A Comissão Executiva
do Supremo Concílio da IPB, por ocasião de sua reunião ordinária em março de
2008, entendeu que havia necessidade de um pronunciamento da denominação a seus
concílios, igrejas e membros, que abordasse de maneira pastoral alguns aspectos
do culto a Deus que recentemente haviam sido objeto de documentos oriundos de
seus concílios.
Esses documentos
expressavam o desejo dos concílios de receber uma orientação denominacional
acerca da inclusão nos cultos da chamada dança litúrgica, coreografias e
palmas.
Com o objetivo de
elaborar uma carta pastoral que tratasse destes itens, a Comissão Executiva de
2008 constituiu uma comissão especial e lhe deu a seguinte missão:
Elaborar texto de caráter
pastoral e teológico quanto à liturgia, observando inclusive: danças,
coreografias, expressões fortes e palmas, seguindo os princípios já
estabelecidos pelos Símbolos de Fé e das decisões do SC e da sua CE, inclusa a
decisão CLXXXVII - CE-SC/IPB-2007, prestando relatório ao Supremo Concílio em
sua próxima reunião ordinária.
Conforme se percebe
pela decisão acima, a comissão especial para elaborar a Carta Pastoral não tem
como objetivo propor ou estabelecer novos princípios ou normas litúrgicas no
âmbito da IPB, uma vez que nossa denominação é confessional e sua Confissão,
Catecismos e Princípios de Liturgia já tratam do culto a Deus em diversas
partes. O alvo da Carta Pastoral não poderia ser outro senão, partindo dos
nossos Símbolos de Fé e das decisões que a IPB já tomou sobre culto e liturgia,
tratar de maneira pastoral e teológica daquelas áreas referentes ao culto
determinadas pela CE-SC/IPB, nas quais os Símbolos de Fé não se pronunciam, por
não terem sido motivo de preocupação na época em que foram escritos.
O objetivo da
presente Carta Pastoral, portanto, uma vez aprovada pelo Supremo Concílio da
IPB, é servir de
orientação, instrução e direcionamento às igrejas federadas, aos oficiais e aos
membros arrolados quanto às expressões físicas no culto, a saber, danças,
coreografias, expressões fortes e palmas.
Um texto
denominacional dessa natureza se faz necessário pela confusão atual existente
em diversas igrejas e concílios no que tange a tais assuntos. A Igreja Presbiteriana do Brasil é uma
federação de igrejas relacionadas entre si hierarquicamente por meio de
concílios e que adota os mesmos Símbolos de Fé. Embora não se busque a
uniformidade absoluta nos cultos das igrejas locais, tendo em vista que as
Escrituras nos dão princípios de culto e não uma ordem litúrgica
pré-estabelecida, é desejável, todavia, a busca e a manutenção da unidade
tão necessária para preservar a identidade bíblica e denominacional. Além do
mais, existe a necessidade de se fundamentar bíblica e teologicamente as
decisões nessa direção, bem como empregar-se um tom pastoral.
É na expectativa de
contribuir para um melhor entendimento destas questões e a busca constante de
oferecer a Deus um culto que esteja em conformidade com sua Palavra que
apresentamos esta Carta Pastoral.
A COMISSÃO
Rev. Augustus
Nicodemus Gomes Lopes
Rev. Arival Dias
Casimiro
Rev. Charles Melo de
Oliveira
Rev. Cleômines
Anacleto Figueiredo
Rev. Itamar Bezerra
Santana
Rev. Jeremias Pereira
da Silva
Rev. Roberto
Brasileiro Silva
Rev. Sirgisberto
Queiroga da Costa
Presb. Daniel
Sacramento Presb. Flávio Heringer
Presb. Flávio
Monteiro de Melo
Presb. Renato José
Piragibe
São Paulo, 4 de
janeiro de 2010
SUMÁRIO
1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
Tipos de culto
Vida cristã e culto público
O templo
A igreja como comunidade social
Culto e cultura
2. O CULTO PÚBLICO
O princípio regulador do culto
Elementos de culto
As circunstâncias do culto
Mudanças históricas nos cultos
Princípios do culto aceitável a Deus
A responsabilidade pela condução do culto
3. EXPRESSÕES CORPORAIS
NO CULTO
Danças litúrgicas e coreografiasFortes expressões corporais
Palmas
Aplausos
4. ORIENTAÇÕES
PASTORAIS A SEREM SEGUIDAS PELAS IGREJAS LOCAIS
1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
Em virtude da amplitude e complexidade dos temas propostos, se faz necessário abordar nesta parte preliminar da Carta alguns temas que provêem o fundamento para o tratamento dos pontos centrais.
TIPOS DE CULTO
Existe uma distinção entre a vida cristã como culto constante a Deus (Dt 6.6-7; Cl 3.17), o culto individual (Mt 6.6), o culto familiar (Jó 1.5) e o culto público solene (Is 56.7; Hb 10.25). A Confissão de Fé menciona que Deus deve ser adorado tanto em famílias, quanto em secreto, e mais solenemente em assembléias públicas.
1 Os Princípios de
Liturgia seguem essa distinção, mencionando o culto público, em família e
individual.2
1. CFW, XXI.6.
2. PL, artigos 7-10.
Em diversos aspectos
estas modalidades de culto convergem. Em
todas elas, buscamos servir a Deus de todo o coração, na mediação de Cristo e
no poder do Espírito Santo (lTm 2.5; 1CO3.16;Jo 14.26; 1Jo2.27).
Todavia, as mesmas diferem
quanto às circunstâncias, local, participantes e elementos que as compõem.
VIDA CRISTÃ E CULTO PÚBLICO
A vida cristã é um culto constante a Deus, que é oferecido individualmente, em qualquer tempo e lugar e no qual não é necessário que se exerçam os chamados elementos de culto, como por exemplo, oração, cânticos e leitura da Bíblia.
O culto público é
o ajuntamento solene do povo de Deus, convocado para reunir-se em dia, hora e
local estabelecidos, com o objetivo de prestar serviço espiritual a Deus sob a
liderança de pessoas especialmente designadas para tal. Deste culto constam
elementos que serão abordados mais adiante nesta Carta Pastoral, alguns dos
quais não fazem parte da vida cristã como culto.
É preciso que se
entenda claramente que existe uma diferença fundamental entre nossa vida diária
como culto a Deus e o culto que a ele prestamos publicamente, juntamente com os
demais irmãos em Cristo. Determinadas atividades que seriam pertinentes à nossa
vida como culto não seriam próprias a este culto público.
O TEMPLO
O culto público a Deus pode ser prestado em qualquer local pelo seu povo (Jo 4.21; Ml 1.11), não havendo para isto local mais sagrado que outros, conforme ensina a Confissão:
Agora, sob o
evangelho, nem a oração, nem qualquer outro ato do culto religioso é restrito a
certo lugar, nem se torna mais aceito por causa do lugar em que se ofereça ou
para o qual se dirija, mas, Deus deve ser adorado em todo lugar, em espírito
e verdade. 3
3 CFW, XXI.6.Muito embora nossos PRINCÍPIOS DE LITURGIA se refiram ao templo das igrejas como a casa de Deus (PL, artigo 5), entende-se que não estão com isto emprestando à edificação física onde se reúnem as igrejas locais qualquer conotação sagrada, à semelhança do templo de Jerusalém no Antigo Testamento, local específico da revelação divina e do oferecimento dos sacrifícios.
Apesar disso, as
igrejas locais podem reservar determinados espaços exclusivamente para o culto
público, em nome da conveniência e da propriedade.
O
que caracteriza o culto público não é sua realização num templo, mas a sua
convocação, seu caráter público, a presença dos elementos
que o constituem como culto, bem como sua condução por líderes para isto
separados. Assim, quer seja no templo das igrejas, quer em seus salões
sociais ou acampamentos, ao ar livre ou em instalações quaisquer, onde o povo
de Deus, para isto convocado, se reunir com o propósito específico de cultuar
publicamente a Deus, ali temos um culto
público e solene, o qual deve ser realizado
conforme o ensino das Escrituras.
Ao se buscar um local
para o culto público a Deus, deve-se levar em consideração a conveniência,
propriedade, facilidade, e outras circunstâncias que devem ser analisadas
sempre pelos princípios gerais da Bíblia e pelo bom senso. 4
4 CFW, I.6.
A IGREJA COMO COMUNIDADE SOCIAL
As igrejas locais não são apenas uma expressão visível da Igreja de Cristo. Elas também são comunidades que se organizam socialmente. É admissível que atividades de cunho sociocultural façam parte da vida das igrejas locais, como festividades relativas às datas do calendário público, eventos de lazer e culturais, acampamentos, retiros, formação de grupos por interesse cultural, encontros que visam simplesmente a socialização dos membros, a discussão de temas da atualidade, ou até mesmo atividades que visam proporcionar oportunidades de melhora profissional, como cursos profissionalizantes e de línguas. Outro exemplo são as tradicionais "reuniões sociais", onde ocorrem brincadeiras, danças de roda, encenações, etc.
Assim sendo, é
preciso fazer uma distinção muito clara entre atividades de natureza social e
cultural das igrejas locais e aquilo que se faz no culto público a Deus. Muitas
atividades que são cabíveis, pertinentes e próprias à natureza social das
igrejas locais não devem ter lugar no culto, pois nem são elementos deste e nem
contribuem para que os referidos elementos sejam mais bem utilizados pelo povo
de Deus.
Consequentemente, é
preciso que os pastores e presbíteros das igrejas locais instruam as suas
igrejas acerca desta diferença, de preferência ao início das atividades
sociais, evitando denominar como culto aquelas atividades que não o são de
direito.
CULTO E CULTURA
Entende-se como a cultura de um povo o conjunto de crenças, valores, costumes, práticas, tradições, religiões e símbolos de determinados grupos étnicos. Como tal, a cultura não deve ser percebida como algo moralmente neutro. A queda do homem afetou profundamente todas as dimensões de sua existência. As culturas, embora preservando valores morais e éticos bons por causa da graça comum de Deus, refletem o atual estado do mundo caído e sem Deus, morto em ofensas e pecados e, por natureza, debaixo de sua santa ira e condenação. Muitos aspectos culturais são distorções da revelação natural de Deus (Rm 1.18-31).
Por esse motivo,
costumes e hábitos de um povo não devem ser tomados como critérios e
referenciais daquele culto que Deus revelou e que lhe é agradável,
como por exemplo, as danças religiosas que alguns povos incorporaram de longa
data em suas tradições e expressões religiosas. A Palavra de Deus, e ela somente, é a única regra de fé e prática do
seu povo, e é nela que devemos buscar os princípios e elementos que compõem
o culto que Deus busca.
A luz dos
preliminares acima, voltamo-nos agora para a natureza do culto público cristão.
>>> continua..