I Coríntios 15:58).
Que Ele nos dê força para não nos conformarmos a esse mundo mal (Romanos 12:1-2) e que nos tire a covardia que nos leva à invenção de diversas desculpas que nos acomodam, incluindo a ênfase na situação "caótica" do mundo como sendo obra do diabo e o desprezo prático à Soberania de Deus, ignorando-se também a vitória prometida da Igreja sobre as portas do inferno (Mateus 16:18-20).
E que misericordiosamente Ele tire dos cargos eclesiásticos aqueles que trabalham para o inimigo, distorcendo a verdade bíblica nas pregações ou fora dos momentos de cultos, por ignorância ou desfaçatez.
Amém.